Se você acessa com frequência as redes sociais, provavelmente já deparou com a expressão “todo Nicolas Cagezinho” na legenda de alguma foto em que alguém queria um “biscoito” — termo para quem busca arrancar elogios de seus seguidores. Pois bem, esse termo que faz referência ao famoso ator hollywoodiano e viralizou foi criado por Fernando Schmidt, cujo apelido é Dianho, um gaúcho de Santa Cruz do Sul e vê seu número de seguidores crescer diariamente.
Somando Instagram, TikTok, Facebook e YouTube, o humorista já soma mais de 3,5 milhões de seguidores, sendo as duas primeiras redes sociais citadas as mais bombadas devido ao seu estilo de conteúdo: vídeos geralmente curtos mostrando o dia a dia no meio rural, reformando a sua casa ou viajando para os compromissos que estão cada vez mais constantes, sempre acompanhado de comentários peculiares e da risada característica do criador de conteúdo, que se denomina um “gângster de galpão”.
O apelido Dianho é recente, conquistado no último emprego de Schmidt, em construção de rodovias, do qual ele foi demitido em 2019. Com dificuldade para guardar nomes, ele se referia aos colegas como “Dianho”, mas esse hábito se virou contra ele e o próprio passou a ser chamado assim. Porém, o humorista revelou que, inicialmente, não gostou da alcunha.
— Eu tinha nojo desse apelido — disse em entrevista ao Flow Podcast.
Depois da demissão, Schmidt começou a se sentir solitário, sem amigos, e assim, utilizou o celular como companheiro, gravando vídeos diretamente “da roça” e postando em suas redes sociais. Com o passar do tempo, o seu conteúdo foi conquistando espaço na internet e o seu salto para a fama começou com Whindersson Nunes compartilhando uma de suas produções. Em seguida, o vídeo em que o humorista usou pela primeira vez o termo que virou meme explodiu e “todo Nicolas Cagezinho” se tornou uma de suas marcas registradas.
— Não sei como que a galera não enjoa disso — brincou durante a conversa.
Segundo o humorista, ele “não ganha muita grana”, mas tira “uns trocos” para fazer divulgações. E, mesmo que o retorno financeiro não seja tão grande, a sua fama no ambiente virtual é. Assim, o santa-cruzense que brinca em seus vídeos que é “ídolo na Irlanda do Norte”, relatou que até hoje “a ficha não caiu”. De acordo com Dianho, recentemente pôde enviar dinheiro para a sua mãe, que foi algo que o deixou muito feliz, pois até então, era ele quem pedia ajuda para ela.
— Eu faço tudo de uma forma tão natural que eu nem noto. Só vai acontecendo as coisas. O cara acorda um dia, acha um sapo e vai começar a gravar. Eu nem sabia que o sapo estava me esperando para gravar. Parece que já estava fardadinho para contracenar comigo. A parada do cabelo, essas coisas vêm vindo. Eu acho que a mão de Deus tocando em cima de mim: “Vai, Dianho, nós vamos te dar mais uma chance de prosperar”. E eu estou dançando a dança da vida — contou.
De acordo com o humorista, recentemente alguns vídeos seus acabaram vazando na internet, com ele “loucaço”, mas ele afirma que isso se deve por conta de seus problemas com álcool e drogas.
— Eu não sou isso que pareceu ser — explicou.
Dependência química
Apesar de fazer o público rir, Dianho tem uma história de vida dramática. Em sua participação no Flow Podcast, ele revelou ser dependente químico desde 2004, mas disse que está em recuperação.
— Fui usuário de crack por quase 18 anos. Em 2004, eu ingressei nessa vida e perdi totalmente a minha identidade nessa época. Fui morar na rua, perdi meus amigos, perdi minha família. Em 2009, quando eu estava quase para morrer, eu estava com 47 quilos, e no dia do aniversário da minha mãe, eu fui preso. Acredito que foi uma mensagem subliminar para ver se eu me liberto da morte — revelou o humorista.
Segundo Schmidt, uma década depois, também em 17 de setembro, mesmo dia em que foi preso, ele contou que foi “liberto da miséria” ao ser demitido de seu último emprego.
— Eu acho que duas vezes Deus falou comigo, eu demorei 10 anos para entender isso, porque foram duas datas que ocorreram justamente no aniversário da minha mãe. Foram dois divisores de água na minha vida, porque depois que eu saí da prisão me tornei uma pessoa muito melhor — destacou o humorista, que contou ter ficado preso por um ano no Presídio Central de Porto Alegre.
Dianho explicou na conversa que não havia revelado a sua dependência química por ser seguido por um público jovem e ter medo de que a sua doença pudesse influenciar de alguma forma. Ele explicou que agora o seu consumo de drogas está muito mais controlado, acontecendo apenas em momentos de recaídas. Neste ano, voltou a usar substâncias ilícitas apenas três vezes. Porém, enfrentou muitas dificuldades com o consumo de álcool nos últimos tempos, principalmente com os seus fãs oferecendo constantemente bebidas quando o encontram.
Ele ainda contou que sua primeira esposa também era dependente química e que o vício da companheira era muito intenso. Após ele próprio recair, por dois anos, conseguiu um emprego como gari e, a partir disso, começou a reconstruir a sua vida.
— Eu faço de tudo para melhorar, eu nunca parei de usar, até hoje, só que esse ano foi o melhor ano da minha vida. Se eu usei duas ou três vezes foi muito. Eu tive episódios com outras substâncias, mas o que começou a me afetar realmente agora foi o álcool. A minha luta contra o crack tem quase 18 anos e eu luto diariamente. Quero fazer o melhor pelas pessoas, ser um cara melhor — relatou Dianho.