O quarteto de belas e espertas garotas de programa da série brasileira O Negócio, que retrata o universo da prostituição de luxo, volta ao canal HBO a partir deste domingo, às 21h. Karin (Rafaela Mandelli) se reúne com as sócias Luna (Juliana Schalch), Magali (Michelle Batista) e a novata Mia (Aline Jones) nesta quarta e última temporada para colocar em prática o seu sonho de construir um prédio dedicado à arte do sexo.
Paralelamente ao megalômano projeto, a mentora do grupo dá um novo passo em sua cruzada para combater o preconceito contra as mulheres que exercem a "profissão mais antiga do mundo". Com esse objetivo, Karin lançará um livro de memórias no qual contará as suas experiências de vida e das sócias. Mas colocar a obra para circular será mais custoso e traumático do que levantar um prédio de vários andares em plena capital paulista. Isso porque, ao expor as personagens em seu relato, suas famílias também serão afetadas.
Contar aos pais que elas são garotas de programa antes que saibam pelo livro é o dilema que permeará todo o primeiro dos 12 episódios dessa temporada. Com o já afamado cuidado visual, produção primorosa e diálogos inteligentes, incisivos e apimentados por um humor sofisticado, O Negócio trata o sexo e o desejo sem apelação. As participações de Guilherme Weber como o hilário cafetão Ariel e de Gabriel Godoy no papel do bon vivant Oscar só acrescentam brilho à série.
A seguir, Rafaela Mandelli e Aline Jones sobre o programa e suas personagens.
A prostituição ainda é um grande tabu. Vocês acreditam que a série contribui para, ao menos, minimizar esse mal-estar em relação à profissão e também no que diz respeito ao sexo e ao desejo?
Rafaela Mandelli - Sempre tivemos a preocupação de, principalmente, não fazermos julgamentos em relação ao trabalho das garotas de programa, e acredito que conseguimos esse intuito. Uma boa prova de que a série ajuda a minimizar o preconceito é o fato de o nosso público feminino ser muito grande. Sinto que a identificação com as mulheres acontece porque as personagens decidem a própria vida, sabem como, quando e com quem querem fazer sexo. Inclusive elas escolheram a profissão.
Aline Jones - Só o fato de não retratar a prostituição clássica e seus clichês, de não focar na mulher que, por uma circunstância da vida, teve de se submeter ao ofício, já é uma contribuição da série para essa discussão. Em 'O Negócio' fica claro que a profissão não está só relacionada à imagem da prostituta da esquina. Na história, o contexto é de consumo de luxo, foge do submundo e aproxima esse universo do dia a dia da classe média e dos mais ricos. O programa mostra que alguém que trabalha ao seu lado ou que estuda com você na faculdade pode ser garota de programa.
A Karin sairá vitoriosa em sua cruzada contra o preconceito?
Rafaela Mandelli - A luta da Karin é incessante, ela está sempre na batalha, na conquista de seus objetivos, nunca descansa. E essa luta é travada desde a primeira temporada. Por ser fortemente enraizado, ela sabe que é muito difícil o preconceito ceder.
Por mais que o ator tenha de se doar aos papéis que lhe chegam, como é para vocês encarnar uma garota de programa? Teve estresse familiar quando contaram sobre suas personagens?
Rafaela Mandelli - Como atriz, não posso ter preconceito de encarar nenhuma personagem. E em casa não rolou estresse.
Aline Jones - Para o marido e os amigos eu expliquei e encararam numa boa. Para os meus pais foi mais difícil. Não aconteceu como os da Mia, meu papel (sem spoilers!), mas para eles entenderem que a filha estava na tela da TV interpretando uma garota de programa foi complicado. Quando contei para minha mãe, tentei ao máximo fazer com que ela sentisse empatia pela personagem. E, com meu pai, quando aparece alguma cena minha de sexo (ela assiste à série com a família em Porto Alegre (RS), onde mora), eu brinco e falo: "Pai, está na hora de você fazer pipoca".
Em um momento em que casos de assédio sexual repercutem na mídia envolvendo atores, como O Negócio contribui para essa discussão?
Rafaela Mandelli - O assédio é uma coisa horrorosa que tem de ser combatida. Como a série mostra mulheres fortes, que tomam as rédeas de suas vidas, inclusive a sexual, escolhem o cliente, decidem o valor, escalam a própria agenda, acredito que é uma maneira de mostrar uma força e uma independência que pode ajudar nessa discussão. Não é à toa que o público feminino admira as personagens.
ALINE JONES - A série ajuda, com certeza, na discussão sobre o assédio, porque as personagens são muitos empoderadas. A trama mostra até onde se pode ir e como tratar esses avanços quando eles não são bem-vindos. A Mia me ajudou muito a lidar com os assédios do dia a dia. Com ela, aprendi a reagir. Tenho 26 anos e, às vezes, me sinto uma menina-moça, e a personagem me fez encontrar a minha força como mulher. Vivemos um momento em que é muito importante abraçarmos esse poder feminino.