Há um fantasma rondando os corredores do Big Brother Brasil 21 e, por incrível que pareça, não é o da eliminação. Logo nos primeiros dias do reality, os participantes estão mais preocupados com o cancelamento das redes sociais e dos espectadores do que, de fato, com o andamento do jogo. Esta postura ficou visível com o excesso de discussões – regadas a muitas lágrimas – após a primeira festa e se alongou em pequenos detalhes do dia a dia, como flertes irregulares e até disputa por comida.
Na primeira vez em que se reuniram no jardim da casa, na semana passada, os participantes se apresentaram e dois discursos se destacaram – os de Karol Conká e Camilla de Lucas. As duas integrantes do grupo Camarote fizeram questão de frisar o quanto os brothers deveriam se preocupar em serem autênticos, sem se incomodarem com o cancelamento na web.
— Outro dia eu falei: "Ah, as pessoas vão cancelar". Dane-se o cancelamento. Se puxar o WhatsApp de cada um que está falando nosso nome, vai estar pior que a gente — disse Camilla de Lucas, influencer que já soma mais de 3,6 milhões de seguidores. — O tema do ano passado foi machismo, e o desse ano é cancelar o cancelamento!
Nesta discussão, há dois lados. Do lado de dentro da casa, os jogadores não têm consciência de como suas atitudes refletem. Do lado de fora, o impacto das ações é praticamente imediato na web, e alguns dos brothers já alternaram entre o status de amado a "cancelado" várias vezes em poucos dias. Alexandra Silva, analista de social research na Airfluencers, plataforma que faz análise e monitoramento de influencers, acredita que Juliette é a que a melhor se encaixa nesse exemplo: foi amada por flertar com Fiuk, cancelada por exagerar nas cantadas e, logo em seguida, novamente admirada por ter sido isolada na casa após um boicote sugerido por Karol Conká.
— O cancelamento é muito amor e ódio e é quase como um eletrocardiograma. Ele vai e volta com as situações, e o influenciador é atingido por tudo isso com a perda de seguidores e a formação de bases de haters. Eles não são atingidos lá dentro da casa por isso, mas as redes demonstram isso nitidamente — explica Alexandra.
A variação no número de seguidores nas redes comprova. Após ter excluído Juliette e realizado outros deboches dentro da casa, além de ter sido acusada de xenofobia, Karol Conká já perdeu mais de 100 mil seguidores em menos de 10 dias.
Outro exemplo é Lumena, do time Pipoca, que entrou na casa com 107 mil fãs no Instagram e viu este número dobrar em uma semana. Entre o último domingo e segunda-feira (31), no entanto, a psicóloga chegou a perder quase 10 mil seguidores por ter atitudes consideradas questionáveis.
— As pessoas tentam encontrar maneiras de justificar o por que dos seus "ídolos" agirem de determinadas formas dentro da casa. Eu mesmo admirava a Lumena e agora penso que ela devia respirar um pouco. Jamais vou brigar por isso (risos), mas eles têm de entender que não é possível "cancelar o cancelamento" — reforça Arthur Guedes, mestre e doutorando em Comunicação e Sociabilidade Contemporânea pela UFMG.
Sinceridade
Brothers como Fiuk, Karol Conká e Lumena estão na linha de frente na batalha contra o cancelamento, mas outros participantes parecem pouco se importar. Segundo os especialistas, o recomendável é que todos os jogadores vivam o reality da forma mais intensa possível, sem ficar o tempo todo insistindo em suas personas.
— Eles precisam ser eles mesmo sempre. Quanto mais eles forem sinceros, mais irão atrair um grupo de pessoas do jeito semelhante ao dele. Se ficarem muito preocupados com o cancelamento, vão dar a sensação de que estão com máscaras e que querem apenas lacrar, como a Karol tem feito — indica Alexandra.
O fazendeiro Caio é um exemplo claro desta estratégia. Apesar de ter sido alvo de julgamentos por sua opinião política, antes mesmo do programa começar, o goiano já ganhou mais de 1,5 milhão de seguidores em menos de 10 dias e tem cativado o público por seu jeito divertido.
— A forma simpática e gentil como ele trata os outros e a proximidade dele com o Rodolffo conseguiram apagar a primeira impressão negativa dele nas redes. É um fenômeno interessante e ele deve crescer muito mais — aposta Alexandra.
Guedes, por sua vez, acredita que o BBB 21 tem sido mais intenso que as edições anteriores. Ele ressalta que, como a crise sanitária ainda vigora no país, o programa acabou recebendo brothers querendo sustentar um discurso de militância. Mas o excesso de preocupação com as reações esvaziou as reflexões que deveriam realmente ocorrer. O pesquisador lembra do dia em que Lumena questionou a brincadeira dos homens terem se vestido de mulheres ao refletir sobre transexuais.
Segundo ele, a psicóloga pesou um pouco a mão na sua postura.
— Eles precisam aprender a sentir o clima e ver o que acontece. Conheçam melhor uns aos outros e não tentem colocar sempre um vilão e mocinho em tudo. É um jogo, tem prêmio, mas é a convivência acima de tudo. Se eles queimam pontes de relações na primeira semana, dificilmente vão conseguir recuperar — aconselha Guedes.
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