
No fim do primeiro quadrimestre de 2025, atualizei a primeira lista dos melhores filmes do ano.
A regra é clara: só valem títulos que estrearam comercialmente no Brasil a partir de 1º de janeiro, no cinema ou no streaming, ou que foram exibidos no 21º Fantaspoa.
E o critério foi o afetivo: entraram os filmes que realmente me conquistaram, independentemente dos prêmios recebidos.
A ordem é puramente alfabética. Clique nos links se quiser saber mais.
1) Babygirl (2024)

De Halina Reijn. Premiada com a Copa Volpi de melhor atriz no Festival de Veneza, Nicole Kidman abraça mais uma vez o risco neste filme que pergunta: como equilibrar sucesso profissional e estabilidade emocional com aquilo que lhe dá prazer sexual? (Estreia no Amazon Prime Video em 7/5)
2) Caos: Os Crimes de Manson (2025)

De Errol Morris. Documentarista renomado por títulos como Sob a Névoa da Guerra (2003) e Procedimento Operacional Padrão (2008), o diretor reconstitui os chocantes assassinatos cometidos em 1969 pela seita liderada por Charles Manson (1934-2017), discute as suas motivações e apresenta uma instigante teoria da conspiração. Também debate as razões da obsessão por Manson (tanto a de seus seguidores quanto a do público) e reflete sobre nossa vontade — ou até nossa urgência — de construir histórias e encontrar motivos para o perturbador, o horrendo, o inexplicável. (Netflix)
3) Dead Mail (2024)

De Joe DeBoer e Kyle McConaghy. Com personagens carismáticos, é um filme de suspense absolutamente envolvente e surpreendente — se eu contar mais, estrago. A história se passa nos EUA dos anos 1980. Jasper (Tomas Boykin) é um funcionário dos Correios especialista em decifrar endereços ilegíveis em cartas e pacotes. Certo dia, ele depara com um papel ensanguentado que traz um pedido de socorro e que vai abrir um novo universo na trama: o da fabricação de sintetizadores musicais. (Exibido no Fantaspoa e sem previsão de estreia)
4) Desconhecidos (2023)

De JT Mollner. A trama gira em torno de um homem (Kyle Gallner) e uma mulher (Willa Fitzgerald). O que era para ser um simples caso de uma noite se transforma em uma caçada sangrenta. O diretor e roteirista confunde a percepção do espectador ao embaralhar a cronologia da trama. E desperta leituras muito antagônicas: há quem considere absolutamente inovador e surpreendente, há quem encare como mero e monótono exercício estético; há quem veja como misógino, há quem aponte viés feminista. (Foi exibido nos cinemas e deve entrar em breve no streaming)
5) Flow: À Deriva (2024)

De Gints Zilbalodis. Ganhador do Oscar de melhor longa de animação, o filme da Letônia acompanha a luta por sobrevivência de um gato, um cachorro, uma capivara, um lêmure e uma ave de rapina durante uma enchente. Podemos, portanto, encarar como uma fábula animal sobre tolerância, empatia e cooperação entre povos diferentes. Mas Flow recusa a habitual antropomorfização dos títulos da Disney ou da Pixar: sequer há diálogos. (Segue em cartaz nos cinemas e está disponível no canal Filmelier+ do Amazon Prime Video)
6) Grand Theft Hamlet (2024)

De Sam Crane e Pinny Grylls. O documentário é a intersecção entre teatro, cinema e videogame — e também a intersecção entre a alta cultura e o entretenimento popular, fazendo jus às obras de William Shakespeare (1564-1616). Ao mesmo tempo em que reforça a perenidade da tragédia sobre o atormentado príncipe da Dinamarca, Grand Theft Hamlet retrata dramas experimentados sob o signo do coronavírus e ilustra pontos positivos e negativos de vidas cada vez mais digitais. (MUBI)
7) Homem com H (2025)

De Esmir Filho. É uma cinebiografia que foge ao convencional, sendo fiel ao espírito do artista retratado, o cantor Ney Matogrosso, 83 anos, encarnado pelo ator Jesuíta Barbosa. Despudorado, sensível e arrebatador, Homem com H reafirma que Ney sempre foi um símbolo da luta contra a caretice e da defesa apaixonada de uma liberdade infinita, seja na vida artística, seja na vida pessoal. Mas também mostra como sua trajetória espelhou a do próprio Brasil, oprimido pela ditadura militar e por preconceitos sociais. (Em cartaz nos cinemas)
8) Mickey 17 (2025)

De Bong Joon-ho. Com Robert Pattinson em papel duplo, o cineasta sul-coreano de O Hospedeiro (2006) e Parasita (2019) volta a retratar a divisão entre classes, a mostrar o que fazemos para sobreviver em um sistema horrível, a mesclar gêneros (ficção científica, comédia, ação e até romance) e a lidar com criaturas monstruosas e humor ácido enquanto critica o capitalismo globalizado, o imperialismo estadunidense, o nosso desdém e a nossa arrogância em relação ao ambiente. Os temas satirizados em Mickey 17 incluem a corrida pela exploração espacial, os limites éticos na clonagem humana e a ascensão de políticos messiânicos com tendências fascistas. (Disponível nas plataformas de aluguel e compra digital)
9) Misericórdia (2024)

De Alain Guiraudie. Jérémie (Félix Kysyl) regressa à cidadezinha natal, na França, para o funeral do antigo patrão, um padeiro. Lá, decide ficar uns dias hospedado na casa da viúva. Sua presença causa estranheza na comunidade. Aconteceu alguma coisa no passado? Por que o protagonista não vai embora? Outro enigma a desvendar no filme eleito o melhor de 2024 pela revista parisiense Cahiers du Cinèma é sobre o próprio gênero: Misericórdia é um policial? É sobre um romance proibido? É um drama sobre segredos de família? É uma comédia absurda? É uma reflexão sobre culpa e castigo? (Estreia na plataforma Filmicca em 23/5)
10) O Mosqueteiro Solitário (2024)

De Nicolai Schumann. É um filmaço de suspense que tem só um ator (o inglês Edward Hogg) e um cenário. O personagem principal, Rupert, é um magnata do mercado financeiro que acorda trancado em um lugar sem portas nem janelas — com exceção de uma fresta onde seus olhos não alcançam. O protagonista não faz ideia de como foi parar ali, e tudo de que dispõe é um celular antigo. (Exibido no Fantaspoa e sem previsão de estreia)
11) Oeste Outra Vez (2024)

De Erico Rassi. Ambientado na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e estrelado por Ângelo Antônio, Babu Santana e Rodger Rogério, é o faroeste dos homens tristes, dos homens patéticos, dos homens que não conseguem falar sobre seus sentimentos. (Em cartaz nos cinemas)
12) Pecadores (2025)

De Ryan Coogler. Com 38 anos, o diretor e roteirista demonstra ter uma virtude escassa em Hollywood: audácia. Em Pecadores, que se passa no Mississippi, em 1932, à época da segregação racial, e é sua quinta parceria com o ator Michael B. Jordan (nos papéis de gêmeos), ele resolveu misturar drama histórico, musical blues e terror com vampiros — sem deixar de lado a ação, a comédia e o romance. Pelo menos uma cena já entrou para a história do cinema. (Em cartaz nos cinemas)
13) Pequenas Coisas Como Estas (2024)

De Tim Mielants. Depois de ganhar o Oscar de melhor ator por Oppenheimer (2023), uma superprodução que custou US$ 100 milhões, traz cerca de 80 nomes no elenco e tem três horas de duração, Cillian Murphy resolveu protagonizar um drama de orçamento modestíssimo — US$ 3 milhões —, que empregou pouco mais de 30 atores e atrizes e dura menos do que cem minutos. Trata-se de um pequeno grande filme que retrata um terrível pecado da Igreja Católica irlandesa. (Foi exibido nos cinemas e deve estrear em breve no streaming)
14) O Reformatório Nickel (2024)

De RaMell Ross. O diretor oferece ao público a raríssima experiência de assistir a um filme inteiro pelos olhos de um personagem, com a câmera em primeira pessoa. Somos instados a nos colocarmos literalmente no lugar do outro, para talvez sentir na própria pele, mesmo que por apenas um par de horas, o peso do racismo. A alternância entre o passado e o presente se justifica plenamente no impactante epílogo, e as escolhas aparentemente aleatórias ou desconexas da montagem ganham sentido e ressonância enquanto a trama de O Reformatório Nickel avança. (Amazon Prime Video)
15) Sanduíche Quente (2024)

De Manuel Facal. Comédia musical alucinada, sem qualquer tipo de freio moral ou "vergonha imagética". Alan (papel de Alan Futterweit Paz, à vontade e engraçadíssimo), um gordinho de 30 e poucos anos cansado de seu trabalho em uma lanchonete de Montevidéu, viaja a Buenos Aires para vender seu mais valioso boneco de coleção. Escondido em uma parte do seu próprio corpo, o protagonista está levando um pacotinho de cocaína. Claro que a jornada será marcada por uma série de quiproquós hilariantes. De quebra, o filme tira sarro, mas falando sério, dos portenhos. (Exibido no Fantaspoa e sem previsão de estreia)
16) A Semente do Fruto Sagrado (2024)

De Mohammad Rasoulof. A Semente do Fruto Sagrado se desenrola no contexto dos protestos no Irã nascidos a partir das mortes de jovens que não usaram (ou usaram de forma considerada incorreta) o hijab, o véu que cobre a cabeça e o pescoço das muçulmanas. O personagem principal, Iman (Missagh Zareh), acaba de ser nomeado juiz de instrução no Tribunal Revolucionário de Teerã. O cargo significa um salário mais alto e um apartamento maior para a família: a esposa devota, Najmeh (Soheila Golestani), e as duas filhas, a universitária Rezvan (Mahsa Rostami) e a adolescente Sana (Setareh Maleki). Mas também significa romper com seus códigos morais e sua ética profissional: ele é orientado a assinar sentenças de morte sem sequer ler os relatórios dos casos. A agitação política nas ruas de Teerã inevitavelmente se reflete no lar de Iman. (Telecine)
17) Sempre Garotas (2024)

De Shuchi Talati. O primeiro longa-metragem da diretora e roteirista indiana tem como personagem principal a adolescente Mira (vivida pela promissora atriz estreante Preeti Panigrahi). Ela é a melhor aluna de uma escola localizada no sopé do Himalaia, onde sua sexualidade é despertada pela chegada de um novo estudante, Sri (Kesav Binoy Kiron), que organiza um clube de astronomia — e é isso o que a protagonista deseja: conhecer um "mundo" além do seu. Suas descobertas, no entanto, podem esbarrar nas convenções de uma sociedade misógina ("Tomem cuidado com os meninos", alerta a diretora da instituição) e nas intenções da mãe, Anila (Kani Kusruti, de Tudo que Imaginamos Como Luz). Ao mesmo tempo, Mira tem de desempenhar seu papel como prefect do colégio, função que pode criar atritos com os colegas. É outro pequeno grande filme, pleno de delicadeza mesmo nos momentos contundentes. (Em cartaz nos cinemas)
18) Sing Sing (2023)

De Greg Kwedar. O drama sobre um grupo de presidiários que faz teatro recebeu três indicações ao Oscar 2025: melhor ator (Colman Domingo), roteiro adaptado e canção original (Like a Bird). Merecia ter concorrido em pelo menos mais duas categorias: melhor filme e ator coadjuvante (Clarence Maclin). Talvez também direção de fotografia. (Disponível nas plataformas de aluguel digital e a partir de 14/5 no Amazon Prime Video)
19) Sob o Domínio (2025)

De Julio Cesar Napoli. A personagem principal é uma psicóloga, Cris, interpretada com despudor por Raquel Monteiro. Entre seus pacientes, está o padre Paulo (João Santucci, cativante no papel), atormentado pela notícia sobre um bebê decapitado que foi encontrado na praia. Com apenas R$ 3 mil, o diretor e roteirista carioca fez um filme fascinante sobre possessão, ceticismo, hipocrisia e tentação, com direito a momentos genuinamente sinistros. (Exibido no Fantaspoa e sem previsão de estreia)
20) A Verdadeira Dor (2024)

De Jesse Eisenberg. Dois primos judeus viajam de Nova York para a Polônia, onde, em meio a um roteiro turístico ligado ao Holocausto, querem visitar a casa de infância de sua falecida avó. Kieran Culkin conquistou o Oscar de melhor ator coadjuvante, o Globo de Ouro, o Bafta, o SAG Awards, o Critics Choice e o Independent Spirit Awards na pele de Benji, personagem cuja ambiguidade é o coração deste filme que se equilibra entre o irreverente e o comovente, entre o doloroso e o caloroso. (Disney+)
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