A jornalista Gloria Maria teve sua primeira participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido na noite de segunda-feira (14). A apresentadora do Globo Repórter falou sobre racismo e ainda relembrou fases da carreira, a cirurgia e o tratamento contra o câncer no cérebro e o desejo de viajar para Marte ou, ao menos, de ir ao espaço.
Durante a conversa, a jornalista Claudia Lima, pauteira do programa Saia Justa, do GNT, questionou se a fama "protegeu" Gloria de ataques em algum momento.
— Nada blinda preto de racismo, nada. E com mulher preta é pior ainda. Nós somos mais abandonadas e discriminadas, porque o homem preto não quer a mulher preta. Nada blinda a gente. Você tem que aprender a se blindar da dor, isso é importante. Se você for esperar uma proteção universal, você está perdida. Você tem que fazer com que a vida te faça aprender a se blindar — respondeu Gloria.
Em outro momento, a comunicadora explicou que as filhas, Laura, 13 anos, e Beatriz, 14, já passaram por episódios de racismo. A mais nova ouviu que "a cor dela era feia". Já a primogênita escutou: "Você, sua macaca, não fala nada". Em ambos os casos, as falas foram ditas por adolescentes de "escolas de elite".
— Isso não vem da criança, isso vem da família. Quando ele (amiguinho) falou, queria machucar. E a maneira que tinha para machucar era ofender racialmente. Isso que acho uma coisa trágica. Se ele sabe que chamar de macaca é uma ofensa racial, é porque foi ensinado — explicou.
O programa é comandado por Vera Magalhães e contou com bancada formada pela repórter da Elle Brasil Ísis Vergílio, Laura Ancona, diretora de redação da revista Marie Claire, Cris Guterres, colunista do Universa Uol e apresentadora do Estação Livre na TV Cultura, e Cristina Padiglione, colunista do jornal Agora São Paulo, além de Claudia Lima. A edição foi uma celebração ao Dia Internacional da Mulher.
Câncer
Em 2019, Gloria foi submetida a uma cirurgia de emergência para retirar um tumor no cérebro. De acordo com ela, em nenhum segundo ela pensou na possibilidade de morrer:
— Se eu não tivesse descoberto naquele momento, o tumor me mataria em 15 dias. Criou um edema que inflamou e me fez ter uma convulsão. Vivi a primeira bênção porque não me deixou sequelas. Tinha 30%, 40% de chance de sobreviver e 20% de sobreviver sem sequelas. Mas não tive medo. A vida é isso. Você está vivo para passar por todo o tipo de experiência. É que o ser humano tem a tendência de querer viver num mundo cor-de-rosa.
Carreira
Com passagem pelo Jornal Nacional, Jornal Hoje e Fantástico, a apresentadora do Globo Repórter foi a primeira jornalista brasileira a cobrir uma guerra — a Guerra das Malvinas, em 1982. No Roda Viva, ela disse que só não foi para a Ucrânia por conta dos problemas de saúde que teve.
— Se não tivesse passado por isso, eu iria. Estou mais frágil, não teria muita resistência pra fugir de um tiro, uma bala, um canhão. A sabedoria de viver é você não estacionar e eu nunca estacionei, o que me deixa viva, o que me dá prazer é a mudança — argumentou.
Durante a conversa, Gloria foi questionada se há algum tipo de proibição ou censura na Globo.
— Nunca dei tempo para censura. Nunca ninguém me falou: "Isso você não pode". Tem umas coisas que eles acham falta de juízo, coisas perigosas — contou.
Sonho
Conhecida pelas diversas viagens ao redor do mundo em seus mais de 40 anos de profissão, a jornalista relembrou quando andou na Ferrari de Ronaldo Fenômeno, fumou maconha na Jamaica e presenciou um festival de pesca na Nigéria, episódio classificado como "o mais transformador que já viveu". Apesar do vasto histórico, Gloria revelou um desejo inusitado.
— Estou querendo ir para Marte numa dessas maquinas aí. Seria um grande presente da Globo, tomara que tenha algum poderoso ouvindo a gente — falou de forma descontraída.