Entre presídios, bancos e colégios, os espanhóis foram conquistando seu espaço entre os brasileiros. As plataformas de streaming, nos últimos dois anos, apostam cada vez mais em títulos vindos do país europeu após o boom de La Casa de Papel, em abril de 2018. Nesta sexta-feira (31), a Netflix lança a quinta temporada de um de seus fenômenos recentes, Vis a Vis.
Mas é La Casa de Papel, série sobre um grupo de assaltantes liderado pelo Professor, que funciona como um cartão de visitas. Valmir Moratelli, pesquisador e doutor em teledramaturgia pela PUC-Rio, destaca a audácia da trama sobre a execução daquele roubo tido como perfeito e impossível. Os personagens carismáticos e a figura do ladrão como mocinho contribuíram para conquistar os espectadores, segundo Moratelli.
— E se existe algo bom lá na Espanha, o público pensa que devem existir outros produtos na mesma prateleira. É como o cinema nacional de comédia, que tem títulos como Minha Mãe É uma Peça sendo campeões de bilheteria. O mercado se volta para isso quando a procura é boa.
O fenômeno é explicado em números. Segundo a própria Netflix, a Parte 4 de La Casa de Papel foi vista por 65 milhões de lares em todo o mundo nos primeiros 28 dias após seu lançamento, em 3 de abril. No Brasil, a Parte 3 superou títulos como The Witcher, Sintonia e até o fenômeno Stranger Things 3.
Maratonas
Moratelli destaca a influência do cinema sobre as séries, que bebem das temáticas e da estética do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. Racismo, homofobia e violência contra a mulher são debatidos nos longas dele e nos seriados espanhóis.
Esses são alguns dos assuntos que aparecem em As Telefonistas, que ganhou sua última temporada no início de julho. A história de quatro amigas que trabalham em uma companhia telefônica na Madri da década de 1920 fez o público pensar sobre o feminismo e até representatividade.
— Não é nada novo, mas o público tende a assimilar bem personagens que lidam com questões contemporâneas. No caso de Elite, por exemplo, temos estudantes que lutam porque não são aceitos, algo que tem muito apelo por gerar identificação — reforça Moratelli.
Em Vis a Vis, o cenário prisional não é novidade. Logo que chegou ao Brasil, a trama espanhola foi comparada à americana Orange Is The New Black, outro sucesso da Netflix sobre mulheres em conflitos pessoais e em grupo dentro do cárcere. A diferença é o clima de suspense, enquanto a série dos EUA tem tons de comédia. E a falta de verossimilhança se torna um trunfo, segundo Moratelli:
— A Macarena (protagonista vivida por Maggie Civantos) é muito ingênua e passa por consequências absurdas. O público viu Orange Is The New Black e buscou algo parecido. No fim, é um feijão com arroz bem feito, mas sem conexão com a realidade. A presença de Alba Flores (a Nairóbi de La Casa de Papel) também ajudou.
Outro aspecto que explica o boom dos seriados da Espanha no Brasil é uma certa proximidade com as telenovelas. São narrativas com começo, meio e final bem definidos. Esse caráter de obra “fechada” facilita e convida ao hábito de maratonar.
As cinco melhores séries espanholas*
1) As Telefonistas
Ambientada nas décadas de 1920 e 1930, em Madri, na Espanha, a série retrata a vida de quatro mulheres de personalidades bem diferentes e que trabalham na central de uma grande companhia telefônica. Temporadas: 5 (a última com Parte 1 e 2)
2) Merlí
O seriado gira em torno de Merlí Bergeron (Francesc Orella), professor desempregado de filosofia que é jogado numa escola pública de Barcelona, na qual tem que dar aula a alunos do Ensino Médio. Tratando temas como homossexualidade, iniciação sexual e amorosa, drogas e amizade, a série é uma espécie de versão contemporânea do filme Sociedade dos Poetas Mortos (1989). Temporadas: 3
3) Elite
A série se passa em uma escola de classe alta de Madri. Na história, Samuel (Itzan Escamilla, de As Telefonistas), Nadia (Mina El Hammani) e Christian (Miguel Herrán, o Rio de La Casa de Papel) ganharam bolsas de estudos no colégio elitista e se tornaram os primeiros suspeitos do assassinato da rica Marina (María Pedraza, a Alison de La Casa de Papel), diante da piscina da instituição. Temporadas: 3
4) Vis a Vis
O enredo explora assuntos como assédio, aborto, expectativa de vida, drogas e relacionamentos. Atrás das grades, Macarena (Maggie Civantos) lidará com diferentes tipos de mulheres. Cachinhos (Berta Vázquez), por exemplo, tentará engatar um romance com ela, enquanto Zulema (Najwa Nimri), sua inimiga, fará de tudo para conseguir dinheiro escondido e ser libertada. Temporadas: 5
5) La Casa de Papel
Dois assaltos são realizados por uma trupe audaciosa. Nas duas primeiras temporadas, o grupo liderado pelo Professor (Alvaro Morte) toma a Casa da Moeda, enquanto os outros dois anos mostram eles atuando em um novo roubo no Banco da Espanha. Temporadas: 4
*Ranking elaborado por Valmir Moratelli e pelos repórteres Marina Pagno e Júlio Boll. Todas as séries estão disponíveis na Netflix.