Convidado que encerra a edição deste ano do Fronteiras do Pensamento, o arqueólogo e antropólogo britânico David Wengrow questiona alguns livros sobre a história da humanidade que fizeram a cabeça das pessoas e foram fenômeno de vendas, como Sapiens, do historiador israelense Yuval Noah Harari. Ele aprofundará seu ponto de vista em conferência na noite desta quarta-feira (4), às 20h, no Teatro Unisinos, em Porto Alegre.
Ao lado do antropólogo americano David Graeber, Wengrow, que também é professor da University College London, publicou o livro O Despertar de Tudo: Uma Nova História da Humanidade (Companhia das Letras, 696 páginas, R$ 119,90), em 2021. A crítica feita pela dupla é que best-sellers destinados a retratarem os primórdios da humanidade são focados em públicos leigos e não foram escritos por antropólogos e arqueólogos. Por isso, conteriam uma série de equívocos.
— Notamos, para nosso horror, que esses livros simplesmente ignoram o que se descobriu em nossos campos de estudo, que são a arqueologia e a antropologia, ao longo de várias gerações. Não é necessariamente culpa deles, porque esses autores são excelentes escritores, mas vêm de outras áreas — disse Wengrow em entrevista concedida em junho ao jornal Folha de S. Paulo.
Publicado após Graeber falecer repentinamente em 2020, O Despertar de Tudo derruba alguns argumentos de Sapiens. Um deles é o que coloca a agricultura como ponto de partida para o desenvolvimento de sociedades mais complexas. Segundo o arqueólogo, antes de o ser humano se dedicar à cultura do solo já haviam agrupamentos sociais intrincados, com diversidade sociopolítica. Alguns, inclusive, com relativa igualdade e democracia.
Em O Despertar de Tudo, os autores também criticam comparações entre os primeiros seres humanos e grandes símios, como chimpanzés, paralelo muito comum em argumentações mais simplistas. Na avaliação de Wengrow, soa como uma tentativa de retratar povos antigos como se não fossem humanos e suficientemente inteligentes.
— Nossa crítica se refere a uma abordagem preguiçosa que, essencialmente, usa uma espécie de simplificação para falar das sociedades humanas primitivas, e que, no fim das contas, acaba retratando-as como se fossem burras — completou o arqueólogo à publicação.
Ao público de Porto Alegre, ele também deve falar sobre a Amazônia brasileira como um campo de pesquisa dos mais promissores, já que o país, apesar da instabilidade política, tem apresentado progresso em travar um diálogo entre evidências de um passado humano mais profundo com estudos antropológicos e etno-históricos recentes.
A 17ª edição do Fronteiras do Pensamento teve início em maio, com a presença da escritora espanhola Rosa Montero, seguida da ativista iraquiana Nadia Murad, do neurocientista hispano-americano Rafael Yuste, do filósofo político americano Michael Sandel e do documentarista americano Douglas Rushkoff. Além das conferências presenciais, também foram realizadas transmissões online com o filósofo francês Luc Ferry e dois destacados pensadores brasileiros, o economista Eduardo Giannetti e o psicanalista Christian Dunker.
O Fronteiras do Pensamento tem o patrocínio de Hospital Moinhos de Vento, Sulgás e CMPC, parceria cultural da Casa da Memória Unimed Federação/RS, parceria acadêmica da Unisinos, parceria educacional do Colégio Bertoni Med, parceria institucional da Prefeitura de Porto Alegre e do Instituto Unicred, serviço médico Unimed Porto Alegre, promoção do Grupo RBS e realização da Delos Bureau, uma empresa do Grupo DC Set especializada em entretenimento cultural.