O Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo contabiliza os prejuízos causados pela enchente. A água invadiu o andar térreo do local, que fica na Rua João Alfredo, 582, bairro Cidade Baixa, e chegou à altura de 90 centímetros. Por lá, estavam encaixotados cerca de 300 mil fragmentos arqueológicos, que remontam a história da ocupação indígena anterior à colonização portuguesa, como peças de louça, cerâmica, vidro, metal, couro e pedra. Parte desse material ficou submerso.
Segundo a museóloga do Joaquim Felizardo, Luciana Brito, o setor de arqueologia do espaço conta com cerca de 50 estantes e, em cada uma delas, há seis prateleiras, nas quais são colocadas caixas de polietileno com fragmentos históricos — são aproximadamente mil delas. Com a invasão da água, as duas prateleiras de baixo de todos móveis foram afetadas, atingindo os objetos.
— Tem como recuperar? Sim, com certeza, porque a maioria dos fragmentos que a gente tem na arqueologia já estava enterrada. Eles foram retirados da terra, limpos e colocados em um acervo. A gente pode, então, reverter esse processo de novo — explica Luciana, ressaltando que a operação levará um longo tempo, ainda não determinado, para ser concluída.
Também será necessária a ajuda de voluntários. De acordo com a diretora do museu, Beth Corbetta, equipes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) já se prontificaram a ajudar nesse processo de restauro e ofereceram laboratórios da instituição para o trabalho, os quais serão aceitos.
— Fizemos o que estava ao nosso alcance porque, na arqueologia, as coisas são pesadas. Então, demos prioridade para coisas que são, digamos assim, estragáveis — relata Beth sobre as ações realizadas pela equipe pouco antes da água invadir o local e que ajudaram a salvar materiais e minimizar danos. — Tudo o que era possível se fez para preservar a memória de Porto Alegre, que está dentro do museu. Não é só arqueologia — acrescenta.
De acordo com ela, os materiais mais sensíveis incluem as mais de 12 mil fotos e, também, os 1,5 mil objetos do acervo tridimensional, que conta com documentos, indumentários e objetos diversos que remontam a história da Capital.
Ainda segundo Beth, laudo de engenheiros atestam que a edificação não foi afetada estruturalmente. A urgência, agora, é realizar a limpeza, porque o mofo toma conta do museu, em razão da umidade. A situação pode ainda se agravar com os novos alagamentos que estão ocorrendo em Porto Alegre.
Nesta quinta-feira (23), a equipe do museu entrou no prédio para começar a desobstruir as passagens, tirando itens que estão sendo considerados como sucata, entre os quais estão mesas, cadeiras e eletrônicos. Depois, a lama vai ser removida com lava-jatos e uma empresa será chamada para avaliar a rede elétrica, uma vez que a água atingiu a caixa de disjuntores e há fios no solo.
A direção do Joaquim Felizardo, instituição da Secretaria Municipal da Cultura e Economia Criativa (SMCEC), não consegue, no momento, estimar uma data para reabertura do museu — especialmente após os novos alagamentos na cidade, que forçaram uma pausa nos trabalhos no local. O prejuízo financeiro também ainda não foi calculado, mas a responsável pelo espaço salienta:
— Em relação ao acervo, ele não é propriedade nossa, do Estado nem do município. O acervo é propriedade da União. Nós somos guardiães desse acervo. Então, vou pedir dinheiro para o Ministério da Cultura para este restauro e reconstrução.
Outras instituições também avaliam danos
Museu da Comunicação Hipólito da Costa
Localizado na Rua dos Andradas, 959, no Centro Histórico, o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa teve o seu andar térreo afetado. De acordo com nota emitida pela Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul (Sedac), o plano de ocupação da instituição já era “manejado de forma que as áreas técnicas, de acervo e de exposição estivessem situadas nos pavimentos superiores”.
Desta forma, a Sedac afirma que os acervos não foram atingidos pela inundação. O espaço possui cerca de 20 mil peças, incluindo cartazes, folhetos, catálogos, propaganda política, portfólios de agências, publicações da área e material promocional de produtos, alguns datando do final do século 19. A avaliação de danos à edificação pela entrada de água nos pavimentos inferiores ainda não pôde ser estimada, complementou a secretaria.
Farol Santander
Também por meio de nota, a assessoria do Farol Santander informou que o acervo da instituição “não sofreu nenhum dano” e afirma que tomou as medidas necessárias para preservar as obras de arte e o edifício. O documento ainda salienta que todos os itens que estavam em exibição no subsolo, único ponto atingido pela enchente, foram movidos e estão sendo preservados nos andares mais altos do prédio.
A nota também estabelece que, para evitar acidentes, a rede elétrica do local, que fica Rua Sete de Setembro, 1028, no Centro Histórico, foi preventivamente desligada e passará por reparos na medida em que sejam identificadas as necessidades do subsolo, que abriga loja, café e restaurante. Em relação à programação, as exposições em cartaz foram interrompidas por tempo indeterminado e as ações programadas para o mês de junho foram adiadas.