Começou, na noite desta quarta-feira (25), o Fronteiras do Pensamento 2021. E, para dar o pontapé inicial no evento, que tem como tema Era da Reconexão, o conferencista escolhido foi o biólogo evolucionário norte-americano Jared Diamond. O autor vencedor do Prêmio Pulitzer conversou sobre a situação atual do mundo, resgatando exemplos do passado para dar um panorama sobre como enfrentar a situação pandêmica e se preparar para o futuro.
Responsável por uma revisão de 13 mil anos da história da humanidade, Diamond, dentro de sua apresentação, que levou o nome de Reconexão no Mundo da Covid, explicou como as doenças emergentes, tal qual o coronavírus, foram responsáveis por destruir civilizações. Segundo ele, foram os micróbios que moldaram a história do mundo, inclusive, definindo quais línguas cada povo fala atualmente.
— No Brasil, por exemplo, quando os espanhóis conquistaram o império Inca e desceram nas encostas dos Andes, descendo no Rio Amazonas, as encostas dos rios eram densamente povoadas por vilas indígenas. Mais tarde, quando os espanhóis foram explorar o rio, essas vilas tinham acabado, provavelmente, não porque os indígenas foram mortos por espadas espanholas, mas, sim, por suas doenças — explicou Diamond.
Para o biólogo, este é apenas um dos exemplos do que as doenças causaram pelo mundo, deixando muitas consequências na história humana. Ele afirma que os germes dos europeus foram responsáveis pela morte de milhões de pessoas ao longo dos séculos e que as doenças causaram o colapso de grandes impérios, o despovoamento de muitas áreas e golpes importantes na economia de diversos países.
De onde surgem novas doenças?
Usando como exemplo a covid-19, que surgiu há menos de dois anos, a Sars, que apareceu em 2002, e a Aids, de 1981, Diamond responde a origem delas: os animas. Para ele, essas pestes surgiram "debaixo dos nossos olhos" nos últimos anos.
— Quase sempre, ou sempre, as doenças humanas chegam a nós a partir das doenças dos animais com os quais entramos em contato. A Sars, por exemplo, chegou a nós por meio de lindos animais asiáticos chamados civetas. Os morcegos infectaram as civetas, que foram para mercados asiáticos de animais e, depois, infectaram asiáticos que eram clientes destes mercados — detalhou, reforçando, também, que a Aids chegou aos humanos por meio de chimpanzés.
Diamond reforça que todas as doenças emergentes, então, chegam às pessoas não por meio de vermes, mas por meio de animais próximos a elas, ou seja, os mamíferos - classe da qual os humanos também fazem parte. E, segundo ele, após a crise da Sars, originária do mercado de animais selvagens do sudeste asiático, estes locais deveriam ter sido fechados para evitar novas epidemias. Isto não aconteceu e, hoje, a covid-19, provavelmente, teve a mesma origem. Assim, segundo o biólogo, outras doenças novas ainda surgirão.
Problema global
Para Jared Diamond, ao contrário da Peste Negra, por exemplo, a covid-19 não vai matar uma alta porcentagem da população mundial, devido ao seu baixo índice de letalidade, uma vez que apenas 2% dos infectados pela doença morrem dela. Então, de acordo com o biólogo, mesmo se todas as pessoas do mundo forem infectadas pelo coronavírus, o número de óbitos será relativamente baixo se comparado com outras doenças, como a Aids ou a Doença da Vaca Louca, que matam 100% dos contagiados, segundo ele.
— Neste sentido, a covid-19 é uma doença relativamente leve e que não vai despovoar o mundo, nem exterminar a maioria da população mundial, mas já apresentou grandes efeitos na economia — ressaltou Diamond.
Na sequência, o autor de Armas, Germes e Aço explicou como acredita que a covid-19 pode mudar a sociedade para melhor nesta era da reconexão que, de acordo com ele, começa agora. Segundo Diamond, a primeira reação das pessoas, provavelmente, é pensar "que ideia obscena e doentia sugerir que a covid pode fazer bem ao mundo", mas, para ele, a doença, pela primeira vez na história do mundo, fez com que as pessoas de todos os lugares reconhecessem que este é um problema global e passaram a trabalhar juntas.
— Isso nunca aconteceu na história da humanidade: um problema que todos tivessem reconhecido e que demandasse de uma solução global. Aviões a jato garantem que nenhum país pode resolver o problema da covid e, enquanto a doença existir, nenhum país do mundo conseguirá se livrar do problema sozinho. Por isso, acredito que a covid-19 pode trazer boas consequências — enfatizou o biólogo.
No entanto, segundo Diamond, a covid-19 sequer é o maior problema global da atualidade. Para ele, outros três grandes males assolam a humanidade, mas, como não matam tão rapidamente como o coronavírus, não conseguem esta união mundial para as suas resoluções. São eles: as mudanças climáticas, a redução de recursos naturais e a desigualdade entre as pessoas.
Segundo ele, estes três problemas também requerem um trabalho mundial e, caso nada seja feito, as consequências serão muito piores que a covid-19, pois, por meio deles, além dos desastres naturais, devido à globalização, haverá a proliferação de novas doenças. Assim, Diamond pede, ao final, para que as pessoas passem a viver de uma maneira mais sustentável para que, no futuro, exista um mundo que valha a pena viver.
O Fronteiras do Pensamento é apresentado por Braskem, com patrocínio Unimed Porto Alegre, PUCRS, B3, parceria institucional Pacto Global e promoção do Grupo RBS. Para saber sobre datas, conferências e inscrições, acesse fronteiras.com.
As próximas conferências
- 8 de setembro: Steven Pinker
- 29 de setembro: Anne Applebaum
- 13 de outubro: Niall Ferguson
- 27 de outubro: Margaret Atwood
- 10 de novembro: Yuval Noah Harari
- 24 de novembro: Carl Hart
- 08 de dezembro: Pavan Sukhdev