Se alguém aparece afirmando vir do futuro, a reação do interlocutor pode variar entre preocupação ou descrença. Na audiossérie de ficção científica Paciente 63, disponível no Spotify desde quinta-feira (22), há um suposto viajante do tempo atendido por uma médica — que, em um primeiro momento, é cética com o caso. Mas e se o que ele estiver falando for verdade? O futuro apresentado não parece inverossímil.
Paciente 63 é uma adaptação brasileira da audiossérie chilena Caso 63, criada por Julio Rojas. São 10 episódios de, no máximo, 20 minutos. Com tradução, adaptação de roteiros e direção de voz de Gustavo Kurlat, a versão tupiniquim recrutou duas vozes conhecidas para protagonizar a atração: o cantor e ator Seu Jorge interpreta o enigmático Pedro Roiter, enquanto Mel Lisboa é a psiquiatra Elisa Amaral.
A trama se passa em 2022, com a pandemia de covid-19 já superada. Pedro é encontrado em uma via pública de São Paulo, desorientado e despido. Atendido por Elisa, ele diz ser natural de Porto Alegre e que veio do ano de 2062. O paciente relata ter crescido solitário entre pandemias. Integra a chamada "geração EP", formada por jovens que viviam grudados nas telas e, costumeiramente, isolados do contato com outros seres humanos.
Pedro procura por Maria Cristina Borges, que seria a paciente zero de uma cepa evoluída chamada Pégaso. No futuro, conforme a trama, esse vírus deve exterminar boa parte da humanidade. Para essa empreitada, Pedro quer contar com a ajuda de Elisa, que é cética. Só acredita nele como paciente.
À medida que a conversa entre os dois se desenvolve, os relatos de Pedro começam a ser cada vez mais reais. O futuro parece perturbador e sombrio. A psiquiatra passa a se questionar internamente: será? Eles realmente podem mudar esse destino? Uma inquietação toma conta da relação entre médica e paciente. A narrativa envereda para o thriller.
Em coletiva de imprensa, Mel contou que ficou mexida com a história de Paciente 63 – "agoniada", como ela descreveu, mas no bom sentido da provocação. A atriz salientou que a trama desafia o ouvinte a olhar ao seu redor e ver o que está acontecendo, além de fazer paralelos.
— Uma das funções da arte é que você seja capaz de desenvolver um questionamento, inclusive do que é muito dolorido — disse. — Pedro estaria voltando para mudar. Faz com o que a gente reflita sobre o hoje, sobre nossas ações e atitudes. Tudo que falamos e reproduzimos terá consequências no futuro. O que poderia ser feito para não estarmos na situação que nos encontramos hoje? Acho boa todas essas provocações.
Recursos
Conhecida por seu trabalho no teatro e no audiovisual, Mel falou na coletiva sobre a experiência em gravar uma audiossérie — também chamada de audiodrama ou podcast de ficção, que remetem às velhas radionovelas. Neste ano, a atriz estrelou a produção gaúcha A Ciência como Ela É — A Saga de Carlota. Para ela, a experiência com ficção em áudio é desafiadora.
— Não tem muitos dos recursos que utilizamos no audiovisual ou no teatro: nossos gestos e expressões e nosso corpo. Nesse caso, há apenas um trabalho com a voz e bastante técnico — explica. — Você precisa fazer com que sua personagem seja crível apenas com a fala. Tem que passar todas as intenções e sentimentos.
Seu Jorge já estava acostumado com o estúdio para gravar músicas e realizar dublagens para o cinema. Mas foi a primeira vez numa audiossérie. Ele afirmou que aprendeu na prática.
— É diferente. Fui entender minhas necessidades de acordo com os desafios de todos os dias, de cada situação. Tratei um episódio por vez. Tive muita ajuda e paciência da Mel e do Gustavo (Kurlat) — destacou o ator e cantor.
Ao ser questionado sobre como reagiria caso visse uma pessoa alegando ser do futuro, Seu Jorge discorreu que não seria cético, dependendo da situação:
— Você não ia acreditar se em 2019 alguém aparecesse dizendo: "Ó, seu filho não irá mais para a escola, não vai rolar avião para o Brasil, vão morrer mais de 500 mil pessoas por uma doença, seu presidente dirá que é tudo bobagem e vai chamar todo mundo de marica". Chegamos a um extremo que daqui a pouco aparece um cara contando absurdos do futuro e vamos pensar: "Será?". Se olhar para o cenário de hoje e alguém afirmar que vai ficar pior, você vai pensar duas vezes. Agora, se alguém disser que vai melhorar, é capaz de você pensar: "Hum, não sei".