São poucas as séries que têm a coragem de Carnival Row. Lançada no último final de semana na Amazon Prime Video, considerada uma das maiores apostas do ano da plataforma, a produção estrelada por Orlando Bloom (Piratas do Caribe e O Senhor dos Anéis) e Cara Delevingne (Esquadrão Suicida) fala sobre um tema espinhoso, mesmo que nas entrelinhas: a imigração nos Estados Unidos.
Para isso, os roteiristas Travis Beacham (produtor de Círculo de Fogo) e Rene Echevarria (de Star Trek: Deep Space Nine), supervisionados por Guillermo Del Toro (de O Labirinto do Fauno) em um primeiro momento, criaram um universo mágico na Inglaterra da era vitoriana. Nela, há humanos convivendo normalmente com fadas (chamadas de faes), centauros e outros tipos de criaturas mágicas.
Essa mistura incomoda no começo, mas os fãs do gênero fantasia conseguem se adaptar rapidamente. No evoluir dos oito episódios - de uma hora cada -, qualquer espectador achará normal um investigador humano ter um contato sexual com uma fada. Afinal, assim é Carnival Row, com a paixão da fae Vignette (Delevigne) pelo policial Rycroft "Philo" Philostrate (Bloom).
As diferenças entre os seres mágicos e os humanos, no vilarejo, acentuam-se quando as fadas são obrigadas a migrar para o local após serem expulsas de suas terras. A população, no entanto, não parece lidar bem com a onda migratória: assassinatos brutais de faes apimentam os episódios, acompanhando as investigações de Philo. Graças a essa "invasão", o reencontro do casal protagonizado pela dupla hollywoodiana acontece. Os dois se conheceram durante a guerra, mas foram obrigados a se afastar, passando um período de sete anos com Vignette acreditando que seu amado estivesse morto.
Um novo Game of Thrones?
As diferenças entre os dois povos ganham amplitude com as histórias secundárias: o chanceler Absalom (Jared Harris, de Chernobyl) tenta administrar a cidade enquanto a mulher Piety (Indira Varma, a Ellaria Sand de Game of Thrones) ambiciona o poder; e o recém-chegado fauno Agreus (David Gyasi) vive às turras com os seus vizinhos, os irmãos Imogen (Tamzin Merchant) e Ezra (Andrew Gower). Além da imigração, o seriado consegue debater o racismo - questões mais do que recorrentes nos EUA.
Mesmo com tantas brechas, a trama vai amarrando todas as pontas e gera expectativa para uma segunda temporada, já confirmada pela Amazon. Os aspectos técnicos - como a fotografia e os efeitos especiais à altura de qualquer blockbuster - fazem de Carnival Row uma das séries mais badaladas do ano. Em alguns momentos, soa como uma tentativa de se apropriar do espaço deixado por Game of Thrones. Até há potencial para isso, mas o excesso de fantasia faz o seriado parecer um produto extraído do mundo de J.R.R. Tolkien. Não que isso seja ruim. Os geeks de plantão até agradecerão sua existência, mas ainda está longe de ser aplaudido por todos os espectadores.