2017 parece ser o ano da escritora canadense Margaret Atwood – que completa 78 anos neste mês. Depois do sucesso de The Handmaid’s Tale, lançada em abril pelo serviço de streaming Hulu (ainda indisponível no Brasil), outra obra da escritora foi adaptada para a TV. Com seis episódios de 45 minutos, Alias Grace é a grande estreia da Netflix neste final de semana.
Baseada no livro homônimo lançado em 1996, inspirado em um episódio real, a série conta a história da empregada doméstica de origem irlandesa Grace Marks, condenada, em 1843, pelo assassinato do patrão e da governanta da casa em que trabalhava. Sarah Gadon (a Helen de O Homem Duplicado) interpreta o papel principal, enquanto Edward Holcroft vive Simon Jordan, o “estudioso de doenças mentais” (na época ainda não havia o termo pisquiatra) que decide entrevistar a acusada, 15 anos depois dos crimes, para entender se Grace é realmente culpada ou foi vítima de circunstâncias que não haviam ficado muito claras à época das investigações.
Alias Grace era um projeto antigo da produtora e roteirista Sarah Polley. Há mais de duas décadas, ela ficou tão impressionada com a leitura do livro que decidiu pedir os direitos da obra – gesto um tanto quanto pretensioso para uma menina de apenas 17 anos.
Margaret Atwood viu sua popularidade aumentar muito nos últimos meses, e não apenas graças ao sucesso de The Handmaid’s Tale, que faturou cinco Emmys na premiação deste ano, mas pelo fato de a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos ter tornado urgentes alguns dos temas que ela discute em suas obras. Este ano, Kazuo Ishiguro, vencedor do Nobel de Literatura, chegou a pedir desculpas a Margaret Atwood por não ter sido ela a ganhar a distinção em 2017.
Com mais de 60 livros publicados, a autora canadense vai da poesia às histórias infantis, embora ela mesma reconheça que sua grande singularidade esteja no que denomina "ustopia": um mundo "combinando utopia e distopia – a imaginada sociedade perfeita e seu oposto".
Atwood rejeita julgamentos simplórios ao inserir em seu trabalho a noção de que é a perspectiva adotada em uma situação, e não a situação em si, que determina se ela é utópica ou distópica.
É esse caráter ambíguo com que trata seus temas que Margaret Atwood aplica à personagem Grace Marks, complexificando uma história que foi contada, à época, conforme melhor se adequava à classe dominante. Se a empreitada de Alias Grace vai ser tão bem-sucedida quanto The Handmaid’s Tale, os espectadores vão descobrir a partir deste fim de semana.