Os encontros e desencontros pelas ruas do bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, as cenas longas e de forte impacto emocional, barracos inesquecíveis, campanhas sociais: tudo isso e muito mais vêm à cabeça quando pensamos nas obras de Manoel Carlos. O cotidiano é a inspiração do autor de 87 anos. A última novela com a assinatura de Maneco foi Em Família (2014), mas ele segue contratado pela Globo, agora apenas na supervisão de textos dos jovens dramaturgos.
Mas a ausência de tramas inéditas não afeta a popularidade do novelista, que mantém lugar cativo na memória do público. Tanto que, nos últimos anos, marca presença na telinha por meio de reprises das suas criações mais memoráveis. Recentemente, Laços de Família (2000) voltou ao ar no Vale a Pena Ver de Novo, mostrando que tem fôlego para entreter o telespectador em função do frescor de sua narrativa. Todas as tardes, tem se mantido entre os assuntos mais comentados nas redes sociais. No canal a cabo Viva, o sucesso da vez é Mulheres Apaixonadas (2003), também com grande repercussão.
Não é exagero dizer que todo mundo tem uma novela favorita de Manoel Carlos. E, além disso, guarda com carinho lembranças de cenas impactantes criadas pelo autor. Em uma seleção nada fácil, recordamos 10 sequências inesquecíveis de Maneco. Confira!
Doce descoberta
Ao escrever para o horário das 18h, Manoel Carlos aliviou um pouco o drama, mas não deixou a emoção de lado. Em Felicidade (1991), Helena (Maitê Proença) manteve a identidade do pai de sua filha em segredo por quase toda a trama.
Valeu a pena esperar até o último capítulo. O momento em que a pequena Bia (Tatyane Goulart) descobre que é filha de Álvaro (Tony Ramos) foi de arrepiar. O abraço dos dois, na pracinha, ficou marcado na memória afetiva do público.
Reconciliação entre pai e filha
Em mais uma incursão pelas seis da tarde, com História de Amor (1995) Manoel Carlos focou nas relações entre pais e filhos, com destaque para a conturbada convivência de Helena (Regina Duarte) e Joyce (Carla Marins).
A jovem engravidou do namorado e teve que lidar com a truculência e o machismo do pai, Assunção (Nuno Leal Maia). O durão só amoleceu quando precisou socorrer a filha após um atropelamento. Ao ouvir o coraçãozinho da neta na ultrassonografia, Assunção se derreteu e teve uma comovente reconciliação com Joyce.
Sacrifício materno
Regina Duarte deu vida a três Helenas, mas certamente a mais sofredora delas é a de Por Amor (1997). Nada se compara ao ato desesperado de abrir mão do próprio bebê para evitar o sofrimento da filha, Eduarda (Gabriela Duarte).
Por isso, uma das cenas mais potentes da teledramaturgia mostrou Helena e César (Marcelo Serrado) trocando os bebês, tendo como pano de fundo uma dramática tempestade. Tudo na cena remete à dor da personagem, que penou pelos muitos capítulos seguintes para tentar manter o segredo.
A revelação
Ainda em Por Amor, a sequência mais aguardada e bombástica foi ao ar no penúltimo capítulo. O diário de Helena, onde estava escrita a verdade sobre a troca dos bebês, foi parar nas mãos de Eduarda.
A jovem, então, descobriu que seu filho morreu logo após o parto e que a mãe colocou seu bebê no lugar. O confronto entre mãe e filha foi o ápice da trama, com uma mistura de ódio, revolta, dor, culpa e tantos outros sentimentos envolvidos neste drama.
Dramalhão
A reprise de Laços de Família (2000) está mexendo com o coração dos telespectadores saudosistas e impressionando os mais jovens, que não tiveram a oportunidade de assistir à primeira exibição.
É difícil passar em frente à TV e não parar para conferir alguma cena da novela, torcer por alguns personagens e odiar outros. E quando o assunto é Laços, a primeira cena que vem à mente da maioria é o momento em que Camila (Carolina Dieckmann) raspou os cabelos.
A luta da jovem contra a leucemia a redimiu diante do público, que até então abominava muitas atitudes dela, principalmente seu envolvimento com Edu (Reynaldo Gianecchini), então namorado de sua mãe, Helena (Vera Fischer).
Barraco na festa
Quem não gosta de um bom barraco de novela? Laços de Família é um prato cheio para quem quer ver babado, confusão e gritaria. Uma das confusões mais marcantes aconteceu na festa de casamento de Camila e Edu.
Clara (Regiane Alves), recém-separada de Fred (Luigi Baricelli), resolveu se vingar da rival, Capitu (Giovanna Antonelli).
A moça foi até o microfone e bradou:
— Essa mulher que se meteu entre nós, numa festa familiar, é uma garota de programa. Não devia estar aqui entre as moças honestas e sérias!
Alguns convidados já sabiam do segredo, mas para outros, foi um choque, principalmente para os pais idosos de Capitu.
O fim da ninfeta
"Ne me quitte pas...". A canção francesa, entoada por Maysa (1936 – 1977), dava um tom ainda mais melancólico à minissérie Presença de Anita (2001). Estrelada pela então estreante Mel Lisboa, a trama mostrava uma jovem diabolicamente sensual, que envolvia o escritor Fernando (José Mayer) em seu jogo de sedução.
O desfecho de Anita, em um incêndio na casa onde morava, foi o ponto alto da história, mas deixou várias dúvidas: será que ela morreu mesmo?
Despedida emocionante
Na novela que tinha Christiane Torloni como a protagonista Helena, quem roubou a cena foi um pingo de gente chamado Bruna Marquezine.
Na pele de Salete, em Mulheres Apaixonadas (2003), a pequena atriz deu um show de emoção na cena da morte de sua mãe, Fernanda (Vanessa Gerbelli). A naturalidade da menina deu ainda mais peso a uma sequência que, por si só, já era tocante.
Mãe por acaso
Depois de duas mães intensas, a terceira Helena vivida por Regina Duarte começou a história sem filhos, dedicada apenas à carreira. Logo nos primeiros capítulos de Páginas da Vida (2006), a médica encontrou a maternidade por acaso ao acolher Clara (Joana Mocarzel), bebê com síndrome de down rejeitada pela avó, Marta (Lilia Cabral).
A frieza da megera chocou Helena, até então alheia aos desafios da maternidade e que, depois disso, adotou Clarinha. Nesta e em outras cenas marcantes, Lilia arrasou e deixou o público indignado com sua personagem.
Paixão e superação
Em Viver a Vida (2009), a Helena de Taís Araujo ficou em segundo plano em nome de uma abordagem mais significativa.
A tragédia que marcou a vida de Luciana (Alinne Moraes) e a deixou tetraplégica serviu para melhorar a personalidade da jovem modelo, além de conscientizar o público para questões como acessibilidade, sexualidade e aceitação de pessoas com deficiência. Entre as sequências emblemáticas, uma das mais emocionantes foi o primeiro banho de mar de Luciana após o acidente, nos braços de seu amado, Miguel (Mateus Solano). O casal conquistou o público e protagonizou várias outras cenas belíssimas.