O segundo convidado da temporada 2021 do Fronteiras do Pensamento, que tem como tema Era de Reconexão, foi Steven Pinker, psicólogo canadense, professor, escritor e especialista em ciência cognitiva. Aos 66 anos, o estudioso abordou, em sua palestra na noite desta quarta-feira (8), o progresso e como a humanidade evoluiu ao longo dos anos.
Em sua apresentação chamada E o Amanhã? Pandemia, Poluição, Política e Progresso, realizada de maneira virtual, o pensador, utilizando-se de dados e gráficos, fez questão de apontar o que ele considera como progresso e o que o define. E, segundo ele, a resposta é: as melhorias no florescimento humano.
— O florescimento humano consiste em dimensões como vida, saúde, sustento, prosperidade, paz, liberdade, segurança, conhecimento, lazer e felicidade. Se elas aumentaram com o tempo, e foram mantidas, isso é progresso — explicou Pinker.
Houve progresso?
Para responder à questão, o psicólogo canadense usou como exemplo a expectativa de vida dos seres humanos. Pinker afirma que, na maior parte da história, as pessoas viviam em média 30 anos, porém, com a descoberta das vacinas, dos antibióticos e dos avanços da medicina, os seres humanos passaram a viver, em média mundial, 71 anos.
Pinker enfatiza que até países subdesenvolvidos conseguiram mais que dobrar a expectativa de vida, ao mesmo tempo em que os números da mortalidade despencaram ao passo do progresso que o mundo desenvolveu, guardadas as devidas proporções de riqueza de cada nação.
O canadense também abordou a fome em sua conferência, destacando que, antigamente, uma colheita ruim podia devastar um país, mas, com a revolução na agricultura, a taxa de mortalidade por desnutrição caiu drasticamente.
— Hoje em dia, a fome não é uma questão de não produzir alimentos suficientes, mas se trata da incapacidade de levá-los para quem precisa nas partes mais remotas e devastadas do mundo — enfatizou.
Além disso, o estudioso também abordou o Produto Interno Bruto (PIB) mundial, apontando, em seus gráficos, como a revolução industrial e a modernização da humanidade conseguiram reduzir a pobreza extrema. Segundo ele, há 200 anos, cerca de 90% do mundo vivia desta maneira e, com o progresso, a porcentagem caiu para 9% nos dias atuais.
Ainda mostrando dados, também, ele revelou que a paz passou a ser mais presente no mundo, com uma grande queda no número de pessoas que morrem em combate provenientes da guerra. Na sequência, Pinker ainda fez questão de realçar que, com o passar dos anos, a liberdade e a democracia foram ganhando mais espaço ao redor do mundo.
— O mundo nunca foi tão democrático como tem sido na última década. Em torno de dois terços dos países são mais democráticos que autocráticos — destacou.
Pinker ainda enfatizou o nível de escolaridade das pessoas, que disparou nos últimos 500 anos, com 80% da população mundial sendo alfabetizada, de acordo com os dados apresentados por ele.
Qualidade de vida
— E isso melhorou a nossa qualidade de vida? E a resposta é que sim, de muitas formas — questionou e respondeu o professor.
Pinker mostrou que o progresso da humanidade fez com que as pessoas trabalhassem várias horas semanais a menos e, também, conquistassem direitos como férias remuneradas, que eram impensáveis dois séculos atrás. Ele ainda diz que, com utensílios modernos, o tempo gasto com os afazeres domésticos caiu consideravelmente, dando mais espaço para diversão e descanso para as pessoas.
O indicador final do florescimento humano, segundo Pinker, que é a baliza do progresso, é a felicidade. E, para o canadense, as pessoas estão, "em média", mais felizes. Porém, este resultado está ligado à renda, ponto fortemente relacionado à autoavaliação da satisfação na vida. Mesmo assim, de acordo com dados apresentados pelo escritor, hoje, as pessoas são mais felizes do que há 30 anos, quando essa aferição começou a ser realizada. Inclusive, ele apontou que as taxas de suicídio, ao contrário do imaginário popular, diminuíram em 30% nas últimas décadas.
Sobre o amanhã, que dá o nome de sua apresentação, porém, Pinker disse que é difícil de projetar, mas que é possível analisar o curso do progresso na história para imaginar como serão as próximas décadas. E, trazendo a pandemia para a conversa, o canadense ressaltou que, tendo outros exemplos na história, a humanidade deveria estar mais preparada para enfrentar a covid-19, mas, assim como aconteceu com outras doenças emergentes, existe um atraso no progresso, mas que as populações, ao erradicarem as pragas, conseguem se reerguer e compensar essas perdas.
Para Pinker, as mudanças na maneira de se relacionar durante a atual pandemia, evoluindo com o digital, fazem parte do progresso do qual a humanidade já vem caminhando, abdicando do físico em prol do virtual, como a adoção do streaming no lugar da mídia física ou dos bancos eletrônicos substituindo os talões de cheques.
O estudioso ainda abordou a questão da poluição, enfatizando que esta é uma das principais barreiras para o progresso. Segundo ele, é pouco eficaz tentar fazer com que apenas um indivíduo mude os seus hábitos, enquanto o problema é mundial. Para Pinker, o ideal seria que os países passassem a investir em energia limpa, tornando-a mais barata, para evitar mudanças climáticas catastróficas.
O futuro
Em sua palestra, Steven Pinker ainda fez questão de tocar em questões políticas, que fazem parte do progresso da humanidade. E, segundo ele, ao questionar se o populismo autoritário e o nacionalismo estariam no horizonte do mundo, o próprio fez questão de responder em negativa.
— Jair Bolsonaro e Donald Trump são o futuro do planeta? Eles sempre serão atrativos às pessoas. Há algo na natureza humana que busca um chefe forte para liderar a tribo. Mas, ao mesmo tempo, há duas questões contrárias ao nacionalismo e ao populismo: globalização e demografia — apontou.
Pinker destacou que existe um fenômeno que está em curso, a necessidade das nações cooperarem entre si para lidar com questões globais, como a pandemia. Assim, segundo o psicólogo, olhar apenas para dentro de seu país não é mais viável no século 21. Além disso, ele ressaltou, apresentando dados, que as novas gerações não estão mais engajadas em movimentos populistas – o que os enfraquece – e que, provavelmente, no futuro, devem perder ainda mais popularidade.
O Fronteiras do Pensamento é apresentado por Braskem, com patrocínio Unimed Porto Alegre, PUCRS, B3, parceria institucional Pacto Global e promoção do Grupo RBS. Para saber sobre datas, conferências e inscrições, acesse fronteiras.com.
As próximas conferências
29 de setembro: Anne Applebaum
13 de outubro: Niall Ferguson
27 de outubro: Margaret Atwood
10 de novembro: Yuval Noah Harari
24 de novembro: Carl Hart
08 de dezembro: Pavan Sukhdev