Uma das grandes surpresas de Os Outros, série original do Globoplay, foi a atuação de Eduardo Sterblitch. Na pele do implacável vilão Sérgio, o ator mostrou para o grande público a sua versatilidade também para o drama. É uma faceta distante — mas nem tanto — dos papéis cômicos pelos quais ficou amplamente conhecido.
Com a segunda temporada, que estreia nesta quinta-feira (15), o personagem de Sterblitch ganha mais tempo de tela. O artista, assim, ganha status de protagonista de um dos fenômenos recentes de popularidade da plataforma.
Em conversa com Zero Hora, o ator explicou a composição de Sérgio e o porquê de o vilão inescrupuloso ter caído nas graças do público — que amou odiar o personagem:
— Acredito que o pessoal teme o Sérgio porque se vê nele. E o mais difícil e o mais interessante de fazer um personagem neste estilo é que as pessoas têm inveja de quem é livre. Ele é um cara que, por mais que não tenha um caráter admirável, bota inveja em todo mundo porque é uma pessoa de verdade. Ele é ele mesmo.
Segundo o ator, Sérgio é um personagem que tem noção real da sociedade e que se coloca acima das instituições, sem ligar para elas — tanto é que era policial na primeira temporada e, agora no novo ano, tornou-se vereador, unicamente para se aproveitar destas ferramentas para benefício próprio.
No primeiro episódio do novo ano, ao qual a reportagem teve acesso antecipadamente, é possível perceber que Sterblitch está mais à vontade com a personalidade de Sérgio — que foi sendo construída aos poucos na temporada passada, revelando em doses o (mau) caráter do personagem. Com este conforto no papel, o astro transita entre a comicidade e a maldade.
— As pessoas mais perigosas são as mais engraçadas. Tanto é que os vilões mais famosos são os de desenho, personagens de mentira, exagerados. Eles são os mais temidos, os mais perigosos. A comédia sempre ajuda a você conseguir falar coisas muito sérias de forma que não seja tão sublinhada, porque o comediante não pode ter pudor, assim como o vilão. Então, essa falta de pudor do comediante e do vilão aproxima essas duas figuras — acredita Sterblitch.
Trama do absurdo
Os Outros volta com a sua segunda temporada da seguinte forma: em 15 e 22 de agosto, serão liberados três episódios a cada dia. Nas quintas-feiras seguintes, 29 de agosto, 5 e 12 de setembro, serão disponibilizados mais dois cada, totalizando 12 capítulos, tal qual o ano anterior.
A série está planejada pelo autor Lucas Paraizo para ser uma trilogia antológica — a última parte já está sendo trabalhada pelo criador.
Neste segundo ano, o conflito começa novamente por algo banal: uma árvore que é cortada por um vizinho e isso incomoda o outro. A partir disso, os problemas vão escalonando até chegar em um ponto irreversível, mostrando que a violência do dia a dia, caso não seja freada, só vai crescendo.
— A gente vai muito no limite do absurdo. A série joga uma lente de aumento em algumas situações. Às vezes, distorce algumas coisas, para que a gente consiga ter um distanciamento crítico. A diferença entre a primeira e a segunda temporada está em duas camadas: a primeira é que precisamos dar respostas. Plantamos, na série, uma pergunta: "Onde está o Marcinho?". Mas, ao mesmo tempo, enquanto antologia, ela precisa começar uma nova história, por um problema banal novamente. Então, é junção dessas duas coisas — conta Paraizo.
Já a diretora artística da série, Luisa Lima, explica que este novo ano de Os Outros vai se aprofundar mais nos gêneros, explorando um novo condomínio e também novos temas — a religião é um deles, com grande destaque já no primeiro episódio. A ideia, ao abordar estes temas cotidianos, é conversar com a realidade, por mais absurda que ela possa ser.
— O suspense fica ainda maior nesta segunda temporada. E chegar a um exagero inverossímil é tudo o que a gente não quer. A gente trabalha com muita consistência, tanto na dramaturgia quanto no conceito e na construção dos personagens, dando várias facetas, partindo do estereótipo para atravessar esse portal e ver como é cheia de ambiguidades a existência humana e essa existência diante de um contexto social. Quando a gente fala desses personagens dentro deste condomínio, estamos sempre lembrando que a gente está falando de um microcosmo da sociedade brasileira — reflete Luisa.
Ela ainda complementa:
— A gente vê o absurdo acontecer e isso traz tons de terror, de suspense, de comicidade. Muitas vezes, a gente ri do absurdo. São várias formas de lidar com o absurdo, que é real e, agora, ficcionalizado. Quando a gente vai um pouco mais para o suspense, que beira ao terror, isso tem mudança de tom. Isso a gente vai ter o tempo todo, para dar conta destes desdobramentos absurdos, mas sempre com muita verdade. Nos importa, sobretudo, que o público veja aquilo e sinta a verdade para se perturbar, para se incomodar, para se identificar, para se questionar, para gerar afeto. É tudo o que a gente deseja.