No ar em Terra e Paixão, Amaury Lorenzo, 37 anos, vive a melhor fase de sua carreira artística. Na pele do controverso peão Ramiro, o ator faz sua estreia na televisão em uma novela do horário nobre da Globo, após mais de duas décadas dedicadas ao teatro.
Com isso, também experimenta pela primeira vez as dores e as delícias de ser um rosto conhecido pelo público massivo da TV aberta — incluindo o assédio dos espectadores, que o alçaram ao patamar de galã.
O personagem interpretado por ele é o capanga número um do vilão Antônio La Selva (Tony Ramos). Complexo, Ramiro é implacável em cometer crimes e assassinatos a mando do patrão, mas amolece quando está perto de Kelvin (Diego Martins), com quem vive uma espécie de amizade colorida.
Por enquanto, pois a torcida do público é para que os dois virem de vez um casal. Mas para que isso aconteça, o peão precisa superar os próprios preconceitos e aceitar que está apaixonado pelo amigo.
Em entrevista a GZH, Amaury Lorenzo fala sobre o futuro do personagem, a estreia na televisão e o assédio do público, revelando se viveria uma relação com algum fã.
GZH — Ramiro é um vilão?
Amaury Lorenzo — O Ramiro, a meu ver, não é um vilão, é um trabalhador. Ele tem uma admiração e até uma dependência pelo seu patrão e, por admirar muito esse patrão, por precisar sobreviver, ajudar a mãe e colocar comida na mesa, atende todos os pedidos. Óbvio que ele comete crimes a partir daí, mas por obediência e admiração. Com isso, a gente está falando de um ciclo que é típico do capitalismo, no qual o empregado faz tudo aquilo que o patrão exige. E no caso do Ramiro, ainda estamos falando de um cara com pouca educação formal, que não consegue distinguir e entender que o que faz é errado. Ele não tem consciência de que o que está fazendo é uma vilania, ele tem consciência de que está cumprindo ordens do patrão. Isso faz dele um homem real, crível e que precisa sobreviver.
Quando você recebeu os primeiros materiais sobre o personagem, imaginou que ele conquistaria a simpatia do público da forma como vem conquistando?
No início, quando a gente começou a fazer a leitura do Ramiro, eu já ouvia da equipe que estavam gostando muito da maneira como eu estava interpretando. Ali eu comecei a vislumbrar que ele seria um personagem interessante, mas não tinha dimensão de que estaria na boca das pessoas como está, nem que eu estaria recebendo tanto carinho como estou recebendo. Estou muito feliz com tudo isso.
Por que as pessoas gostam do Ramiro?
Enquanto intérprete, eu percebo que as pessoas gostam do Ramiro porque ele é um homem batalhador, ingênuo e que tem um coração bom, apesar dos crimes. Ele faz isso para poder agradar o patrão. É um personagem controverso, apronta poucas e boas, mas o público vai torcendo por ele. Percebo que as pessoas querem vê-lo melhorar de vida, conquistar sua cidadania e parar de cometer crimes. E querem que ele fique com o Kevinho e seja feliz.
Como o público reage à relação do Ramiro com o Kelvin?
Com muito amor, muito afeto e muito respeito. Existe uma torcida gigante, de pessoas de todas as idades e de todos os tipos, para que eles fiquem juntos. Eu fico muito feliz com isso.
Você já recebeu algum comentário preconceituoso? Costuma responder?
Eu e o Diego debatemos muito e temos muita consciência da importância dos nossos personagens e dos temas abordados para a sociedade brasileira. A gente discute junto das pessoas que têm algum tipo de preconceito para que elas reavaliem e comecem a enxergar ali dois seres humanos que querem ser felizes.
O Ramiro marca a sua estreia na TV. O que esse personagem representa para você?
Eu já tenho quase 30 anos de carreira no teatro, seja como ator, diretor ou produtor. Interpretar o Ramiro significa poder levar o meu trabalho para um público infinitamente maior que o do teatro, pois a televisão dá uma outra dimensão. Então, o Ramiro contempla o meu grande desejo de fazer com que mais pessoas conheçam o meu trabalho. E há um carinho especial por estrear no horário das nove, com um texto do genial Walcyr Carrasco e uma equipe maravilhosa.
Como tem sido o retorno do público nas ruas?
O público tem sido incrível. Eu ando nas ruas e as pessoas gritam: “Ramiro, Ramiro!”. Em todos os lugares, as pessoas me abraçam, elogiam o meu trabalho. A primeira coisa que fazem é elogiar o meu trabalho e dizer: “Nossa, como você é bom ator, como você está executando bem o personagem”. O assédio, no sentido de elogiar o meu trabalho, é muito legal. Fico muito feliz pelo reconhecimento ao ofício para o qual me dedico há muitos anos, que é atuar.
Você foi alçado ao patamar de galã. Se relacionaria com fãs?
Sim, claro que sim.