A falta da dignidade e a gestão adequada das terras indígenas são apenas alguns exemplos do quanto diferentes tribos sofrem com a evolução da sociedade brasileira. Esse debate está entre as reflexões propostas pelo Falas da Terra, especial da Globo que vai ao ar hoje, após o BBB 21, na RBS TV. Neste 19 de abril, que marca o Dia do Índio, 21 depoimentos destacam o quanto o país precisa reconhecer essa luta por igualdade e por direitos.
Muito dessa batalha está presente na rotina de Fernanda Kaingáng, moradora da aldeia Serrinha, em Ronda Alta, norte do Rio Grande do Sul. Primeira advogada indígena por formação do sul do país, é ativista do movimento nacional dos indígenas e especialista perante a Organização das Nações Unidas (ONU).
— Que país é esse em que os primeiros filhos da terra são marginalizados? Que futuro é esse que vamos deixar para o planeta, vivendo valores invertidos? Somos muitos e temos direito à diversidade — defende.
Outro gaúcho que integra o especial é Bruno Kaingang, primeiro indígena com título de doutor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor do Instituto Estadual de Educação Indígena Angelo Manhká Miguel, que ajuda na formação de outros professores indígenas, ele busca a recuperação de valores e culturas:
— Até 1988, tivemos um sistema educacional baseado na ideia de integrar os índios à sociedade não indígena. A educação escolar específica dos nossos povos traz esse conhecimento que foi negado no passado e que faz falta para eles poderem se relacionar melhor com a terra e com o outro.
Educação
A riqueza cultural dos mais de 300 povos existentes em todo o país, assim como as mais de 200 línguas, também é explorada em Falas da Terra. Para criar o conteúdo, a diretora artística Antonia Prado trabalhou em conjunto com Ailton Krenak, líder do Movimento Socioambiental de Defesa dos Direitos Indígenas, escritor e organizador da Aliança dos Povos da Floresta, e outros quatro ativistas.
Segundo Fernanda, o documentário, com depoimentos em primeira pessoa, surpreende por sua capacidade de integrar povos indígenas de todo o país:
— A grande mensagem é que o Brasil é indígena, fala línguas indígenas, e que são povos que não são apenas parte do passado e de uma história. Somos o presente do país e podemos contribuir, sim, para o futuro desta nação.
O último censo do IBGE, de 2010, aponta que existem 32 mil indígenas em todo o Rio Grande do Sul. A questão do aldeamento no Estado é crítica, na visão de Fernanda, que vê a necessidade de uma fiscalização efetiva sobre o uso das terras:
— As terras indígenas não produzem alimentos para a sua subsistência, porque há a concentração de áreas nas mãos de algumas pessoas, elites locais, que acabam determinando o empobrecimento crescente das nossas comunidades.
Bruno concorda que as áreas indígenas seguem em diminuição, enquanto a população continua crescendo. Para ele, a falta de políticas públicas para dar conta das necessidades das aldeias é o ponto crucial para essa realidade. Por isso, segue apostando na formação e no conhecimento como chave dessa virada necessária.
— Por meio da educação, temos outro jeito de ver o mundo para que possamos construir uma sociedade mais humana, capaz de compreender o outro e viver em sintonia com o próximo — finaliza Bruno.