A desenvoltura de Walcyr Carrasco para construir diferentes tipos de tramas foi vista, mais uma vez, em A Dona do Pedaço, novela das nove da Globo que chega nesta sexta-feira (22) a seu último capítulo, às 21h15min, na RBS TV. Com mais de 15 folhetins em seu currículo, o dramaturgo já tinha garantido elogios, recentemente, com O Outro Lado do Paraíso (2017) e a série Verdades Secretas (2015).
Com uma protagonista que espelha a vida de muitos brasileiros, Maria da Paz (Juliana Paes), Carrasco apostou em uma história moderna ambientada em São Paulo. A boleira foi envolvida pelos planos de sua filha ambiciosa, Josiane (Agatha Moreira), e do interesseiro playboy Régis (Reynaldo Gianecchini), perdeu sua fábrica e todo o seu dinheiro, mas não se abalou e deu a volta por cima.
— Eu gosto de Maria da Paz pela mensagem positiva que ela emana. A luz que a personagem tem, aliada à direção de Amora Mautner e à maravilhosa interpretação de Juliana Paes, fizeram de Maria da Paz um sucesso — diz Walcyr Carrasco, em entrevista por e-mail a GaúchaZH.
Ao mesmo tempo, em outros núcleos, a exposição desenfreada dos influencers digitais (caso de Vivi Guedes, papel de Paolla Oliveira) e a aceitação de um pai gay (debate promovido por Agno, personagem de Malvino Salvador) foram alguns dos assuntos debatidos pela novela, que registrou média de mais de 40 pontos de audiência.
Mesmo abordando diferentes temas, o autor acredita que não existe uma fórmula, e muito menos uma soma de fatores, que tenha como resultado final uma garantia de sucesso:
— Escrever novela é um processo intuitivo, onde a emoção do autor fala com a do telespectador. Para mim, este é o segredo de uma boa novela.
Surpresas
Durante o processo de roteirização, Carrasco conta que os personagens ganham vida própria. Fabiana (Nathalia Dill), a ex-noviça golpista que se apropriou da fábrica de bolos, e o fotógrafo Téo (Rainer Cadete) conquistaram mais espaço no decorrer da novela.
— É como se fossem pessoas que se comunicassem comigo. Não houve mudança de rumo, mas alguns ganharam espaço, como Fabiana, que se tornou uma supervilã, e Téo, que se apaixonou por Josiane — explica o autor.
Ao longo dos 161 capítulos de A Dona do Pedaço, o público criticou algumas incoerências, como o fato de Cornélia (Betty Faria, com 78 anos) ser a mãe de Eusébio (Marco Nanini, 71) – o que foi corrigido no andamento da novela, em um diálogo, colocando os dois como irmãos. Além disso, as redes sociais questionaram o fato de a procuração que devolvia a fábrica a Maria da Paz ter ficado tanto tempo na gaveta da casa de Beatriz (Natália do Vale). Para o escritor, estes fatos não foram incoerentes:
— Na vida, há situações que nos surpreendem, coincidências extremas. Tenho certeza que a maioria das pessoas que está lendo esta matéria já passou por isso. A vida é muito surpreendente, muito mais do que uma novela. Eu só não tenho medo de retratar o surpreendente da vida.