Na manhã desta sexta-feira (5), o humorista Rafinha Bastos participou do programa Timeline, da Rádio Gaúcha, para falar sobre a cultura do cancelamento. Em conversa com os apresentadores Kelly Mattos, Luciano Potter e David Coimbra, ele refletiu sobre a preocupação da classe artística com a reação do público.
— O público querer cancelar alguém por algo que foi dito eu acho triste. Mas o que está sendo pouco discutido é o desespero de uma classe artística de tentar adivinhar o que o público quer. É esse que é o grande problema. Os caras perdem autenticidade. Um dos grandes exemplos é o Nego Di (participante do Big Brother Brasil 21), gaúcho, eu não conhecia, que é um menino superquerido por todo mundo que trabalhou com ele, e que hoje está lá cagando regra, tentando entender o que o público de fora está querendo. O cara perde a autenticidade e perde a personalidade na tentativa de adivinhar o que o público pensa, quem é o certo, quem é o errado. As pessoas já não agem com o coração, elas agem tentando agradar um público que é absolutamente incontrolável — opinou.
Em seguida, reforçou que essa atitude não é exclusiva de pessoas famosas.
— Não estou vendo isso só da classe artística. A gente passa diariamente preocupado com o que o outro está pensando. O público, da mesma forma que cancela, cansa do cancelamento. Exatamente esse cansaço abre brechas para que líderes sambem em cima desse movimento politicamente correto. Você tem um público cancelador, e, do outro lado, o que combate o cancelamento. No fundo, se você não age com o coração, da maneira que você acredita, você acaba sendo equivocado. Não tem como adivinhar o que o outro quer enquanto você não faz o que você acredita — afirmou.
Em 2011, Rafinha fez uma piada dizendo que "comeria" Wanessa Camargo e o filho quando a cantora estava grávida. Ela e o marido se incomodaram com fala e chegaram a mover um processo contra o humorista, que foi obrigado a pagar R$ 320 mil de indenização.
— A minha opção sempre foi fazer o que eu acredito. Paguei caro por isso profissionalmente? Paguei. Mas eu tenho um público que hoje olha para mim e pensa: "Acredito nesse cara porque ele sempre fez o que acha que era correto ser feito". Eu sinto que, de alguma forma, eu saí ferido, mas vitorioso desse processo. Para as pessoas verem que eu corri riscos, tive perdas, mas que eu nunca perdi a autenticidade (...) Quando você passa a buscar o que o outro quer de você, você deixa de ser quem você é — disse.
Questionado sobre o que perdeu por ter optado pela autenticidade, o humorista disse que teria sido mais fácil ter pedido desculpas por algo que não acreditava.
— Teria sido muito fácil, em algum momento, eu ter metido o rabo entre as pernas e pedido desculpas por coisas que eu não acredito, para jogar um jogo e lucrar com ele. Eu não fiz isso. Eu já pedi desculpas em diversas oportunidades, mas quando eu senti que tinha me equivocado, e não por pressão de ninguém. Porque a pressão faria com que eu perdesse a minha originalidade e a minha criatividade. Quando o público começa a ditar o que quer de você, você está perdido. Você agrada um, e desagrada outro. Você agrada o outro, e agrada um. Você fica em uma busca eterna — refletiu.
Por fim, comentou novamente sobre as polêmicas do BBB.
— Você vê isso agora nesse Big Brother, esse é o exemplo. Os caras estão tentando adivinhar o que o público quer (...). A mesma pessoa que tenta abraçar as causas é a que condena. Você acaba expondo a hipocrisia daquele que caga regra, porque ninguém é perfeito. O máximo que eu posso fazer é ser autêntico e falar o que eu acredito — concluiu.