O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi o convidado de Pedro Bial em seu programa de entrevistas, que foi ao ar na madrugada desta terça-feira (17). Obama falou sobre o seu livro de memórias, Uma Terra Prometida, sobre a eleição de seu vice, Joe Biden, à presidência americana, a relação dos Estados Unidos com o Brasil e questões de representatividade. A conversa foi realizada por videoconferência, concedida por Obama a partir de um quarto de hotel em Washington D.C.
Bial questionou o modo como ele descreveu Lula em seu livro, anos após tê-lo cumprimentado como “o cara” publicamente. Em Uma Terra Prometida, Obama afirma que o petista é um líder popular, que melhorou a vida de milhares de brasileiros, mas com os escrúpulos de uma espécie de mafioso.
— O dom de Lula de se conectar com o povo e o progresso econômico que ele gerou não podem ser negados — disse Obama, após afirmar que não conhecia muitas das denúncias de corrupção que vieram à tona sobre o governo petista e refletindo sobre a complexidade de figuras públicas. — A maioria dos líderes é o reflexo das contradições e tensões de seu país, é importante entender a história e o contexto em que estão inseridos — completou.
Ao relembrar a visita de Obama ao Brasil em 2011, Bial questionou o ex-presidente sobre sua decisão de ignorar as recomendações de segurança e cumprimentar moradores da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, na maioria, crianças. Ele afirmou que um dos motivos de ter decidido concorrer à presidência foi o fato de que sua eleição mandaria um recado de que qualquer criança pode sonhar com algo maior, mas também disse que políticas concretas também são importantes:
— As crianças nas favelas, no Rio, em Chicago, ou em qualquer lugar do mundo, precisam de mais do que inspiração, precisam de boas escolas, empregos quando se formarem e moradia.
A diretora executiva do jornal O Globo também participou da entrevista. Flávia Barbosa perguntou a Obama o quanto as alegações do presidente Donald Trump sobre fraude na eleição presidencial americana prejudicam o país. O democrata reconheceu que os Estados Unidos estão divididos, mas destacou que não há evidência de que o pleito não tenha sido conduzido de forma legítima e elogiou o discurso de Biden de que será um presidente para todos e não somente para quem o elegeu.
Obama comentou a declaração do presidente Jair Bolsonaro, que rebateu um posicionamento de Biden sobre a Amazônia afirmando que "quando acabar a saliva, tem que ter pólvora". Ele comparou as políticas de Bolsonaro e de Trump. Exemplificou lamentando que ambos minimizam a importância da ciência em tempos de mudanças climáticas e pandemia.
— Minha esperança é que, com a nova administração de Biden, há uma oportunidade de redefinir essa relação. Sei que ele vai enfatizar que a mudança climática é real, que Estados Unidos e Brasil têm um papel de liderança a desempenhar. Sei que ele vai valorizar a ciência sobre a covid-19, e o fato de que o vírus é real — afirmou.
Questionado por Flávia sobre o quão próximo estão os Estados Unidos de ter uma presidente mulher, Obama acredita que eles estão muito próximos. Ele negou que sua mulher Michelle concorra ao cargo no futuro, mas citou a vice de Biden, Kamala Harris, descrevendo-a como extraordinária, e disse que espera que ela seja só o início das mulheres em cargos de liderança. Ele também comparou a resistência a mulheres na política à resistência a pessoas negras, mas se disse otimista sobre o aumento da representatividade desses setores da sociedade:
— Eu prefiro acreditar que, apesar da turbulência, estamos progredindo.