Com o decreto do governo do Estado que autoriza a realização de eventos sociais e corporativos, teatros, cinemas e produtoras de grandes espetáculos começam a se articular pensando no reencontro com o público, meio ano após o início da pandemia do coronavírus.
— É um começo — comenta Ricardo Difini Leite, responsável pela rede GNC Cinemas e presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas. — O setor entende que poderia haver uma restrição menor em termos de lotação, porque está estipulada em 30%, pelo menos na bandeira amarela deveria ser 50%. Você vê, São Paulo começou com 60% de capacidade.
O decreto do governo gaúcho, publicado na sexta-feira (9), vale apenas para municípios que estiverem há ao menos duas semanas nas bandeiras laranja ou amarela do distanciamento controlado e que já retomaram atividades em instituições de ensino e escolas municipais de Educação Infantil. Todos os locais só poderão reabrir com autorização das respectivas prefeituras.
Em Porto Alegre, a prefeitura informou que está prevista uma reunião do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus nesta segunda-feira (12). Um dos temas previstos é a possibilidade de liberação de novas atividades. Porém, conforme a assessoria de comunicação do município, não há certeza de que o retorno de cinemas, teatros e eventos será definido neste encontro, já que a cidade tem desenvolvido uma "política própria" em relação a eventuais flexibilizações.
— Temos deliberado sobre as mais diversas atividades levando em conta nossa situação epidemiológica, o risco de cada atividade e o planejamento da prefeitura — diz o secretário-adjunto da Saúde de Porto Alegre, Natan Katz
Esses locais, segundo o decreto, deverão funcionar com o público sentado e obedecendo a regras de distanciamento. No caso dos cinemas, além da capacidade limitada a 30% do espaço, o texto prevê distância de um metro entre as poltronas. Modelo semelhante vale para os teatros, os circos, as casas de shows e de espetáculos: os eventos estão liberados em ambientes abertos ou fechados com o público exclusivamente sentado.
Os administradores desses espaços ouvidos pela reportagem de GZH revelam cautela na reabertura. A rede Cinemark, por exemplo, afirmou que "ainda não tem data de reabertura em Porto Alegre e que, assim que houver uma definição, fará um comunicado oficial". Há otimismo, no entanto, quanto à liberação rápida por parte da prefeitura da Capital, conforme Difini Leite:
— Precisamos no mínimo uma semana de antecedência para organizar todo o cinema. Se a gente conseguir nesta próxima semana a liberação, a gente acredita que até o dia 22 possa ter a maioria dos cinemas funcionado.
Sócio-proprietário da Opinião Produtora, Rodrigo Machado diz que tanto o bar Opinião quanto o Auditório Araújo Vianna e o Pepsi On Stage, administrados pela empresa, vão reabrir em breve, caso haja autorização da prefeitura.
— Precisamos de no mínimo 15 dias para realizar a divulgação de um evento. Temos, por exemplo, um show do Paulo Ricardo agendado para dezembro no Araújo. Se até lá tivermos liberação para realizar os show com 75% do público, há interesse de fazer o show. Estamos em negociação com empresários e artistas, caso a caso — diz Machado.
O empresário cogita remanejar espetáculos para adequar à quantidade de espectadores às exigências do poder público e mesmo pôr cadeiras ou até mesas no Pepsi On Stage:
— Depende da dimensão dos espetáculos, também.
A exigência da manutenção de duas semanas sem bandeira vermelha pode inviabilizar planejamentos de longo prazo, lembra Machado, para quem "trata-se de um risco que faz parte do nosso negócio neste momento". O Porto Alegre Em Cena, cuja edição 2020 tem início previsto para o dia 21, assegura que manterá o plano de apresentar uma programação 100% virtual.
— São vários os fatores que nos impedem de fazer uma programação presencial num momento como esse — explica Fernando Zugno, diretor-geral do Em Cena. — A primeira e já fundamental é que um festival dessas dimensões exige pelo menos de quatro a cinco meses prévios de produção, além de mais tempo ainda para organização de equipe, orçamento e programação que se encaixe nos devidos modelos. Por isso, quando chegamos ao nosso limite de tempo, decidimos fazer um festival virtual independente de possíveis mudanças nos decretos estaduais e municipais. Estudamos e estamos estudando muito para melhor atender aos artistas e ao público no novo formato. Qualquer mudança no formato demanda combinações com a prefeitura, com os financiamentos da Lei de Incentivo à Cultura e da Lei Rouanet, e também combinações com nossos patrocinadores.
De acordo com o governo do Estado, as liberações ocorreram em decorrência da melhora de indicadores utilizados para o cálculo nas bandeiras do modelo de distanciamento controlado. Por meio de sua assessoria de imprensa, o governo que não tem um posicionamento geral sobre a abertura ou não dos teatros e demais espaços que são administrados pelo Estado. Isso porque, segundo o comunicado, a reabertura depende da bandeira dos municípios nos quais esses espaços estão localizados. A decisão, assim, ficará a encargo das gestões de cada local.
Diretor da Fundação Theatro São Pedro, o ex-vice-governador Antônio Hohlfeldt diz que, a partir do decreto, é possível entrar em uma fase "mais objetiva" de discussão:
— Buscar saber se adianta abrirmos o teatro, se haverá espetáculos capazes de sobreviver sem a bilheteria total e se haverá público. Devemos fazer uma retomada gradativa da agenda, provavelmente começando com a parte externa, como a Concha Acústica.