Bastaram três episódios, dos 10 da primeira temporada, para eu me apaixonar e recomendar Batman: Cruzado Encapuzado (Batman: Caped Crusader, 2024), série de animação que estreou nesta quinta-feira (1º) no Amazon Prime Video.
Para ser sincero, eu já estava previamente apaixonado. Afinal, trata-se de uma espécie de sucessor espiritual da sensacional Batman: A Série Animada (1992-1995), que foi criada por Bruce Timm e Eric Radomski e atualmente tem seus 65 episódios disponíveis no Prime Video e na Netflix. Timm desenvolveu Cruzado Encapuzado e assina a produção executiva ao lado de nomes como Matt Reeves, o diretor do Batman (2022) protagonizado por Robert Pattinson, J.J. Abrams, um dos pais de dois seriados marcantes, Felicity (1998-2002, com o próprio Reeves) e Lost (2004-2010), e Ed Brubaker, o grande autor de quadrinhos sobre criminosos e inspirados no cinema noir (com o artista Sean Phillips, lançou títulos como Criminal, Matar ou Morrer e Fade Out).
Os créditos de abertura de Cruzado Encapuzado evidenciam inspiração no noir — na fotografia em preto e branco, nos letreiros, na trilha sonora. A nova série lembra Batman: A Série Animada na duração dos episódios (25 minutos), na ambientação (uma Gotham City com prédios, figurinos e carros que remetem aos anos 1940) e no tom das aventuras (que misturam ameaças mortais com personagens cartunescos, cenas de ação com drama psicológico).
Mas há diferenças importantes. A nova série foca na juventude de Bruce Wayne (dublado pelo ator Hamish Linklater, da minissérie Missa da Meia-Noite), em seus primeiros anos como Batman. Daí que o uniforme não traga a elipse amarela em torno do símbolo do morcego e que o capuz tenha orelhas mais pontudas — como era o visual do super-herói no seu nascimento nos quadrinhos, em 1939, pelas mãos do roteirista Bill Finger e do desenhista Bob Kane. Da mesma forma, o mordomo Alfred é chamado pelo sobrenome, Pennyworth, e é uma figura roliça, como visto nos gibis iniciais, antes de o seriado cinematográfico de 1943 trocar e firmar a sua caracterização.
O contexto atual, de inclusão social e valorização da diversidade, estimulou adaptações, reinvenções, transformações. O comissário James Gordon agora é negro, o Pinguim virou uma mulher, Oswalda Cobblepot (voz da atriz Minnie Driver, indicada ao Oscar de coadjuvante por Gênio Indomável), e a psiquiatra Harleen Quinzel, a vilã Arlequina, deixou de ser uma loira para se tornar uma personagem de origem oriental, dublada pela atriz de ascendência coreana Jamie Chung. Advogada de defesa em sua nova encarnação, Barbara Gordon ganhou mais protagonismo. Aliás, Batman está literalmente nas sombras, cedendo espaço generoso para os coadjuvantes, como policiais corruptos, famílias mafiosas e o ambicioso e arrogante promotor Harvey Dent (voz de Diedrich Baber), o futuro Duas Caras.
Nos três primeiros episódios, conhecemos as novas versões de três vilões clássicos. A Pinguim aparece na estreia. O segundo, que tem como pano de fundo o mundo do cinema, apresenta o Cara de Barro. E Selina Kyle, a Mulher-Gato (dublada por Christina Ricci), estrela o terceiro. Estou curioso para ver o novo Coringa e que outros personagens serão reimaginados.