Getúlio Vargas (1882-1954) e João Goulart (1919-1976), dois ex-presidentes da República, além da linha de pensamento, dividiam a terra natal: São Borja. Motivos de orgulho para os cidadãos do primeiro dos Sete Povos das Missões, as vidas desses dois políticos são apresentadas para quem quiser conhecer o Museu Getúlio Vargas e o Memorial Casa João Goulart, ambos no município de 60 mil habitantes da Fronteira Oeste. Nos espaços, porém, também existem espaços que chamam atenção por darem destaque justamente para as mortes dos políticos.
De acordo com profissionais que trabalham nos espaços espaços, o público fica fascinado tanto pelos itens exibidos quanto pelo contexto em que eles morreram – enquanto o mais velho cometeu suicídio, deixando a impactante carta-testamento que continha a frase “saio da vida para entrar na História”, Jango morreu exilado na Argentina, vítima do que inicialmente foi identificado como um ataque cardíaco, mas que viria a ser investigado no futuro.
Por conta da suspeita em torno de sua morte, o corpo de Goulart, que estava em São Borja, foi exumado em 2013. Na época, não foram identificados sinais de veneno nos restos mortais do político, mas também não foi descartada a hipótese de assassinato. Desse processo, surgiram peças que logo seriam expostas no Memorial Casa João Goulart, como pedaços do caixão no qual Jango foi enterrado em 1976, com crucifixo, e a bandeira do Brasil que ficou sob a urna funerária do ex-presidente. Essas peças ficam em caixas de vidro, rodeadas por imagens do político no exílio – onde passou os seus últimos anos – e retomando a história do fim da vida do antigo morador da casa.
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No Museu Getúlio Vargas, a sala da morte impressiona por ter itens ainda mais mórbidos. Em cima de uma estrutura de madeira, que lembra o formato de um caixão, estão as duas máscaras mortuárias de Getúlio, uma de bronze e outra de gesso – tal objeto era feito para tirar “a última expressão” de alguém falecido, colocando gesso sobre o rosto do morto e, depois, guardando o molde. Mas essas não são as únicas peças curiosas do espaço.
Em cima da mesma estrutura, estão dois adornos de prata utilizados no seu velório. Aos pés, há uma urna de mármore na qual constam os dizeres “Getúlio Dornelles Vargas, um são-borjense presidente do Brasil”. O recipiente foi usado para transportar os restos mortais do ex-presidente, em 2004, do cemitério municipal a um mausoléu construído em sua homenagem na praça XV de Novembro, na região central de São Borja – a homenagem foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
O objeto mais curioso da sala da morte de Getúlio é um jarro de vidro com um pano branco manchado dentro. Ele está em um pedestal, em uma caixa também de vidro. Ao se aproximar e ler do que se trata, o visitante fica sabendo que é o lençol que estava na cama do político na ocasião de sua morte. A peça ainda está suja de sangue, quase 70 anos depois. O recipiente, segundo as monitoras, nunca foi aberto.
E, para as crianças que vão visitar o local, a monitora Clenir de Carvalho prepara uma surpresa – um tanto assustadora: ela fecha as portas do quarto da morte, deixando-o como última parada do passeio. Então, apaga as luzes e convida os jovens a entrarem por uma portinha lateral, que conectava os quartos das meninas ao dos pais. Ao chegarem no espaço, ela acende uma luz de led vermelha que está debaixo da grande caixa de madeira e, assim, cria um clima soturno para visitar o espaço. Impressiona, segundo ela, principalmente pela mensagem que passa.
— A luz vermelha representa o sangue de Getúlio, que ele derramou pelo povo — defende a monitora.