O músico e poeta Luiz Galvão, letrista dos Novos Baianos, grupo que se tornou sucesso em todo o país nas décadas de 1970 e 1980, morreu na noite de sábado (22). Galvão havia sido internado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo em 16 de setembro, com suspeita de hemorragia gastrointestinal, e dois dias depois o artista foi transferido para o Instituto do Coração (Incor), também na capital paulista. A morte foi confirmada pela esposa do artista, Janete. Ainda não há informações sobre o sepultamento. As informações são do portal g1.
Os familiares também afirmam que durante o período de internação Luiz Galvão chegou a passar uma noite no corredor de um pronto-socorro. O artista, que enfrentava problemas de saúde, não conseguia andar e já havia sofrido um acidente vascular cerebral (AVC), além de um infarto. Ele chegou a passar por uma cirurgia vascular no final de setembro. Segundo a esposa do escritor, ele também era diabético.
Juventude
Natural de Juazeiro, Galvão chegou a ser jogador profissional, quando foi campeão baiano de futebol de salão.
Ainda no norte da Bahia, Luiz Galvão estudou e trabalhou por seis anos com agronomia. Anos antes, ainda adolescente em Juazeiro, conheceu João Gilberto. Galvão costumava contar que conhecera João em uma visita feita pelo pai da bossa-nova a Juazeiro, que também era sua cidade natal. O jovem Galvão já era amigo de Buliu, um dos irmãos de João.
— Dona Patu, mãe, gostava muito de mim. Ela foi uma das pessoas mais legais que conheci. Eu ia passando assim na casa de Dona Patu e João Gilberto estava no quarto, por ele estava passando uns dias de Juazeiro. Aí ele me chamou, venha cá, ficamos conversando e começou a amizade aí — contou o poeta em 2015, numa entrevista para um programa da Universidade Federal do Vale do São Francisco. A amizade mudaria para sempre a história da música brasileira.
Novos Baianos
Já no final da década de 1960, uma nova amizade, saída de cidades do interior da Bahia, culminariam na formação de um dos maiores grupos da história da música popular brasileira, os Novos Baianos. Galvão se reuniu em Salvador com Paulo Roberto Figueiredo de Oliveira, o Paulinho Boca de Cantor, oriundo de Santa Inês, no sul baiano, e Antônio Carlos Moraes Pires, o Moraes Moreira, de Ituaçu, no sudoeste do Estado. Em 1968, eles criaram o espetáculo que deu origem ao grupo, Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal.
Ainda se somariam ao trio Baby do Brasil e Pepeu Gomes, além de Jorge Gomes, Dadi, Charles Negrita, Baixinho, Bola Morais e Gato Félix. O disco de estreia seria lançado em 1970, Ferro na Boneca.
Em plena ditadura militar, o grupo chegou a morar em um sítio em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, onde seguiam a cultura hippie dos Estados Unidos e da Europa.
Após uma visita de João Gilberto à casa em que eles moravam juntos, a obra que consagrou os Novos Baianos foi lançada em 1972. Acabou Chorare juntou samba, rock, bossa-nova, frevo, choro e baião e contou com a regravação de Brasil Pandeiro, de Assis Valente, além de Preta Pretinha, Mistério do Planeta, A Menina Dança, Besta é Tu e a faixa título, todas de coautoria de Moraes Moreira.
Em outubro de 2007, o disco foi eleito o melhor da história da música brasileira pela revista Rolling Stone. Os Novos Baianos produziram oito trabalhos de estúdio e outros dois álbuns ao vivo, de reuniões do grupo, em 1997 e outro de 2017.
Musicadas por Moraes Moreira, a maioria das canções gravadas pelo grupo foram escritas por Luiz Galvão. Entre estas composições, os sucessos Acabou Chorare, Preta Pretinha e Mistério do Planeta.
O artista
Para além dos Novos Baianos, Galvão deixa um legado como um apaixonado pela arte, a poesia e as letras marcantes. Ele é autor dos livros Novos Baianos: A História do Grupo que Mudou a MPB, e João Gilberto: a Bossa e Anos 80: A História de uma Amizade na Década Perdida. Além das obras escritas, o artista lançou um disco solo, Galvão, A Palavra dos Novos Baianos.