Dizer que obra de J.R.R. Tolkien é uma das mais importantes de todos os tempos para a cultura pop é dizer o óbvio — mas, às vezes, é preciso. O universo criado pelo autor britânico, responsável por O Senhor dos Anéis, O Hobbit e O Silmarillion, além de fascinar gerações de fãs — até hoje —, inspirou outras tantas obras, como As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin, e ainda rendeu adaptações de sucesso, como a premiada trilogia cinematográfica (2001-2003) comandada por Peter Jackson.
Porém, depois da recepção mediana dos três filmes de O Hobbit (2012-2014), a obra de Tolkien estava descansando. Mas, em 2017, o Amazon Prime Video anunciou os seus planos de criar uma série baseada no universo de O Senhor dos Anéis e, com o passar dos anos, foram sendo anunciados mais detalhes sobre a produção, que gerou curiosidade: ela seria ambientada milhares de anos antes das histórias contadas no audiovisual anteriormente — o período conhecido como a Segunda Era.
Além disso, ainda foi divulgado que a Amazon queria, a pedido de seu dono, Jeff Bezos, uma série de fantasia grandiosa o bastante para rivalizar com Game of Thrones. E, para isso, não foram poupados esforços — ou dólares. Foram investidos nada menos que US$ 462 milhões na primeira temporada da atração. O orçamento de quase US$ 60 milhões por episódio — são oito, no total — deixa os US$ 15 milhões por capítulo da temporada final de GoT, que foram tecnicamente impecáveis, bem para trás.
Este pomposo orçamento, no entanto, se justifica. Nos dois primeiros episódios da série a que GZH teve acesso, Os Anéis de Poder se mostrou deslumbrante e feita com muito esmero, dando destaque desde mínimos detalhes da produção até os cenários grandiosos, que se distinguem com uma riqueza de detalhes para cada um dos povos apresentados na série. São mundos únicos dentro do grande universo que compõem a Terra Média, em uma mistura dos espetaculares cenários reais da Nova Zelândia com CGI de ótima qualidade — destacando-se entre as produções atuais, que fazem efeitos especiais a toque de caixa, não se preocupando com os detalhes e com a experiência do espectador.
Em Os Anéis de Poder, criaturas mágicas apresentam organicidade, tanto as criadas por computação gráfica quanto as que são desenvolvidas com a ajuda de maquiagem e próteses. Os figurinos utilizados pelos personagens são todos feitos com um impecável cuidado, assim como os penteados de cada um deles. Há uma personalidade em qualquer criatura viva da série, o que pede uma tela grande de alta resolução para conseguir analisar todos os detalhes. É de encher os olhos e, certamente, assistir aos episódios em uma sala de cinema deixaria a experiência ainda mais emocionante.
Como é a série
A trama, que trilha caminho para os eventos vistos nos cinemas, traz nomes e lugares conhecidos pelos espectadores, bem como revela de que forma se deu a ascensão de Sauron e a famosa forja dos anéis de poder que o vilão usou para dominar a Terra Média. Logo no começo da aventura, o espectador é reapresentado a Galadriel (Morfydd Clark) — que foi interpretada por Cate Blanchett no cinema. Em Os Anéis do Poder, é mostrada a origem da personagem e como ela entrou na luta contra Sauron, após ser afetada pelo luto, tornando-se obcecada em derrotar o vilão e tendo um conflito interno sobre como dosar a luz e as trevas.
Além dela, que se desenha como protagonista da série, outros personagens também começam a ganhar as suas devidas importâncias nos dois primeiros capítulos: Nori (Markella Kavenagh), uma pé-peludo, raça antepassada dos hobbits; Arondir (Ismael Cruz Córdova), elfo que vive um romance proibido com a humana Brownyn (Nazanin Boniadi); e o anão Durin IV (Owain Arthur), que é amigo do elfo Elrond (Robert Aramayo) — que também já deu as caras no cinema, vivido por Hugo Weaving — e que devem ser essenciais na criação dos anéis do título.
A partir destes nomes — com destaque especial para as personagens femininas, que devem ser as condutoras da série —, o espectador começa a entender que os séculos de aparente paz, após a guerra contra Morgoth e Sauron, que devastou a Terra Média, estão com os dias contados. O mal se aproxima e o clima de tensão vai subindo com o passar das duas horas que compõem a duração dos dois episódios — cada um tem uma hora. Assim, a série criada por Patrick McKay e John D. Payne, dupla sem qualquer experiência no audiovisual, se mostra, além de uma aventura digna do criador de seu universo e de seu orçamento, também uma história envolvente e que consegue prender a atenção logo de cara.
Vale destacar, também, que O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder ainda teve como consultor o neto de J.R.R. Tolkien, o autor Simon Tolkien. Ele assumiu o papel-chave de moldar não só a história, mas também muitos dos arcos de personagem da série. E isso se reflete já nos dois primeiros episódios, que se desenvolvem sem atropelos e, mesmo assim, com agilidade, conseguindo mostrar que este é um produto diferenciado do que é visto hoje em dia. E, apesar de ser mais uma prequel, nesta onda que vai de Obi-Wan Kenobi a House of the Dragon, a série tem o potencial de ser a largada para uma jornada repleta de novidades — afinal, são mais de três mil anos que podem ser explorados.
E este começo molda, de maneira envolvente, o cenário que deve ser trabalhado nos outros seis capítulos e nas demais temporadas — no total, a história deve contar com cinco. Os Anéis do Poder vai construindo, então, as relações entre os personagens, desenvolvendo as suas particularidades, demonstrando a vastidão da Terra Média e, além disso, consegue ser um grande presente aos fãs e uma estrada totalmente acessível para os não-iniciados. O chamado para esta aventura é para todos que amam uma boa fantasia. Os dois primeiros episódios estreiam no Amazon Prime Video na noite desta quinta-feira (1º).