Um vírus circulando. Distanciamento. Contato físico não recomendado. Emoções à flor da pele. Parece até que estamos falando do nosso momento atual, mas, na verdade, esse é o resumo de um enredo de ficção. Boca a Boca, nova série brasileira da Netflix, estreia nesta sexta-feira (17) com uma trama sinistra que mostra, em seis episódios, uma cidadezinha aterrorizada por uma doença misteriosa transmitida pelo beijo.
A produção foi gravada há um ano, quando ninguém imaginava como seria 2020 – muito menos o criador e diretor-geral Esmir Filho (conhecido pelos filmes Alguma Coisa Assim e Os Famosos e os Duendes da Morte), que se considera o “cineasta paulista mais gaúcho que existe” após diversos trabalhos no cinema do Rio Grande do Sul e agora faz sua estreia no streaming.
— A gente não esperava (risos). Mas chega em boa hora, pois ela lança uma lupa nas relações amorosas e familiares. É parecido com o que estamos vivendo aqui. A série traz uma mensagem calorosa sobre afeto e acolhimento. Espero que as pessoas recebam com um abraço — disse Esmir em entrevista por telefone a GaúchaZH.
Conservadorismo e epidemia
A história se passa na fictícia Progresso, município do interior onde o progresso só se restringe ao nome mesmo. Os jovens atores Caio Horowicz (Hebe), Michel Joelsas (O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias) e Iza Moreira lideram um grupo de adolescentes que bate de frente com uma sociedade que valoriza as tradições e os “bons costumes”. Definitivamente, os jovens de Progresso não querem ser "belos, recatados e do lar".
— Os pais querem uma sociedade perfeita para os filhos. E os filhos querem viver seus desejos. É o confronto entre uma comunidade moralista e jovens que querem se descobrir e lutar contra o preconceito, a intolerância e a discriminação — explica o diretor.
O “vírus do beijo” acaba entrando na história não de uma forma microscópica, mas fantasiosa. Através da epidemia, os “podres” da cidade e de seus moradores vêm à tona. Para retratar a transmissão, Boca a Boca abusa do suspense: ao ser infectada, a boca da vítima começa a trocar de coloração, passando do roxo para o preto - cenas típicas de um terror trash.
No elenco, também estão atores mais experientes como Bruno Garcia e Denise Fraga. A atriz dá vida a Guiomar, diretora da escola da cidade que fará de tudo para acobertar a epidemia.
— A Guiomar é bem diferente de mim. Ela não é exatamente uma vilã, daquelas duras e clássicas. Mas ela é uma vilã de alguma maneira. É uma mulher que tem um monte de coisa dentro dela e que justifica o que ela faz — descreveu Denise à reportagem.
Mesmo que Boca a Boca seja uma série de drama, com pitadas de mistério e suspense, o objetivo é passar uma mensagem de amor pelas entrelinhas.
— Eu costumo dizer que é uma fábula do afeto. Tem uma pegada de thriller, mas é muito emocional. É a construção de como a conexão entre as pessoas é importante nos momentos difíceis — concluiu o diretor Esmir Filho.
— Uma das coisas que eu fico feliz da série estrear agora é que você vai vendo que as pessoas vão olhando para si mesmas diante dessa situação. Há uma grande reavaliação da vida de cada um, tudo aparece, tudo é deflagrado. De alguma maneira, o que vence é o afeto — afirmou Denise Fraga.