Na última semana de Vai na Fé, o público já começou a sentir um aperto no coração e aquela saudade antecipada de personagens tão queridos. Houve uma conjunção de fatores que resultou em um dos maiores sucessos dos últimos anos na faixa das 19h: elenco talentoso, pautas relevantes, diversidade, tipos carismáticos... Tudo conspirou para que a novela de Rosane Svartman conquistasse a audiência. A poucas horas do capítulo derradeiro, na noite desta sexta-feira (11), podemos garantir que essa história vai fazer falta na telinha.
Time talentoso
Entre os pontos fortes, o elenco: um misto de talentosos veteranos e jovens promissores. Para alguns, foi o primeiro trabalho de destaque ou mesmo a estreia na telinha. É impossível falar de Vai na Fé sem lembrar dela, Katelícia. Desbocada, sincerona, impulsiva e com uma autoestima nas alturas, ela protagonizou as melhores cenas da trama. Ao longo da história, Kate também mostrou sua fragilidade, em sequências tão difíceis quanto marcantes, confirmando a estreante Clara Moneke como a grande revelação da novela. O romance fofíssimo com Rafa (Caio Manhente) conquistou o público, que torce pela "Brigadeirinha" e pelo "Quindim".
Quem também cresceu ao longo da novela foi Samuel de Assis, intérprete de Ben. Foi fácil amar Benjamin desde o primeiro capítulo. Na virada de chave do personagem, após o acidente, o ator deu ainda mais de si ao papel, demonstrando as incertezas que o assolavam. A cereja do bolo foi a retomada do romance com Sol (Sheron Menezzes).
Destaque ainda para a atriz mirim Manu Estevão, fofíssima como Duda, filha caçula de Sol. No núcleo do Icaes, Jean Paulo Campos, o Yuri, arrasou em seu primeiro trabalho na Globo.
Amamos odiar
Não há perdão para o comportamento de Theo, vilão interpretado por Emilio Dantas. Pai relapso, marido tóxico, amigo invejoso, homem abusador. Por outro lado, só temos elogios para o ator, totalmente entregue a um trabalho que certamente é o mais marcante de sua carreira. Muitos aplausos para Emilio! Para Theo, no entanto, só desejamos a devida punição.
O multiverso de Wilma
Que grande acerto a escalação de Renata Sorrah para viver a atriz decadente Wilma Campos. No mundo paralelo de Vai na Fé, a mãe de Lui Lorenzo (José Loreto) interpretou papéis clássicos da TV, como a Nice de Anjo Mau (1976) e Jô em A Gata Comeu (1985), além de ter perdido as chances de atuar em novelas como O Clone (2001) e Laços de Família (2000). Não houve cena pequena para Wilma, afinal, com Renata em cena, sempre é um acontecimento.
Diversidade
Vai na Fé virou notícia até na imprensa internacional por ter um elenco composto de 70% de atores negros. O Brasil se viu na telinha da Globo como nunca antes havia acontecido. Boa parte do sucesso da trama se deve a personagens batalhadores, com histórias que provocaram identificação ou acenderam alguns alertas na sociedade.
As descobertas da sexualidade foram mostradas com sutileza e verdade. Yuri (Jean Paulo Campos) percebeu que era bissexual ao se apaixonar por Vini (Guthierry Sotero). Clara (Regiane Alves) também passou por um processo de descoberta ao se encantar por Helena (Priscila Sztejnman). Polêmicas de exibição de beijos à parte, foi bonito de ver a torcida do público por esses casais.
Houve espaço também para expressões de religiosidade. Sol e sua família são evangélicos e encontram na fé a força para superar as adversidades. Ben encontrou amparo no Candomblé. Rosane Svartman tratou com delicadeza esses temas, mostrando que não há tabus quando a história é bem contada.
Campeão de hits
As músicas de sucesso do cantor Lui Lorenzo não ficaram restritas ao campo da ficção. Sucessos como Se Eu Fosse Casado e Joaninha foram disponibilizados nas plataformas digitais da vida real e tiveram milhões de reproduções. Em uma divertida mistura de ficção e realidade, Lui cantou ao lado do ídolo Lulu Santos e até subiu no trio elétrico de Ivete Sangalo durante o Carnaval deste ano.
Na última semana da novela, Sol também teve suas canções divulgadas nas plataformas digitais. Do lado de cá da telinha, cantamos juntos e até aprendemos as coreografias.
Temas relevantes
Novela é entretenimento, mas também pode ser um espaço para a abordagem de assuntos sérios e relevantes para a sociedade. Destaque para o caso de Sol, vítima de abuso sexual no passado, que só se deu conta do que havia sofrido ao deparar com mulheres que viveram traumas semelhantes. A gaúcha Sheron brilhou nas cenas em que relembrava a violência sofrida. Foram sequências fortes, que podem ter servido de alerta para muitas mulheres na vida real.
Com tantos atores negros em cena, era impossível não falar sobre racismo. As sequências mais fortes foram da prisão de Yuri, confundido com um assaltante por conta da cor de sua pele. Aqui, foi ficção, mas acontece diariamente na vida real com muitos jovens.
Tropeços
Não existe novela perfeita, por melhor que seja. Em Vai na Fé, algumas situações testaram a paciência do público. O Festival do Sagrado Masculino, em que Lui tentava recuperar seu lado pegador, foi difícil de engolir. O mesmo vale para o reality show protagonizado por Wilma.
Na reta final, Lui se viu apaixonado por Lumiar (Carolina Dieckmann), que até outro dia era sua irmã. Depois que Wilma confessou que ele não era filho de Fábio (Zé Carlos Machado), o rapaz começou a ver a advogada com outros olhos. Esse casal formado aos 45 do segundo tempo não convenceu.