A vida da sexagenária Maria parece completamente nos eixos. Casa quitada, família constituída, carro na garagem e filhos encaminhados. Mas um detalhe provoca uma avalanche em sua estável rotina. E o descompasso resultante é tão grande que a lança em uma jornada de aprendizado, autoconhecimento e esperança por dias melhores.
Meditation Park, filme com sessão de pré-estreia nesta quarta-feira (17) no Guion Center, às 15h45min – entra em cartaz nesta quinta-feira no circuito, mostra com exatidão este tipo de surpresa que a vida pode nos proporcionar. Com direção de Mina Shum, o longa estrelado por Cheng Pei Pei (de O Tigre e o Dragão) e Sandra Oh (vencedora de dois Globos de Ouro, pelas séries Grey’s Anatomy e Killing Eve) retrata a crise enfrentada por uma mulher de 60 anos que percebe o quanto a submissão a um casamento pode custar caro. Mas também percebe que nunca é tarde para recomeçar.
Tudo começa quando Maria (Cheng Pei Pei) descobre uma peça de roupa íntima feminina no bolso de seu marido. Sempre dedicada à família e aos filhos, ela vê seu mundo desmoronar. Esta jornada, que poderia culminar em dias difíceis, é encarada como chance de renovação pela matriarca, que contará no processo com a ajuda da filha Ava (Sandra Oh).
— Ava é extremamente forte e precisa se manter no meio da família, encarar o pai, mesmo que não concorde com ele. Aprendi que o respeito vem em primeiro lugar e que é preciso se manter firme quando as coisas parecem erradas — explica Sandra, em entrevista por telefone a GaúchaZH (leia mais abaixo).
Preocupada em tomar um rumo, Maria procura emprego, faz novos amigos e até persegue o marido em busca de respostas. Com essa postura da protagonista, Meditation Park discute a importância da independência financeira, o valor da amizade e, sobretudo, o feminismo. Tudo no contexto de uma família de imigrantes chineses que vive no Canadá.
Parceria longa entre atriz e diretora
A produção marca a parceria de mais de 20 anos entre Sandra e a diretora Mina Shum, que trabalharam juntas em produções como Os Dois Lados da Felicidade (2007) e Vida Longa, Felicidade & Prosperidade (2002). A dobradinha é símbolo de luta para a atriz consagrada por encarnar Cristina Yang no seriado médico Grey’s Anatomy, entre 2005 e 2014 – papel que lhe valeu o Globo de Ouro de atriz coadjuvante em série em 2006.
— É ótimo quando você tem tempo para evoluir com alguém. O trabalho dela (Shum) é tão multicultural, relevante. E ela tem conseguido conectá-lo com a comunidade asiática do Canadá. Seus trabalhos mostram muito o quanto ela ama isso, como eu mesma tenho feito — diz Sandra.
SANDRA OH: “Acredito no que estou fazendo”
Com 47 anos, Sandra Oh marcou a sua trajetória por atuações em filmes como Sideways: Entre Umas e Outras (2004) e na série Grey’s Anatomy. Fez história no Globo de Ouro 2019 ao se tornar a primeira mulher asiática a ganhar dois troféus na premiação – o segundo foi de melhor atriz, por Killing Eve, seriado em que vive uma espiã conectada de forma obsessiva à assassina.
O que esperar da segunda temporada de Killing Eve? Como em Grey’s Anatomy, teremos mortes a caminho?
Que tipo de pergunta é essa? Fiquei assustada (risos). Posso adiantar que Eve está bem mais sombria em relação a antes. Tenho dito que ela vivia no País das Maravilhas. Agora é quase um cenário de horror. Ela acredita mesmo no que está fazendo e é o que eu e ela temos em comum. Também acredito no que estou fazendo.
Alguma possibilidade de você voltar para Grey’s Anatomy?
Eu realmente não me vejo retornando, não sinto vontade. Sei o quanto os fãs amam a Cristina e o quanto a série mantém sua memória viva, mas estou priorizando Killing Eve. Foi um período importante, mas eu não tenho a mesma memória afetiva em relação a ela. A vida continua.
No Globo de Ouro, você criticou a falta de papeis para asiáticos em Hollywood. As coisas estão melhorando?
Aos poucos, o cenário está melhorando. A gente precisa continuar trabalhando duro para conquistar mais papéis relevantes. Estou orgulhosa por dar voz aos asiáticos. Precisamos colocar mais pessoas da nossa cultura na história, e tenho certeza de que isso vai acontecer!