Duas temporadas do reality show Desafio sob Fogo: Brasil e América Latina reafirmaram um reconhecido talento gaúcho: a arte da cutelaria. A qualidade das facas produzidas por Tom Silva (2018) e Daniel Jobim (2019) já garantiu dois títulos seguidos para o Rio Grande do Sul nas provas disputadas com ferreiros de diferentes países latino-americanos. Agora, é vez do santa-mariense Sandro Boeck buscar o tricampeonato, a partir desta quinta-feira (13), na estreia da terceira temporada do programa semanal, às 23h, no canal por assinatura History. O campeão, além do título continental, recebe o prêmio de US$ 10 mil (cerca de R$ 54 mil).
Especialista em facas dos estilos gaúcha e sorocabana, Boeck está na cutelaria desde 2006. Venceu concursos e dedica-se exclusivamente ao ramo desde o ano passado. Ele acredita que o Rio Grande do Sul tem sua própria história como fator decisivo para o desenvolvimento da cutelaria. Destaca que o Estado foi uma das províncias que mais se embrenhou em guerras para manter suas fronteiras.
— É um dos poucos Estados que têm a faca como integrante de sua indumentária, está na nossa raiz. Aqui também surgiram as primeiras escolas (de cutelaria), bem antes do resto do país, é como se fôssemos a seleção brasileira (risos) — diverte-se Boeck, que lembra ainda que 80% da produção de facas de todo o país é do Rio Grande do Sul
Mesmo experiente na forja, o gaúcho define a participação no reality como “surreal”. Essa temporada, gravada no México, no início do ano, colocou os competidores para forjar peças inusitadas como faca de astronauta, adaga tuaregue e o punhal romano.
Ferreira
Além do gaúcho que luta pelo tricampeonato do Estado, Desafio sob Fogo: Brasil e América Latina tem novidades. A primeira é que quatro dos oito competidores são brasileiros – além de Boeck, Cléber Melo (DF), Milton Rodriguez (PR) e Juliana Baioco (RJ) representam o país contra um argentino, um colombiano e dois mexicanos. E na banca de juízes também tem reforço brasileiro: o paulista Ricardo Vilar se une ao argentino Mariano Gugliotta e a Doug Marcaida, o juiz da versão norte-americana do programa.
Juliana é a primeira mulher a enfrentar as exigentes provas do Desafio sob Fogo, que avalia as elementos como afiação, resistência e acabamento dos instrumentos de corte produzidos pelos concorrentes. Professora de Engenharia de Petróleo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e praticante de esportes radicais, ela se interessou pela cutelaria assistindo ao programa no History. Em fevereiro de 2019, fez um curso no Rio Grande do Sul e depois montou sua própria oficina no Rio.
—É desafiador, uma responsabilidade muito grande de representar todas as mulheres em um ambiente tão masculino, mas foi tranquilo porque sou da engenharia, outro ambiente também dominado por eles — destaca Juliana. — A cutelaria é acolhedora e acho que essa sinergia é legal, vão caindo as barreiras aos poucos. É um ser humano fazendo uma atividade que gosta, que ama, isso é o mais importante.
Assim como Boeck, Juliana ficou impressionada como o tempo anda mais rápido do que o normal durante a disputa – e o quanto isso influencia no resultado final das peças. Mesmo assim, ficou contente com a experiência:
— O fator psicológico, a pressão, o tempo… no fim, tudo isso junto te fortalece muito, porque você consegue fazer coisas que jamais faria.