Moraes Moreira está por trás de sete das nove canções de Acabou Chorare. Nesta quinta-feira, às 22h, o baiano reconta essa história no palco do Opinião, ao lado do guitarrista Davi Moraes, seu filho, e de músicos de apoio. A apresentação do disco na íntegra celebra seus 40 anos, completados em 2012. É a continuidade do resgate pessoal que Moraes iniciou ao lançar a biografia em forma de poema A História dos Novos Baianos e Outros Versos, em 2008. Em entrevista por e-mail, o músico avisa:
- Na abertura do show, declamo um cordel que conta a trajetória do grupo.
O testemunho mais rico e aguardado, no entanto, é o que Moraes apresentará usando o gogó e o violão.
Zero Hora - Em 1972, vocês vinham de um primeiro disco roqueiro. O que foi definitivo para a direção que tomaram no Acabou Chorare? Como João Gilberto e tropicália mexeram com a cabeça daqueles jovens hippies baianos?
Moraes Moreira - A tropicália e o rock internacional dos anos 1960 foram as nossas referências iniciais. O primeiro disco tinha este espírito roqueiro. A chegada de João Gilberto na nossa vida foi essencial para despertar a brasilidade, mas nem por isso abandonamos a guitarra.
ZH - Esse movimento de ir do rock em direção à música brasileira é recorrente. O que o samba entrega ao compositor de tão sedutor?
Moreira - É isso, a brasilidade o suingue e a cintura que nem sempre encontramos no rock.
ZH - Quando o Davi descobriu Acabou Chorare? Rever o trabalho pelas lentes do seu filho mudou sua relação com o disco?
Moreira - Davi nasceu no sítio dos Novos Baianos, mais ou menos na mesma época em que o disco foi lançado. Ainda neném, gostava de ouvir os nossos ensaios. Hoje temos a alegria de sermos parceiros neste show comemorativo.
ZH - Para você, houve algum momento de redescoberta do Acabou Chorare em que tenha cruzado com ele novamente?
Moreira - A marca dos 40 anos. Fizemos um show inicial que teve ótima repercussão e resolvemos cair na estrada.
ZH - Acabou Chorare pregava a alegria nos anos de chumbo. Como foram compostas as músicas?
Moreira - As músicas surgiam das maneiras mais loucas. Nossas armas eram os instrumentos e a palavra, nunca pertencemos a um partido, éramos um todo. Recebemos muitas duras, mas eles, os "home", não sabiam o que fazer com a gente. Uma certeza eles tinham: a de que nós não éramos comunistas. Naqueles anos de chumbo, era uma delícia vivermos juntos e dividindo tudo.
ZH - Como está sendo voltar a esse repertório? Você e Davi mantiveram os arranjos originais?
Moreira - Mantivemos os arranjos originais. O prazer tem sido muito grande, tocamos o repertório na íntegra, inclusive a instrumental Um Bilhete pra Didi. Para mim, não é difícil reproduzir estas canções, pois a grande maioria delas foi composta por mim e Galvão. Está tudo na memória, na mão, no meu violão. O que complementa tudo isso é a presença de Davi, que, desde que nasceu, no sítio, vem ouvindo estas músicas, como um bom discípulo de Pepeu. que pode trazer aqueles solos e ainda acrescentar a sua contemporaneidade.
ZH - Como é o público hoje?
Moreira - Os coroas aparecem, mas quem está marcando a maior presença é a juventude, que se identifica com a nossa música, com a nossa mensagem.
ZH - Você se lembra dos primeiros shows em Porto Alegre?
Moreira - Sempre gostei de tocar em Porto Alegre, conheci Lupicínio Rodrigues nesta época, já cantava suas músicas, que me foram passadas por João Gilberto.
ZH - O que se pode esperar desse novo show?
Moreira - Esperem por um show vibrante, não só da nossa parte, como também da plateia, que canta tudo.