Podemos olhar para um céu estrelado e imaginar como seria uma viagem até o satélite natural da Terra. O “impossível plausível”, como dizia Walt Disney, move a garotinha Fei Fei em A Caminho da Lua, primeira animação assinada por Glen Keane (diretor de A Pequena Sereia, A Bela e a Fera e Tarzan) para a Netflix. A produção estreia na plataforma de streaming neste fim de semana.
Esta missão de tornar um sonho realidade é o fio condutor da trama. Fei Fei é uma menina de oito anos benquista por seus familiares. Empenhada nos estudos, é muito inteligente e a primeira aluna da classe. E a garota também ajuda no negócios dos pais, que vendem "bolinhos da Lua" em uma cidadezinha no interior da China.
O ambiente alegre muda quando a mãe de Fei Fei morre e, quatro anos depois, seu pai decide se casar de novo. Inconformada com os planos dele, a menina cria um foguete para viajar até a Lua, local habitado pela deusa chinesa Chang’e. Sua intenção é que o contato com a figura mitológica, que tem uma história de amor eterno, inspire o viúvo a seguir solteiro e disponível somente para o carinho da filha.
— Eu pensei: “Uma menina de 12 anos construindo um foguete para a Lua? Sei não..”. Mas, conforme fui lendo, cheguei à página em que o foguete de Fei Fei é lançado, o combustível acaba e ele começa a cair. Assim que foram atingidos pelo raio de luz e os leões da Lua surgiram na página, eu percebi que precisava dirigir o filme — conta Keane, em entrevista por e-mail a GZH.
O destino falou alto durante a produção do longa-metragem. Além de conduzir uma animação em que a trilha sonora se destaca – não há como não lembrar de A Bela e a Fera com as diferentes sequências cantadas -, o cineasta também recordou um aniversário seu de sete anos. Na infância, seu pai, Bil Keane, o famoso cartunista dos quadrinhos The Family Circus, disse que estava construindo uma nave espacial junto com a NASA.
O projeto era "secretíssimo”. No mesmo dia, Bil colocou uma venda nos olhos do filho e dos amigos do garoto, levando-os para visitar a estrutura preparada para viajar até a Lua.
— Naquele momento, eu sentei na cabine de olhos vendados e ouvia o controle da missão falando, o barulho dos motores, sentia o vento no rosto enquanto voava sobre o lago, com os pés na água. Quando tirei a venda, percebi que estava simplesmente sentado em uma cadeira de balanço no quintal (risos). Mas nunca me esqueci daquele momento. A Caminho da Lua é assim: leva você em uma viagem — acredita o diretor.
Cultura
Além de falar de uma missão tida como impossível, o desenho também explora a cultura chinesa. Logo no começo do filme, o espectador se aventura pela cidade em que a família da garota mora, que foi inspirada em Wuzhen, famosa por seus canais, barcos e pontes, conhecida como a Veneza da China.
— Se é para o público acreditar na história que você está contando, você também precisa acreditar. Para criar um filme que lembre O Mágico de Oz, em que você começa em um lugar real e depois viaja para um mundo fantástico, é preciso começar pelo real — explica Keane.
O filme é uma coprodução da Netflix com o estúdio chinês Pearl. Ao lado da diretora de arte Céline Desrumaux, o diretor viajou até o país oriental e se inspirou para a criação do visual, que acabou ficando "mais real do que o imaginado”.
— Ao andar por aquelas cidades com Céline, comecei a ver o lugar não como a China costuma ser representada nas animações. Era real, onde pessoas de verdade moram, com tinta descascando nas paredes e tudo. Ela insistia em tirar fotos da cadeirinha plástica no canto, das garrafas na prateleira. Insistia em registrar coisas reais e sua abordagem influenciou o estilo do filme todo — garante Keane.