O Itaú Cultural anunciou em dezembro os vencedores da 19ª edição do Programa Rumos, uma das mais importante linhas de fomento a projetos culturais do Brasil, abarcando áreas como audiovisual, música, teatro, literatura, artes visuais, dança e HQ, entre outras. A comissão responsável decidir o resultado do edital selecionou 91 trabalhos, entre 11.246 inscritos, para receberem o financiamento.
Dentre os ganhadores, que representam todos os Estados do Brasil estão quatro projetos do Rio Grande do Sul, que tinha 517 propostas na lista. O valor total do investimento é de cerca de R$ 12 milhões e financia propostas possíveis de serem realizadas no cenário de limitações criado pela pandemia de coronavírus. Somados os investimentos nos projetos especiais Arte como Respiro e Palco Virtual, desenvolvidos ao longo de 2020, o Itaú Cultural destinou ao setor aproximadamente R$ 20 milhões.
Dona Ana
O projeto contemplado na categoria de artes visuais visa a publicação de um livro contando a história de Ana Sousa da Silveira Werner, paraense que cumpriu uma longa jornada para reencontrar sua família. Com texto da própria personagem e fotografias de Tiago Coelho, o volume deve ser lançado pelo selo editorial da Austral em agosto de 2021, com tiragem de 500 exemplares.
Ana estabeleceu sua vida no Rio Grande do Sul quando ainda adolescente e trabalhou como babá para os pais de Coelho, em Santo Antônio da Patrulha. Ao sair do Pará, ela perdeu contato com a família e só em 2010, depois de 40 anos sem falar com os parentes, decidiu retornar a sua cidade natal, Japim, na esperança de ver os irmãos.
Coelho acabou se envolvendo na busca e documentou toda a trajetória, lançando o primeiro material no formato de fanzine. O resultado, porém, não agradou Ana, que questionou as páginas em branco. Com uma régua, decidiu traçar linhas nas folhas, escrevendo sua biografia de próprio punho. O orçamento final do projeto está em fase de ajustes.
Memórias de um Esclerosado
Documentário que narra a história do cartunista gaúcho Rafael Corrêa. Selecionado na modalidade audiovisual/cinema, tem previsão de estreia para 2023. O nome do projeto oposta é o mesmo de uma série autobiográfica do artista criada em 2015, após receber o diagnóstico de esclerose múltipla. O longa-metragem é dirigido por Thais Fernandes e tem o roteiro compartilhado com Rafael e Mariana Villa Real.
Nascido em Rosário do Sul, Rafael encarou a grande guinada de sua vida em 2004, aos 28 anos, quando acordou com fadiga e visão dupla. Diagnosticado com uma virose por um oftalmologistas, logo não apresentou mais nenhum sintoma. Em 2009, jogou sua última partida de futebol, quando ficou exausto aos 10 minutos de jogo. Um ano depois, o cansaço atingiu a mão esquerda, que usava para desenhar. Ao procurar um neurologista, foi diagnosticado com esclerose múltipla do tipo progressiva.
Incurável e autoimune, a doença faz com que, a partir de ataques das células de defesa ao sistema nervoso, lesões sejam provocadas no cérebro e coluna, interferindo na coordenação motora, na força dos membros e impedindo a locomoção. O orçamento final do projeto ainda depende de negociações com parceiros.
10 Desertos de Erros
O projeto na área de arte e tecnologia tem orçamento de R$ 76 mil e foi desenvolvido a partir da garimpagem de de mídias obsoletas, como um conjunto de álbuns fotográficos, HDs e outros dispositivos de encontrados em lixeiras ou comprados em galpões de reciclagem de lixo eletrônico.
O material recuperado será organizado em 10 edições, resultando em zine digital, um vídeo curto e duas faixas sonoras. Cada publicação contará com a colaboração de um artista diferente, sob a direção de Leo Caobelli.
A proposta é um desdobramento do trabalho mestrado de Caobelli, apresentado em 2016. A ideia do projeto é discutir e problematizar a obsolescência e o descarte. No calendário de execução, está prevista a assinatura do contrato até março de 2021, com prazo de 12 meses para a realização.
Ubu Tropical
Contemplado na categoria teatro, o projeto da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, coletivo de artes cênicas gaúcho com projeção nacional, parte de uma pesquisa da peça Ubu Rei, do francês Alfred Jarry (1873-1907), e a mescla das ideias do autor com o movimento tropicalista, seguido por seminários sobre o tema.
Em um segundo momento, haveria a apresentação de um espetáculo de teatro de rua. Em decorrência da pandemia, porém, esta parte da proposta foi modificada e agora será produzido um filme. A previsão de estreia é para o segundo semestre de 2021, com orçamento de R$ 140 mil.