Cobra Kai está de volta a partir desta sexta-feira (9). E, claro, para uma série que é justamente um revival de um sucesso dos anos 1980 — Karatê Kid —, revisitar o passado e despertar uma boa dose de nostalgia em seus fãs é essencial. Porém, na quinta temporada da atração de sucesso da Netflix, talvez não fosse mais necessário se basear tanto no que foi feito antes, como bengala, e começar a andar sozinha.
Neste novo ano, a série coloca os seus heróis Johnny Lawrence (William Zabka) e Daniel LaRusso (Ralph Macchio) com um novo foco: derrotar Terry Silver (Thomas Ian Griffith), que deu um golpe no antigo vilão John Kreese (Martin Kove) e assumiu o dojô Cobra Kai. Com recursos ilimitados, o malvadão quer manipular as mentes dos jovens do Vale e expandir a sua escola de caratê pelo mundo, criando um exército com a sua mesma filosofia.
E vale lembrar que, após o Cobra Kai ser o vencedor do torneio regional, no final da temporada anterior, os dojôs Miyagi-Do, de Daniel, e Presas de Águia, de Johnny, não podem mais operar, o que deixa o ambiente ainda mais propício para o crescimento do inimigo. Este cenário, porém, não deixa que o antigo pupilo do mestre Miyagi tenha paz e, com isso, ele passa a ficar obcecado para derrotar Terry, prejudicando o seu convívio familiar.
Enquanto isso, Johnny está andando no caminho inverso: após a prisão de Kreese, o personagem está tentando, pela primeira vez, ser um homem de família, reconciliando-se com o filho Robby Keene (Tanner Buchanan) e tentando fazer com que ele se dê bem com o enteado Miguel Diaz (Xolo Maridueña). Tudo isso enquanto novidades importantes surgem de seu relacionamento com Carmen Diaz (Vanessa Rubio).
Obsessão
Os dois primeiros episódios da nova temporada resolvem a trama deixada no final do ano anterior, com Miguel indo buscar o seu pai no México — que, por sinal, não poderia ser mais estereotipado, incluindo o famoso filtro amarelado. Todo o arco é rápido mas eficiente para a construção do personagem; porém, este desenvolvimento pouco é aproveitado na série, uma vez que os jovens ganham pouco destaque nos novos episódios. Em uma série em que um dos focos são os relacionamentos e a confiança, o espaço escasso para alguns personagens que fazem parte deste movimento torna tudo meio artificial.
A trama foca a obsessão de Daniel por Silver, o que poderia ser interessante, uma vez que o personagem é conhecido por sua calma e por resolver os problemas usando a inteligência. Porém, pouco convence esta transformação, pela sua brevidade e exagero repentino — assim como as mudanças de pensamento de quase todos os demais integrantes da série. LaRusso, então, passa a ser atormentado pelos acontecimentos de Karatê Kid 2 e 3 e, neste processo, são resgatados nomes destes filmes — mesmo que tenham aparecido por poucos minutos.
E é neste mergulho nas tramas das produções dos anos 1980 que a série perde. Isto porque, ao longo de seus quatro anos anteriores, a série criou uma história consistente e possui um leque de personagens com potencial para serem explorados, mas, ao invés disso, ela passa a usar cada vez mais o recurso de flashbacks e a buscar coadjuvantes nos filmes para pontas na série. O que poderia ser uma homenagem divertida acaba se tornando um recurso cansativo.
Comédia
A produção original do YouTube foi adquirida pela Netflix e passou a ser produzida pelo streaming a partir da terceira temporada. E, desde que aconteceu este movimento, a série foi se tornando maior, com um nítido upgrade de qualidade e, com isso, uma legião de fãs foi se interessando pelo programa, que sempre que estreia uma nova temporada fica semanas no top 10 do serviço de streaming.
É interessante que o programa criado por Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald decida nesta quinta temporada — ao mesmo tempo em que traz momentos mais sombrios, como a obsessão de Daniel por Silver — apostar mais na comédia, tentando resgatar um espírito digno da Sessão da Tarde. Então, espere ver uma turminha do barulho se metendo em altas confusões — sendo a maioria delas vividas por Johnny.
O personagem de Zabka, mais uma vez, é a melhor coisa de Cobra Kai. As suas trabalhadas e a vontade de fazer o certo, mesmo que de maneiras tortas, chega ao ápice nesta quinta temporada e são dele os grandes momentos da série — é uma pena, inclusive, que o programa não tenha deixado que Johnny tivesse mais tempo de tela e fosse o protagonista absoluto. É, disparado, o mais natural em cena e consegue, ainda assim, entregar momentos hilários, mesmo que bobos.
E por falar em atuação, os novos episódios de Cobra Kai contam com a inserção de novos vilões, que buscam ajudar Terry Silver em seu plano de dominar o mundo do caratê. Os personagens, porém, são extremamente caricatos, despertando a mais profunda vergonha alheia. Entretanto, a entrada de Chozen (Yuji Okumoto) no time dos mocinhos foi um acerto, apesar de, mais uma vez, ter saído diretamente do baú dos anos 1980. Ele é um ótimo alívio cômico.
Mas, entre erros e acertos, Cobra Kai segue sendo diversão garantida, com muitas brigas de adolescentes completamente sem motivo. O que a série poderia era se desprender de seu passado e passar a confiar que o caminho trilhado por ela mesma é sólido o suficiente para que possa seguir por ele sem medo. Os personagens que já passaram por Karatê Kid podem e devem aparecer para agradar aos saudosistas, mas já não têm força para serem a base do que está sendo construído.