Misture a grande festa tradicional do Esquenta! com a garimpagem quase antropológica do antigo Brasil legal – exibido entre 1994 e 1998. Eis a nova proposta do programa de Regina Casé, que estreia neste domingo, às 14h, na RBS TV.
Depois de uma pausa de 10 meses, a atração volta reformulada. Além do caldeirão cultural no palco, Regina cai na estrada para rodar o Brasil. Em cada cidade que visitar, encontrará uma família com quem irá assistir à parte já gravada do episódio. A versão que o público verá é uma mescla disso. O objetivo é refrescar o formato do Esquenta! e tentar atrair a parcela do público que se perdeu ao longo dos seis anos de exibição – parte por achar o programa muito carioca.
Nas andanças pelo país, Regina vai de Norte a Sul: Pará, Bahia, São Paulo, Ceará e Rio Grande do Sul receberam a equipe. Por aqui, Regina subiu a Serra e conheceu uma família de Garibaldi. A estreia será em Fortaleza. Lá, a apresentadora deparou com uma realidade que lhe é bem familiar: a de uma empregada doméstica e sua relação com os patrões. Oposta à trama que Regina retratou no premiado longa Que horas ela volta?, de Anna Muylaert, a história dessa intimidade não é baseada na opressão, mas na amizade. No palco, o rapper Emicida, filho de doméstica, contará sua história.
A julgar pelo programa de estreia, o roteiro se mostra muito bem trabalhado, com as histórias se entrecruzando e se complementando. A equipe liderada pelo antropólogo Hermano Vianna conseguiu dar ares de novidade ao misturar dois pontos fortes de Regina – saber garimpar boas histórias e promover festas ecléticas.
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Entrevista | Regina Casé: "A TV foi obrigada a se abrir à cultura da periferia"
Admitindo estar ansiosa com o retorno do Esquenta!, Regina Casé, 62 anos, conversou com ZH desde sua casa no Rio de Janeiro. Agitadora cultural nata desde a juventude – foi uma das fundadoras do grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone, na década de 1970, e integrante do TV pirata (1988 a 1992) –, foi uma das responsáveis por levar a cultura popular à TV. A seguir, Regina fala sobre o programa, cultura e mais.
Como nasceu esse formato?
As pessoas me perguntavam quando o programa iria voltar e quando eu iria voltar a viajar. Ao mesmo tempo, não queríamos perder a festa que sempre fizemos no palco. Muita gente usava as redes sociais para me convidar: "Regina, vem assistir ao programa aqui em casa". E nós pensamos: "Por que não?". Mas nunca pensei que pudéssemos unir as viagens com o estúdio. Encontramos um jeito de misturar tudo isso. Esse formato é novo e muito promissor. Vocês vão ver que alguns episódios tendem mais para a emoção e outros para a animação. A equipe se sente renovada, está sendo muito estimulante.
Os indíces de audiência do Esquenta! em São Paulo estavam abaixo do esperado. Essa mudança veio para agradar a esse público?
O programa nasceu para ser de temporadas de verão. Tanto que a música de abertura fala em "Regina de janeiro a março". Aí fez sucesso e fomos ficando. Foram quase seis anos e 170 programas. Não tínhamos tempo para pensar em algo novo. A nossa maior pressão não é audiência, mas inovação.
Desde a década de 1990 você tenta levar a periferia para a TV. Acha que hoje os canais estão mais abertos a essas expressões culturais?
Não que esteja mais aberta, mas foi obrigada a se abrir a isso. Chegou uma hora em que não deu mais para ficar inerte ao que acontece na periferia, à cultura que nasce ali. Antes, as pessoas da periferia não tinham como mostrar seu trabalho para o mundo. Tudo mudou quando os meios, os equipamentos, foram ficando mais acessíveis economicamente falando. Hoje, com um celular, o pessoal faz seus vídeos e põe na internet. Não tem como ignorar isso.
Esquenta!
Estreia da nova temporada neste domingo, às 14h, após Escolinha do Professor Raimundo. RBS TV