Enquanto grande parte dos fãs de filme de super-heróis se estapeia por um ingresso para a estreia de Vingadores: Ultimato, que chega aos cinemas em 25 de abril, cinéfilos alternativos têm outra opção para curtir em Porto Alegre nesta semana.
A primeira adaptação de Quarteto Fantástico para o cinema, um longa-metragem trash gravado em 1994, de forma quase artesanal, e nunca lançado oficialmente, terá sessão especial nesta quinta-feira, a partir das 21h, no Mondo Cane (Rua João Alfredo, 325), como parte da programação do evento mensal Filmes Para Doidos. A sessão é gratuita.
A história até segue com alguma proximidade os eventos das histórias em quadrinhos, concentrando-se na transformações dos heróis após um mal=sucedido voo espacial e na inimizade do grupo com seu maior vilão, Doutor Destino. Mas, diferentemente das versões que chegaram ao cinema a partir de 2005, o elenco é de uma canastrice atroz e a produção tem mais enjambres do que efeitos especiais: para o Senhor Fantástico esticar os braços, são usados truques de câmeras, o Coisa usa uma fantasia de plástico e a versão incandescente do Tocha Humana parece um fantasma digital.
Quem organiza a exibição é o jornalista e cinéfilo Felipe Guerra, dono de um blog de mesmo nome. Apaixonado por filmes lado B e, especialmente, por essa primeira versão cinematográfica dos quatro heróis da Marvel, ele diz que, apesar da tosquice da produção, esse ainda é o melhor roteiro de um filme do Quarteto Fantástico até hoje.
— Diz a lenda que o filme custou menos de US$ 1 milhão. O filme é fraco, a história é fraca, tem problemas evidentes de roteiro, mas ainda acho o melhor Quarteto Fantástico que fizeram. Os outros, mesmo com muito mais dinheiro, são piores. Este, com quase nada, é muito mais divertido — diverte-se Guerra.
Longa foi jogada de produtores para manter direitos sobre os personagens
O filme é cercado de lendas entre os cinéfilos lado B: nunca lançado oficialmente, diz-se que foi uma jogada do produtor alemão Bernd Eichinger, da Neue Constantin, a mesma produtora de A História sem Fim (1984), para garantir os direitos sobre os personagens: caso não fosse produzido nada, a concessão expiraria e os personagens voltariam para a Marvel negociar livremente no mercado. Por isso, a produção teria sido agilizada com o mínimo de verba possível e sem a intenção de ser lançado nos cinemas – sem que ninguém da equipe soubesse das intenções, ou da falta delas.
Eichinger viria mais tarde a produzir outra versão recente do Quarteto, o blockbuster de 2005. Stan Lee, à época, confirmou que nunca houve a intenção de lançar o filme e que os atores não sabiam da jogada. Em 2015, a história gerou um documentário, Doomed, que conta a história por trás da produção. Também se fala que Avi Arad, executivo que seria mais tarde um dos responsáveis pela nova onda de super-heróis no cinema ao capitanear as primeiras adaptações do Homem-Aranha , de Sam Raimi, pagou do próprio bolso o valor do orçamento do filme para poder retirá-lo do mercado sem que fosse exibido. O que só aumentou o status de "cult trash" das poucas cópias que sobreviveram.
– Gosto desses filmes segregados, esquecidos – diz Guerra, que fez as legendas ("não que precise, é uma bobagem completa") e organizou toda a sessão: – Acho legal valorizar as dificuldades e a criatividade desses produtores.