Quando Buba surgiu na televisão brasileira como uma pessoa nascida com ambos os sexos, a reação do público se dividiu entre preconceito e incentivo à moça de temperamento doce que desejava ser mãe. Na nova versão de Renascer, da Globo, em vez de intersexo ou hermafrodita, como se dizia em 1993 mas hoje considerado um termo pejorativo, a personagem é uma mulher transexual.
Antes vivida pela atriz Maria Luísa Mendonça, que estreava em novelas aos 23 anos, Buba agora é papel de Gabriela Medeiros, 22, que na vida real é uma mulher transexual. Segundo o autor da nova versão da história, Bruno Luperi, neto do escritor da trama original, Benedito Ruy Barbosa, a ideia de mudar a personagem foi na intenção de trazer novas perspectivas para a questão da diversidade de gênero.
— A Buba ser uma pessoa intersexo na primeira versão foi um assunto muito bem estabelecido, muito bem colocado e que trouxe muitos avanços. A necessidade de uma nova leitura sobre aquilo, diante do cenário de hoje, na minha concepção, mostrou-se importante. A ideia não foi tirar uma questão, mas adicionar novas camadas e trazer o assunto da diversidade, o assunto de gênero sob uma nova perspectiva que permita que mais discussões sejam feitas — disse Luperi.
Na versão original, a Buba de Maria Luísa Mendonça tinha um ar de mistério e, ao mesmo tempo, era tímida e insegura. Vinda de uma cidade grande para viver em Ilhéus, ela causa fascínio em José Venâncio, na época vivido por Taumaturgo Ferreira, terceiro filho do fazendeiro José Inocêncio, papel de Antônio Fagundes. Eles se apaixonam, mas ao revelar para o parceiro que nascera com os dois órgãos sexuais, ele a humilha e volta para a ex, Eliana, interpretada por Patrícia Pillar.
Porém, permanece a paixão de Venâncio pela mulher que ao nascer fora batizada de Alcides e cuja identidade de gênero ele não consegue compreender. O personagem não mede as palavras com Buba e diz coisas que podem magoar, como "se você fosse mulher de verdade" e "você nem sabe se é homem ou mulher".
O sofrimento de Buba virá do fato de não conseguir ser mãe, algo que José Venâncio deseja e o pai dele, José Inocêncio, instiga ainda mais falando para Buba que o neto deverá vir dela. A pressão fará com que ela extrapole os limites. A oportunidade surge quando ela atropela Teca, papel de Paloma Duarte, menina de rua que acaba ajudando e se revela grávida.
— A construção desta personagem foi para um lado muito humano, muito doce. E isso foi pensado para quebrar o preconceito. Tinha um carinho, um cuidado com o tema e com a personagem — lembra Maria Luísa Mendonça em entrevista concedida em 2018.
A atriz também recordou que, embora Buba instigasse o preconceito em parte dos telespectadores, ela também se tornou febre nacional. O jeito romântico de se vestir, com vestidos longos e floridos, inspirou muitas mulheres.
Na trama antiga, José Venâncio morre em uma emboscada. Buba e Teca fazem um acordo para fingir que Buba é quem está grávida e, assim, criar o bebê com dela. As duas vão viver na fazenda de José Inocêncio e ele cria grande afeição por Teca, a quem tratará como neta.
Buba, no entanto, fica cada vez mais atormentada pelas mentiras que criou, insistindo com Teca para irem embora da fazenda antes que a gravidez da menina comece a ficar visível. Teca insiste que não e faz ameaças. Para agravar o conflito emocional da personagem, o cunhado, José Augusto, interpretado por Marco Ricca em 1993, apaixona-se por ela e insiste na relação.
No remake de Luperi, Gabriela Medeiros afirma que procurou manter a personalidade doce da personagem vivida por Maria Luísa Mendonça, uma característica que diz existir em si mesma.
— Eu acho que o que se mantém destas Bubas é a doçura, é a poesia que a Maria Luísa Mendonça trouxe nos anos 1990 e que eu também trago, porque eu sou esta mulher. Então, eu acho que é isso que a gente tem muito em comum, este olhar, esta fala, o toque, o sentimento que se mantém — disse, em entrevista concedida a GZH.