Você que acha novela uma perda de tempo, mero entretenimento, alienação ou diversão vazia, reveja seus conceitos. Há algum tempo a teledramaturgia tem um papel que vai muito além do mero passatempo. Por mais que sejam obras de ficção, traçam um paralelo cada vez maior com a nossa realidade. E isso é, sim, fundamental nos dias de hoje.
O grande exemplo da importância de uma novela nas discussões da atualidade é a trama das 21h, Amor de Mãe. Não é apenas sobre os limites da maternidade, há temas ainda mais profundos em cada núcleo da história. Mas, nos últimos dias, quem ganhou força foi Camila, personagem da maravilhosa Jéssica Ellen. Professora recém-formada, idealista, acredita que só a educação pode mudar o mundo. E, em nome disso, coloca em risco a própria vida.
Nas cenas desta segunda-feira, por exemplo, Camila deu voz a muitas mulheres que, como ela, precisam ser fortes para superar os desafios do dia a dia. Vejam a força desse diálogo:
— Eu tenho que ser forte porque a gente é pobre e eu quero estudar, aí eu tenho que passar de primeira, porque eu não posso perder nenhuma chance. Nenhuma! Eu tenho que ser forte porque sou mulher, e pra mulher tudo é mais difícil. Eu tenho que ser forte porque eu sou preta, e a gente vive num país racista. Eu tenho que ser forte porque eu sou professora. Eu tô cansada, mãe! Eu tô cansada de ser forte!
Lurdes, interpretada pela irretocável Regina Casé, transmite mais uma de suas lições de vida à filha:
— Se a gente for bem forte, a filha que tá dentro da tua barriga vai poder fraquejar. Vai poder ser frágil. Vai poder ir pro colinho. Por enquanto não dá, não, filha. Mas uma coisa eu posso te dar, uma certeza: enquanto eu tiver vida, eu vou estar aqui, do teu lado.
Em uma cena aparentemente simples, onde "nada acontece", duas atrizes brilhantes dão força a um diálogo arrasador. É impossível não se emocionar. A repercussão da cena, nas redes sociais, foi imediata:
Do outro lado da história, temos a ganância de Álvaro (Irandhir Santos), um empresário que se aproveitou da tragédia para fechar a escola, já que a instituição era um empecilho a seus objetivos. E, no meio, vemos uma confusa Vitória (Taís Araujo), advogada que se vê entre a ética e o contrato profissional. Entre fazer o que é certo ou prejudicar a própria carreira. Não é assim a vida? Repleta de dilemas que, muitas vezes, não sabemos como resolver?
Amor de Mãe é muito mais do que uma novela, é um objeto de discussões sociais, psicológicas, emocionais e éticas. É o tipo de trama que, ao fim de cada capítulo, deixa o telespectador com várias "pulguinhas" atrás da orelha. Faz refletir e questionar, afinal, é o que nos resta na conturbada sociedade brasileira.