– Gastem os dedos tuitando! – pediu Marina Machado, apresentadora d'A Prévia, instantes antes do começo da final do MasterChef Brasil.
Em um estúdio do programa, ela e Raul, o vice-campeão da temporada passada, estavam acompanhados por uma turma de tuiteiros, encabeçada por Milton Neves, e monitoravam dois telões: um deles mostrando os melhores tuítes sobre o episódio derradeiro, o outro fazendo a contagem de tuítes. Mais tarde, antes do primeiro bloco de intervalo, Marina festejou:
– E atenção: já estamos nos TTs mundial! (TTs, para quem ainda não sabe, são os trending topics, os assuntos mais comentados do Twitter.)
Twitter, Twitter, Twitter. Na grande final do MasterChef, o passarinho azul se fez mais presente do que as vieiras (para quem não sabe, "moluscos bivalves marinhos", como define o Google), que, apesar de tão pouco conhecidas dos brasileiros em geral, foram escolhidas tanto por Bruna quanto por Leo para protagonizarem as entradas de seus menus completos.
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Essa onipresença do Twitter, que já havia marcado a final da segunda temporada, teve como ápice o momento mais aguardado, o do anúncio de quem era o ganhador. Quando a Ana Paula Padrão, de posse do envelope preto, prestes a dar a notícia que encerraria duas horas e meia de programa (duas horas e meia, gente! quem é que aguenta?), largou um "Para tudo!", pensei que os jurados tinham decidido dar o prêmio para a Gleice. Mas não: a apresentadora lembrou que, no ano passado, o vencedor foi divulgado primeiro no Twitter.
– Este ano, resolvemos evoluir – afirmou Ana Paula. – Vamos trazer o Twitter para dentro do programa.
E o que se viu foi um powerpoint de tweets, uma retrospectiva de memes (com direito a "Para nooossa alegria!" e John Travolta perdidaço – ô, pratos requentados esses) e momentos da terceira temporada – tive calafrios ao ver de novo a Paula sambando e, quando vi de novo a Lívia chorando, pensei: agora que esse programa não acaba nunca.
Bom, a essa altura do campeonato, você que está lendo já sabe que o Leo derrotou a Bruna – para o bem da nação e para o mal do mezanino. Queridinho do público – chegou a estar 86% a 14% a pesquisa de preferência da audiência –, o empresário paulistano enfrentou uma forte torcida pró Bruna, orquestrada por seus ex-colegas de MasterChef. Eu, se fosse o Leo, tornaria cada um deles persona non grata no restaurante que ele vai abrir (hahaha).
– Quando o pai da Bruna e o marido dela entraram no estúdio, parecia que era o Paul McCartney chegando – queixou-se Leo no começo do programa.
– Quero ganhar e responder para eles lá no mezanino – disse já ao final do programa, antes da revelação de que vencera.
Esse contraste – o mundo aqui fora torcendo pelo Leo (e contra a Bruna, tachada, não sem razões, de chatinha e, sobretudo, arrogante), o mezanino quase todo torcendo contra o Leo (talvez por ele ser rico de berço, talvez por alguma desavença que nunca nos revelaram) – deu um sabor especial ao último episódio. Que teve como grande coadjuvante o pai da mineira. Ele me fez rir pelo menos duas vezes. Primeiro, quando descreveu a teimosia da filha:
– Não tinha jeito de falar não para ela sem gastar meia hora.
Depois, quando se mostrou bem saidinho:
– Aquela chef (Paola Carosella) é gatona demais, com todo o respeito.
Paola, aliás, deu um show na final, sempre com comentários ricos a respeito dos pratos, fazendo interpretações, apontando defeitos e propondo soluções (coisa linda ouvi-la falar de "adstringência e crocância", ou dizendo que "falta um molho que abrace tudo"). E os dois finalistas também fizeram sua parte: se puxaram para criar um menu completo. Leo foi de "terra e mar": carpaccio de vieiras e rabanete, barriga de porco ao molho de missô e ovos nevados com creme inglês. Bruna apostou num cardápio cromático: laranja na entrada (vieiras seladas com maionese cítrica), verde no prato principal (carré de cordeiro com musgo de ervas e purê de ervilha) e vermelho na sobremesa (panacota de beterraba com chantilly de mascarpone). Jacquin entrou com suas tradicionais pitadas de humor: "Parece que fui eu que cozinhei", brincou ao fim do jantar; "Hoje eu comi bem, e Deus sabe como eu amo comer!", disse ao elogiar o trabalho da dupla. Só o Fogaça não estava em uma noite brilhante. Fechou a temporada soltando seu indefectível "Acho que você fez um bom trabalho" ou largando algumas palavras de incentivo barra cobrança meio esquisitas:
– Vamo! A gente quer ver (sic) barulho! Quer ver fumaça! (Que eu saiba, nunca é bom ver fumaça em uma cozinha.)
No fim das contas, acho que se fez justiça. Não, não mudei de opinião: a comida da Bruna parece ser mais saborosa. Mas isso quando a mineira acerta a mão, o que não foi sempre, longe disso. Sistemático, dedicado, estudioso – nas palavras do chef Fogaça –, Leo foi um concorrente mais regular. E, na derradeira prova do MasterChef Brasil 3, ele serviu sobremesa; ela, beterraba.
Sem mais perguntas, meritíssimo.