Aos poucos, as pessoas começam a emergir das esquinas, embaladas pelo som distante de bandinhas alemãs. Os homens de calças curtas e suspensórios, as mulheres de saia rendada e tiara florida. Atravessado ao peito, todos trazem um caneco preso por um tirante. É o primeiro final de semana de Oktoberfest e um frenesi coletivo percorre as ruas de Santa Cruz do Sul.
Em 39 edições do evento, nunca houve um desfile de abertura como o registrado neste domingo (13) de sol no principal município do Vale do Rio Pardo. Pelo menos 6,8 mil pessoas percorreram as ruas da cidade, celebrando as tradições e a cultura germânica. No destino final, o Parque da Oktoberfest, 180 torneiras de chope aguardavam a multidão sedenta. O público poderá conferir novamente - ou pela primeira vez - as apresentações nos próximos domingos, até o encerramento da festa.
Desde quinta-feira (10), dia em que os portões foram abertos, a estimativa dos organizadores é de que 150 mil pessoas tenham se envolvido com a festa, seja circulando pelo parque ou apenas assistindo ao desfile de abertura.
Celebrando a tradição
Ainda nas primeiras horas da manhã deste domingo, famílias inteiras rumavam à Praça Getúlio Vargas, na região central do município, carregando cadeira de praia, uma térmica de água quente para o chimarrão e uma caneca de chope para mais tarde.
Ao lado da esposa Vivian, o caminhoneiro Lorival Bach, 40 anos, pegou um dos melhores lugares. Uma hora e meia antes do começo da parada, ele já estava acomodado na esquina das ruas Ramiro Barcelos e Marechal Floriano, bem diante da comissão de frente.
— A gente vem quase todos os anos. Ficamos tomando um mate, prestigiando o desfile. Se vemos um conhecido, enchemos o caneco — diverte-se Bach, mostrando o utensílio guardado na mateira.
Concebido para celebrar os 200 anos da imigração alemã no Brasil, o desfile teve 12 carros alegóricos, todos representando marcos fundamentais da história e da tradição germânica. O primeiro, em forma de barco, assinalava a chegada dos primeiros colonos ao país, em 1824. Na sequência, os veículos destacavam o cultivo da terra, as danças e músicas folclóricas, a culinária e as profissões dos primeiros imigrantes, como a manufatura calçadista.
Atrás de cada carro alegórico, caminhonetes e pequenos caminhões com a carroceria lotada de barris de chope garantiram a euforia de quem desfilou a pé. Vestindo trajes típicos da Alemanha, os grupos de diferentes gerações dançaram, cantaram e se divertiram percorrendo os cerca de 1 mil metros até o parque. Protegidos do calor de 27ºC pela copa das tipuanas que cobrem o trajeto, eles contagiaram a multidão agrupada nas calçadas e nos canteiros das praças.
O casal Israel Rech, 44 anos, e Thayná Ruas, 27, acordou às 7h para se preparar para o desfile. Israel penteou as pontas do bigode para cima, vestiu polainas, calças curtas com suspensório e encheu o chapéu de feltro com broches alemães. Thayná caprichou na maquiagem, esticou os meiões até quase a barra da saia e prendeu os cabelos com a tiara florida. De mãos dadas e canecos cheios, dançaram por duas horas e meia pelas ruas da cidade.
— A gente fez parte de grupo folclórico, mas deixamos de ir por falta de tempo. Então agora faz questão de sempre participar do desfile. É o amor pelas nossas tradições e pela cultura germânica — diz Thayná.
A grandiosidade do desfile se reflete no parque. A expectativa da Associação das Entidades Empresariais de Santa Cruz do Sul (Assemp), que organiza a Oktoberfest, é de que 40 mil pessoas tenham se envolvido com a festa neste domingo. No dia anterior, a feira bateu recorde de público, com um total de 34.772 pessoas.
Para receber tanta gente, a Oktoberfest tem 150 expositores espalhados por 14 hectares. São pelo menos quatro pavilhões dedicados a atrações culturais, gastronomia, indústria, comércio, serviços e artesanato. Há ainda dezenas de estandes, além, claro, da bierhaus, a casa da cerveja, com quatro cervejarias artesanais e o espaço da patrocinadora-master, a Eisenbahn.
— Fizemos um investimento pesado e um planejamento minucioso. Mas quando lançamos a Oktoberfest, veio a enchente. Houve pressão até para cancelarmos. Decidimos manter e estamos nos encaminhando para a maior edição da história. Temos a expectativa de vender 200 mil litros de chope e termos um público superior a 400 mil pessoas — celebra o presidente da Assemp, Ricardo Bartz.
Para quem não curte cerveja, este ano foi inaugurado o Winegarden, tenda destinada para o consumo de vinhos e espumantes. As amigas Anielly Heineck, Valentina Nunes e Ana Siqueira, todas de 18 anos, aproveitaram o calor do domingo para saborear um espumante bem acomodadas à sombra, após terem de almoçar em pé no pavilhão da gastronomia alemã.
— Aqui não tem tanta gente, dá para descansar enquanto se bebe uma espumante geladinha e escuta uma música eletrônica. É bem aconchegante — comenta Anielly.
Inovações
Outras novidades deste ano são as rodadas periódicas de dose dupla de chope e a degustação de rollmops, tradicional aperitivo da culinária alemã, com cebola e sardinha em conserva. Pelo segundo ano, o oktober karte, cartão usado para fazer compras dentro do parque, segue em operação. Nas atrações culturais, estão previstos shows de Bruno e Marrone, Luan Santana e Só Pra Contrariar.
A Oktoberfest de Santa Cruz do Sul se estende até 27 de outubro, sempre de quinta-feira a domingo. Os ingressos custam entre R$ 27 e R$ 39, mas sempre há horários com entrada gratuita e visitantes vestindo trajes típicos pagam meia.