A história de uma das mais famosas narcotraficantes de todos os tempos chega à Netflix nesta quinta-feira (25). A minissérie Griselda é inspirada na vida da colombiana Griselda Blanco, responsável por criar um dos cartéis mais lucrativos da história. E tanto a produção quanto a própria protagonista têm relação com Pablo Escobar, um dos mais famosos nomes do tráfico mundial.
A produção se volta para o ano de 1978, quando a narcotraficante se muda de Medélin, cidade polo da Colômbia para o tráfico de drogas, para Miami, nos Estados Unidos. Por lá, com sua grande capacidade de gestão alinhada com o seu temperamento explosivo, Griselda se destaca entre os chefões do submundo do crime. É uma história digna de cinema — ou, no caso, de uma minissérie.
Abaixo, GZH separou detalhes sobre a vida de Griselda Blanco e, também, curiosidades sobre o título do serviço de streaming, que contará com seis episódios.
A protagonista
A também colombiana Sofia Vergara, conhecida por seu papel em Modern Family (2009-2020), é a atriz principal do projeto e dá vida a Griselda. Para a artista, este foi um grande desafio, uma vez que ela construiu a sua carreira praticamente em comédias. Ela precisou se caracterizar como a narcotraficante, mudando a sua aparência para se aproximar da Griselda real.
A protagonista ainda ressaltou, em material divulgado pela Netflix, que foram seis meses de gravações intensas, trazendo para ela situações nunca antes vivenciadas em sua carreira:
— Eu nunca havia atuado em espanhol nem feito nada que não fosse comédia. Do ponto de vista pessoal, ao fazer algo pela primeira vez, há muita insegurança. Então, estava estressada o tempo todo porque queria dar o meu melhor. E nunca tinha tido tantas falas na vida. Eu estava em todas as cenas. Eu tinha monólogos. Tive que fazer coisas que, como atriz, jamais tinha feito, pois comecei a atuar mais velha, na casa dos 30. Então, foi muito difícil, muito estressante. Mas foi um desafio gostoso no fim das contas.
Narcos
Griselda vem na esteira de produções da Netflix focadas em traficantes latinos, após Narcos (2015-2017) — voltada para Pablo Escobar (Wagner Moura) — e Narcos: México (2018-2021)— que acompanhou a trajetória de Miguel Ángel Félix Gallardo (Diego Luna). E a minissérie, inclusive, traz em sua equipe nomes que atuaram nos dois títulos, como o criador Eric Newman, que atuou como showrunner nas séries citadas, bem como Andrés Baiz, diretor.
Newman, por sinal, espera trazer uma nova abordagem para a história de Griselda Blanco, que já foi personagem de diversas obras. Segundo o criador do programa, existe um padrão em como a trajetória da colombiana é contada, sempre por homens do mesmo ramo ou, então, por quem tentava capturá-la. Ele, então, queria tirar o estigma de que ela era má de verdade, com um grande nível de crítica por parte dos relatos.
— Esse se tornou o ponto de partida da história: uma mulher que era verdadeiramente amada por quem trabalhava para ela, que inspirou uma lealdade enorme. O que descobri no mundo das drogas é que o amor é um motivador da lealdade muito mais eficaz do que o medo. Se as pessoas sentem que há uma conexão com o líder, se elas acreditam nele, se sentem que são cuidadas pelo líder, como Pablo Escobar ou Chapo Guzmán faziam, então, elas serão leais. Griselda tinha essa característica, que foi totalmente apagada em cada aspecto de sua vida — explicou Newman, em material divulgado pela Netflix.
Vale ressaltar que Griselda, mesmo que quase se posicione como uma sequência indireta do universo de Narcos, não seguirá os moldes da franquia. Por ser uma minissérie, terá começo, meio e fim. Ou seja, ainda que sejam semelhantes em vários aspectos, é importante que o público não vá para a produção esperando por uma segunda temporada.
A verdadeira
Nascida em 14 de fevereiro de 1943, na cidade de Cartagena, na Colômbia, Griselda Blanco Restrepo começou cedo no mundo do crime. Ela, que veio de uma família pobre, conviveu desde muito cedo com a criminalidade e com os efeitos da La Violencia, período de guerra civil no país sul-americano entre as décadas de 1940 e 1950.
Foi nessa época em que conheceu Pablo Escobar, que era igualmente humilde, e se tornaram amigos. Segundo um ex-amante de Griselda, Charles Cosby, ela cometeu seu primeiro assassinato aos 11 anos, após sequestrar e matar um garoto de 10 anos vindo de uma família rica. A informação, porém, não foi confirmada.
Griselda passou a juventude entre pequenos assaltos e prostituição, até que passou a se envolver com o tráfico de drogas no início dos anos 1960, criando, em Medelín, uma fábrica de lingeries. Ok, mas como isso se relaciona com o tráfico? Pois bem, as roupas íntimas vinham com compartimentos secretos para que jovens colombianas escondessem drogas em viagens para os Estados Unidos.
Um tempo depois, Griselda se mudou para Miami ao lado do marido e dos três filhos que tinha até então. Por lá, iniciou a sua ascensão no narcotráfico mundial, ganhando fama, principalmente por conta de seu temperamento violento. Foi ela quem idealizou as rotas de drogas vindas da Colômbia. E, assim, montou um império tanto em Miami quanto em Nova York.
Griselda teve alguns apelidos ao longo de sua vida. Um deles foi Viúva Negra, que surgiu porque ela matou dois dos seus primeiros maridos e ainda é suspeita de ter assassinado o terceiro. Ela também era chamada de Madrinha da Cocaína, por conta de sua paixão pelo filme O Poderoso Chefão (1972). Não à toa, seu quarto filho, fruto do relacionamento com seu terceiro marido, foi batizado de Michael Corleone Blanco, baseado no personagem interpretado por Al Pacino no longa. Dos quatro herdeiros da narcotraficante, apenas o que carrega o nome do mafioso da ficção sobreviveu à guerra do tráfico.
Ainda nos anos 1980, o reinado de Griselda começou a ruir. Ela foi presa e cumpriu 19 anos de cárcere. Em 2004, foi deportada para Medelín, onde viveu de forma discreta até setembro de 2012, quando foi assassinada a tiros enquanto fazia compras em um açougue. Ela morreu aos 69 anos. No total, estima-se que a narcotraficante tenha, em seu currículo, mais de 200 assassinatos durante os seus quase 20 anos de reinado.
Polêmica
Michael Corleone Blanco, aliás, processou a Netflix e a atriz colombiana Sofía Vergara que, além de interpretar a traficante, também é produtora-executiva da minissérie. De acordo com o portal TMZ, o filho de Griselda, que é responsável pelos espólios da mãe, não foi procurado pela plataforma de streaming durante o desenvolvimento da produção e tampouco autorizou o uso de imagem de sua progenitora.
— Sofía Vergara não consultou nenhum membro da família Blanco como forma de respeito ou para extrair detalhes antes de interpretar Griselda — disse Elysa Galloway, representante legal de Corleone Blanco, ao site.
Mesmo não havendo necessidade da consulta aos familiares de Griselda, que é uma figura pública, Elysa ainda completou:
— Quando Michael descobriu o projeto, entramos em contato com Sofía e oferecemos os serviços de consultoria. Eles nos convidaram para uma reunião para dizer que não havia espaço para nós. A equipe de Sofía e os produtores foram desrespeitosos e produziram o projeto Griselda para o próprio ganho comercial, sem detalhes-chave da família Blanco.