Fernanda Montenegro completa 90 anos no dia 16 de outubro e ganhou todo um mês de homenagens na Globo, a emissora onde trabalha há quase 40 anos.
No dia 11, uma sexta-feira, ela estará no Encontro com Fátima Bernardes e, durante a noite, o Globo Repórter fará uma retrospectiva de sua carreira. No dia 14, uma segunda, a sessão Tela Quente exibirá o filme que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz: Central do Brasil, em cópia restaurada.
Mas, antes disso, Fernanda estará no Conversa com Bial desta quinta-feira (3), ao lado da escritora Marta Góes. Juntas, elas escreveram a autobiografia de Fernanda: Prólogo, Ato, Epílogo, que já chegou às livrarias.
O colunista Tony Goes, da Folha de São Paulo, acompanhou a gravação do programa na plateia, e conta detalhes sobre a conversa que vai ao ar após o Jornal da Globo.
Confira:
"Bial foi genro de Fernandona: durante um breve período na década de 1980, ele foi casado com Fernanda Torres, a Fernandinha. A intimidade entre entrevistador e entrevistada é tão grande que a conversa fluiu naturalmente, como se as câmeras não estivessem ali.
Com o livro nas mãos, Bial ia lembrando passagens da vida de Fernanda, que ela completava com riqueza de detalhes e uma dose indisfarçável de emoção. A atriz falou dos pais, filhos de imigrantes — o pai, de portugueses, e a mãe, de italianos da Sardenha. Falou das irmãs, de várias das peças que protagonizou, dos muitos amigos que perdeu.
Também falou muito de seu marido, o ator e diretor Fernando Torres, morto em 2008. Mesmo depois de 12 anos, sua ausência ainda dói na atriz: Fernanda deixou claro que esta é uma perda que ela jamais irá superar.
Como o assunto eram as memórias de sua convidada, Bial evitou tocar num assunto desagradável: as ofensas direcionadas a Fernanda por uma figura do quarto escalão do governo Bolsonaro, cujo nome nem merece ser citado. Chamada de "sórdida" e "mentirosa" por alguém que desconhece sua integridade ou simplesmente não bate bem da cabeça, a atriz teve a elegância de ignorar seu agressor.
Mas a política deu as caras no finalzinho do programa. Depois de homenagear sua amiga Dercy Gonçalves, Fernanda soltou um desabafo sobre o momento de obscurantismo que o Brasil atravessa.
— Nós, atores, somos tão poderosos, tão importantes, que quando tem crises na área da cultura, o autor desaparece, o produtor desaparece. Quem leva sempre a culpa é o ator, é a atriz. Nessa crise toda da Lei Rouanet, sobrou para nós, atores. Nós estamos vivendo isso agora. A 'responsabilidade', entre aspas, do que 'não deu certo', entre aspas, está em cima do ator. Somos nefandos! — disse a atriz, sob aplausos da plateia.
Bial encerrou o programa parafraseando Nelson Rodrigues:
— 'O Brasil vai subir no próprio conceito no dia em que entregar a Fernanda Montenegro o país que ela merece'. Nunca me senti tão longe desse dia, mas que bom que merecemos Fernandona."