A atriz e apresentadora Giovanna Ewbank, 32 anos, decidiu não ignorar as críticas que recebeu, nos últimos dias, por supostamente erotizar a profissão de enfermeira e decidiu gravar um vídeo com a presidente do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo, Renata Pietro.
— Abriu minha cabeça de uma maneira muito esclarecedora — afirmou.
A polêmica envolvendo Ewbank teve início na semana passada, quando ela entrevistou a atriz Ingrid Guimarães, 46 anos, para seu canal no YouTube. Na ocasião, as duas apareceram com fantasias eróticas de enfermeiras para falar sobre vibradores e sobre o filme De Pernas Pro Ar 3, que tem Guimarães como protagonista.
A brincadeira, no entanto, não foi bem vista por algumas enfermeiras que apontaram o vídeo como uma forma de erotizar a profissão. Em uma carta aberta às duas atrizes, Renata afirmou que a categoria é "estigmatizada por uma forte carga sexual, que não tem qualquer relação com as nossas atribuições diária".
— Abordagens como essa são um empecilho para a nossa luta em busca de reconhecimento. Deparar com uma referência dessas à profissão mostra que ainda temos um longo caminho a ser percorrido, no sentido de quebrar paradigmas e mudar uma cultura há décadas arraigada em nossa sociedade — afirmou a enfermeira na carta.
Após a divulgação do texto, Ewbank resolveu abrir seu canal para Renata.
— Eu recebi uma carta aberta dessa mulher, Renata Pietro, explicando várias questões importantíssimas sobre a erotização da profissional de enfermagem e que me fez abrir a cabeça de uma maneira muito esclarecedora — afirmou a atriz em seu Instagram.
A entrevista com a enfermeira ainda não foi divulgada, mas, em suas redes sociais, Ewbank agradeceu à enfermeira:
— Te agradeço porque a carta abriu o diálogo. Não foi nem um pouco agressiva, e hoje fiz questão de trazer essa mulher para bater um papo pra falar sobre essas questões. Então, logo logo, vai ter no canal — afirmou.
Veja a carta aberta a Giovanna Ewbank e Ingrid Guimarães
Olá, Giovanna e Ingrid.
Sou Renata Pietro, enfermeira, presidente do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP). Acabei de assistir ao vídeo no qual vocês estão fantasiadas de enfermeiras e discutindo, entre outros assuntos, artigos eróticos. Tenho mais de 20 anos de profissão e desde que comecei meus estudos, e mesmo antes deles, a minha profissão, a enfermagem, é estigmatizada por uma forte carga sexual, que não tem qualquer relação com as nossas atribuições diárias.
Abordagens como essa são um empecilho para a nossa luta em busca de reconhecimento. Estamos a 15 dias do início do mês da Enfermagem, um período em que o Coren-SP desenvolve campanhas de valorização da categoria, inclusive com a participação voluntária de muitos artistas e influenciadores, e nos deparar com uma referência dessas à profissão mostra que ainda temos um longo caminho a ser percorrido, no sentido de quebrar paradigmas e mudar uma cultura há décadas arraigada em nossa sociedade.
Felizmente, há iniciativas nacionais e internacionais que vieram para mostrar que não estamos sozinhas. A campanha "Nursing Now", idealizada pela Organização Mundial da Saúde, traz a duquesa de Cambridge, Kate Middleton, e a atriz Emilia Clarke (de "Game of Thrones"), como suas embaixadoras. É um alento e uma grande motivação saber, enquanto profissional de enfermagem, que não estamos remando sozinhos. E esta mensagem é para chamar vocês, grandes atrizes e mulheres brasileiras, a compartilharem conosco essa jornada, pelo empoderamento feminino e pela sororidade.
A enfermagem é a categoria da saúde que passa 24 horas por dia ao lado dos pacientes. Atuamos em todas as fases da vida das pessoas, desde o nascimento, passando pelos cuidados preventivos, paliativos, até os momentos mais difíceis. Trabalhamos com indivíduos de todos os gêneros, idades e classes sociais, na saúde pública ou privada.
No país, a enfermagem corresponde a 80% da força de trabalho da área da saúde. E no estado de São Paulo, sou uma em um universo de cerca de 450 mil mulheres que integram a profissão. Nós, mulheres, correspondemos a cerca de 86% de todos os profissionais de enfermagem do estado.
No vídeo de vocês, o uso de termos como "vestida desse jeito" e "ela não só veio vestida de enfermeira como também trouxe brinquedos" reduz a profissão a uma mera fantasia sexual. A enfermagem é uma profissão que depreende anos de estudo e aperfeiçoamento. Sua classificação fantasiosa é apenas mais um exemplo de um machismo estrutural que reduz o trabalho feminino a questões sexuais. Não são poucos também, por exemplo, os casos de feminicídio praticados contra profissionais de enfermagem, o que só demonstra o tamanho da luta que temos para além de nossa rotina de trabalho.
Em uma breve busca de imagens no Google, vocês podem ver que o resultado para "enfermeira" é bem diferente do para "enfermeiro". Precisamos mudar a visão de que mulheres profissionais de enfermagem (que também são auxiliares e técnicas, além de enfermeiras), assim como secretárias, professoras e outras, sempre sejam lembradas com uma carga erótica que não condiz com o seu real trabalho. Imagino que vocês também se sentiriam incomodadas e pouco representadas com qualquer imagem que pudesse distorcer a profissão de vocês. Como figuras públicas, formadoras de opinião e principalmente, mulheres, peço que não se refiram mais a qualquer trabalhadora como um fetiche.
Vamos, juntas, permanecer em ação para que a força de trabalho feminina não seja restringida ao erotismo. Vamos, juntas, lutar cada vez mais pela valorização da mulher.
Um abraço,
Renata