Lançada em 1998 pela HBO, Sex and the City foi um sucesso entre o público jovem na virada do milênio, muito por conta do seu tom divertido ao contar a história de quatro amigas solteiras de trinta e poucos anos em Nova York, nos Estados Unidos. Agora, mais de duas décadas depois, a série voltou a cativar a audiência.
O Google Trends mostra que, depois que foi adicionada ao catálogo da Netflix, em abril de 2024, Sex and the City atingiu o seu maior interesse digital desde 2010, quando o segundo filme da franquia estreou. Com uma nova geração de espectadores, que vêm divertindo as redes sociais com suas impressões a respeito da trama, o que explica a afeição do público pela série?
GZH reuniu cinco motivos que podem explicar o fenômeno:
O que explica o sucesso de Sex and the City
1. Amizade entre mulheres fortes
As mulheres de Sex and the City têm uma amizade pouco retratada na televisão da época. Carrie, Miranda, Samantha e Charlotte são exemplos de sororidade: se apoiam e torcem umas pelas outras, sem qualquer competitividade feminina estereotipada. Empoderadas, as quatro atravessam os desafios da vida adulta, entre crises de trabalho, de relacionamentos e pessoais, acompanhadas do amor das amigas, com leveza, ironia e humor.
Além disso, mesmo exercendo sua liberdade sexual em muitos dos episódios, as personagens não são retratadas a partir de um olhar fetichista — isso é, não aparecem como objetos sexuais que servem aos homens, sem profundidade de personalidade ou motivação pessoal.
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2. Personagens humanas e acessíveis
As quatro mulheres, de certa forma, representam diferentes aspectos da personalidade humana. Elas são complementares e, por isso, é tão divertido para a audiência brincar com a dúvida: "Sou mais Carrie, Samantha, Miranda ou Charlotte?" — nem que a resposta oscile entre uma e outra, a depender do momento.
Ainda, acompanhamos o desenvolvimento pessoal das personagens a partir de várias escolhas e, principalmente, erros que elas cometem na vida. Para o público, a imperfeição do grupo de amigas facilita a identificação.
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3. Moda icônica
O figurino é um elemento à parte da produção. É impossível desviar o olhar quando uma das protagonistas da série aparece com um look elaborado, sempre de acordo com o estilo pessoal de cada uma.
Como as tendências dos anos 1990 e 2000 têm voltado à moda, itens como tube tops, calças jeans de cintura baixa e shoulder bags não são mais itens nostálgicos, e sim atuais. As personagens se expressam por meio da moda, ainda que possam exagerar na mão consumista.
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4. Referências de outro mundo
Sex and the City serve como um retrato do seu tempo. Entre 1998 e 2004, período em que a série foi produzida, os computadores recém chegavam às casas e os smartphones ainda não existiam. Inclusive, acompanhamos o momento em que Carrie envia seu primeiro e-mail, espantada.
A suposta simplicidade que a era da informação traz, no sentido de facilitar a comunicação e diminuir as distâncias, muitas vezes acaba complicando as relações humanas. Para a geração Z, que era criança nos anos 2000, o mundo sem celulares, juntamente à estética Y2K, gera um sentimento de nostalgia e conforto por conta do que, para essa faixa etária, eram os "tempos mais simples".
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5. Debate de gênero
A série trata de quatro mulheres com carreiras de sucesso, reconhecidas em suas áreas e com independência financeira. A prioridade que as personagens dão à vida profissional é notável e admirável pelo público feminino, o qual, historicamente, é ensinado a se dedicar mais aos temas domiciliares.
Proporcionando muito conteúdo à coluna de Carrie sobre sexo e relacionamento no jornal, as protagonistas se envolvem em vários casos românticos, passando por problemas que, mesmo escritos há 26 anos, seguem relevantes atualmente.
Esse contexto traz à tona debates interessantes sobre gênero e sexo. Por um lado, são abordados temas como orgasmo feminino, masturbação, uso de vibradores, problemas no sexo e doenças ginecológicas. Por outro, questões de relacionamento, como o estigma sofrido por mulheres bem-sucedidas nos namoros, a pressão social por filhos e casamento e relacionamentos tóxicos — como o de Carrie e Big, em diversos momentos.
As personagens constantemente questionam qual deve ser o espaço que os homens e relacionamentos devem ocupar na vida delas, uma discussão que já avançou bastante na sociedade, mas segue ecoando. Os personagens masculinos, muitas vezes, são retratados como limitados e caricaturas de seus aspectos problemáticos, da imaturidade à possessividade, cumprindo o papel de alívio cômico da série.
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Envelheceu mal?
A dúvida se uma obra "envelheceu bem" assombra a atualidade. Analisando a série com os olhos de hoje, ficam evidentes várias problemáticas no discurso das personagens e a (falta de) representatividade do elenco.
Por exemplo, no episódio em que Carrie namora um homem bissexual e diz ao grupo de amigas: "Não sei nem se bissexualidade existe. Acho que é só uma escala para virar gay". Ou, então, quando Samantha briga com as garotas de programa transexuais do seu bairro e as personagens brincam que elas seriam "homens metade mulheres". Outro exemplo é o amigo de Carrie que filma as parceiras durante o sexo sem o consentimento delas.
Embora esses episódios causem bastante incômodo para quem assiste atualmente, é possível aproveitar a série a partir de um olhar crítico que entende o contexto histórico e social no qual a produção foi lançada, ainda que com essas importantes ressalvas.