Disponível na Netflix desde o dia 31 de maio, Bandidos na TV vem conquistando a audiência ao contar a história do polêmico apresentador e político Wallace Souza. Com um programa na TV aberta, durante os anos 1990 e início dos anos 2000, o apresentador acabou acusado de provocar mortes para exibi-las ao seu público, aumentando a repercussão do Canal Livre, exibido em Manaus.
Dividida em sete episódios, a série que reconta a trajetória de Wallace está sendo distribuída em 190 países. A direção é de Daniel Bogado.
— Essa história tem uma premissa cativante. Um apresentador que, supostamente, matou pessoas para transmitir as mortes no seu programa. Quando começamos a pesquisar, constatamos que isso é apenas o ponto de partida. Os acontecimentos seguintes são repletos de reviravoltas e choques — disse Bogado em entrevista ao site BBC Brasil.
Herói dos amedrontados
Misturando casos de polícia com brincadeiras, o Canal Livre costumava ter como plateia pessoas da classe baixa de Manaus, no Amazonas, e dava espaço para o drama desse público, que confessava diante das câmeras as dificuldades de não ter emprego ou comida na mesa.
Mas seu principal ingrediente era a violência. Exibia corpos de pessoas assassinadas e familiares lamentando em volta dos mortos — gravações que muitas vezes eram feitas antes de a polícia chegar ao local do crime. Diante dos excessos, Wallace Souza cobrava ação do poder público.
— Manaus não pode virar uma terra sem dono — vociferava o apresentador.
Ex-policial civil expulso da corporação por suspeita de desvio de gasolina — acusação que sempre negou —, Wallace acabou conquistando a simpatia dos amazonenses. Candidatou-se a vereador em Manaus em 1996, mas não conseguiu se eleger. Tentou entrar para a política novamente em 1998, concorrendo a deputado estadual. Angariou cerca de
50 mil votos e se reelegeu duas vezes, em 2002 e 2006. Como tema de campanha, sempre prometia acabar com a criminalidade.
De incriminador a possível bandido
Até que, em 2009, foi apontado como causador da violência que tanto combateu diante das câmeras. Um ex-policial militar chamado Moacir Jorge Pereira da Costa entrou na Justiça contra Wallace Souza dizendo que o apresentador do Canal Livre comandava uma quadrilha que provocava mortes para transmitir no programa.
Wallace foi investigado pelos crimes de formação de quadrilha, tráfico de drogas, ameaça a testemunhas e porte ilegal de armas. No mesmo ano, o Fantástico exibiu outras denúncias e a polêmica virou o Caso Wallace, que ficou conhecido mundialmente.
Com o mandato cassado pela Assembleia Legislativa do Amazonas em outubro daquele ano, alguns dias depois teve a prisão decretada pela Justiça por associação ao tráfico. Acabou morrendo em 2010 após sofrer uma parada cardíaca. Ainda em fase inicial, os processos penais contra ele foram suspensos.
Seu filho, Raphael Souza, acusado com o pai, foi condenado pela morte de um homem envolvido com o tráfico em Manaus — o corpo teria sido exibido no Canal Livre. Em maio daquele ano, os irmãos de Wallace, Fausto e Carlos Souza, também foram condenados por associação ao tráfico de drogas. Por assumirem o discurso de combater a violência e defender a população, o trio chegou a se intitular Irmãos Coragem durante o auge do Canal Livre.
Em entrevista recente, Carlos Souza, que segue em liberdade enquanto aguarda o caso ser analisado por instâncias superiores, disse que tudo não passa de uma "trama diabólica":
— Quem assiste à série não tem mais dúvida de que tudo foi uma trama diabólica urdida para destruir politicamente uma família, culminando com a morte do meu irmão.