O presidente Jair Bolsonaro já dá como certa a nomeação da atriz Regina Duarte para comandar a Secretaria Especial da Cultura. O órgão, no entanto, não deverá ganhar de volta o status de ministério. Para não desprestigiar a atriz global, a ideia avaliada no Palácio do Planalto é retirar a estrutura federal do Ministério do Turismo.
A equipe de Bolsonaro quer vincular a Cultura diretamente à Presidência da República. Desse modo, Regina Duarte não ficaria subordinada a um ministro.
A atriz ficou de dar a resposta definitiva, no entanto, na quarta-feira (22), quando viajará a Brasília. Segundo um auxiliar presidencial, que tem acompanhado a negociação, a chance dela assumir a estrutura é de 90%.
A ideia do Palácio do Planalto é promover, após a visita de Regina Duarte à secretária especial, uma entrevista à imprensa para anunciar oficialmente a sua entrada no governo.
No fim da tarde desta segunda-feira (20), Bolsonaro comentou a indicação da atriz para a função na portaria do Palácio da Alvorada, onde costuma cumprimentar apoiadores e conceder entrevistas coletivas à imprensa.
— Fiquei noivo da Regina Duarte. Fiquei noivo dela. Tivemos uma conversa bacana — afirmou o presidente.
Em comunicado, o Planalto afirmou que "após conversa produtiva com o presidente Jair Bolsonaro, Regina Duarte estará em Brasília na próxima quarta-feira (22) para conhecer a Secretaria Especial da Cultura do governo federal.
— Estamos noivando — disse a artista após o encontro ocorrido nesta tarde no Rio de Janeiro.
Pela manhã, no Rio de Janeiro, o presidente e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Fernando Ramos, encontraram a atriz para formalizar o convite. A preferência pela atriz foi revelada já na sexta-feira (17) pela coluna Mônica Bergamo. A atriz disse então que analisaria a proposta. Nesta segunda, também à coluna Mônica Bergamo, Regina Duarte disse que aceitaria fazer um teste.
Substituição
A atriz deverá substituir o dramaturgo Roberto Alvim. Ele foi demitido por Bolsonaro após forte reação a um vídeo no qual parafraseou Joseph Goebbels, ministro da propaganda da Alemanha Nazista de Adolf Hitler. Inicialmente, o presidente decidiu mantê-lo no posto, mas recuou após ser pressionado pela classe política e pela comunidade judaica.
Em meio à crise, Bolsonaro cogitou inicialmente recriar o Ministério da Cultura caso Regina Duarte aceitasse o convite. No entanto, segundo assessores palacianos, o presidente foi convencido pelo núcleo político a recuar da possibilidade. A avaliação foi a de que um aumento do número de pastas ministeriais, o que contraria uma promessa de campanha do presidente, teria uma repercussão negativa com potencial de ofuscar a adesão da atriz ao governo.
Nas palavras de um auxiliar, o presidente criaria sem necessidade uma pauta negativa, dando margem para críticas tanto da imprensa como da oposição. Isso, segundo esse interlocutor, prejudicaria a repercussão positiva da decisão da atriz.
A expectativa do Palácio do Planalto é de que, à frente da Cultura, Regina Duarte poderá reduzir a rejeição da maioria da classe artística à atual gestão. Para o governo, isso seria possível porque ela tem amizade com atores e diretores identificados com partidos de esquerda.
Opção
Caso a conversa com a atriz não tiver o desfecho esperado, o entorno do presidente trabalhava como plano B o nome do ator Carlos Vereza, que também já manifestou apoio à atual gestão.
No sábado (18), em uma semana em que enfrentou dois escândalos na gestão federal, o presidente fez um desabafo público e disse não saber como pessoas de bem ficam felizes com um cargo no Poder Executivo.
No evento de mobilização da Aliança pelo Brasil -partido que está fundando-, promovido no Distrito Federal, ele se queixou de decepções e ingratidões e acrescentou que "cascas de banana" têm feito "vítimas fatais" em seu governo.
— Eu sabia que não seria fácil. Sabia do peso sobre as minhas costas eu vencendo a eleição. A cruz é pesada. Eu não sei como pessoas de bem possam ficar felizes com cargo no Poder Executivo. Não sei. A coisa é pesada. Decepções, ingratidões e gente que se revela depois que assume o poder.