No período de uma semana, dois shows previstos para o Auditório Araújo Vianna, na Capital, foram desmarcados: houve o cancelamento do show do Fito Paez– originalmente previsto para 8 de dezembro – e a transferência da apresentação de Lulu Santos para o Gigantinho, na mesma data original, 19 de dezembro. Ambos eram produzidos pela Opus Promoções, que administrou o Araújo Vianna de 2007 até junho deste ano.
O edital de concessão de uso parcial do Araújo Vianna, que incluía também a reforma e a manutenção do Teatro de Câmara Túlio Piva, foi lançado no dia 29 de maio e vencido pela 6 Pro Eventos Empresariais (razão jurídica da Opinião Produtora, que realiza shows nacionais e internacionais e administra a tradicional casa de shows na Cidade Baixa).
Após o cancelamento de Fito Paez e a transferência de Lulu Santos para o Gigantinho, a Opinião divulgou uma nota afirmando que não foi procurada para as modificações de agenda: "A decisão tomada, em ambos os casos, foi de inteira responsabilidade da empresa responsável pelos eventos, sem o nosso envolvimento. Os dois espetáculos, se dependessem unicamente da vontade da Opinião Produtora, seriam mantidos no Auditório Araújo Vianna, da mesma forma que realizamos diversos eventos no local quando ainda estava sob a gestão da antiga cessionária".
Carlos Konrath, presidente da Opus, garante que o show do Fito Paez foi transferido por motivos técnicos, que deve ser realizado em 2020, dependendo da agenda do músico, e que a apresentação de Lulu Santos, já com ingressos esgotados, não poderia abrir uma data extra e necessitava de um espaço maior, por isso a mudança para o Gigantinho:
– Todo mundo estava pedindo mais um show do Lulu Santos, mas ele já tinha agenda. Demos condições para que mais pessoas pudessem ver esse grande nome da música popular brasileira.
Questionado se a Opus ainda pretende realizar shows no Araújo Vianna, Konrath garante:
– Claro, sempre. É um espaço espetacular.
O presidente da Opus ressalta que não há nenhum impasse com a produtora Opinião, embora sublinhe que as duas empresas têm formas diferentes de agir e trabalhar. E reforça que a Opus tem um "carinho gigante" pelo Araújo Vianna, mas não concorda com o modo como o processo legal foi conduzido pelo órgão responsável, a prefeitura de Porto Alegre.
– Desejamos vida longa ao Araújo, que siga sendo uma referência internacional, com qualidade. E com muito investimento, porque para se manter um espaço desse porte precisa de muito investimento, para que o dia a dia não consuma a sua estrutura. Naturalmente, é um espaço que precisa de uma preocupação gigante com suas instalações. Que se tenha zelo com esse empreendimento, que a gente, junto ao Estado do Rio Grande do Sul, recuperou. Não concordamos com a forma como foi feita essa licitação, nos sentimos chateados, emocionalmente abalados. Todos nós passaremos, mas o Araújo ficará. É muito importante sua manutenção e sua preservação em detrimento de qualquer outra circunstância.
As últimas apresentações produzida pela Opus no Araújo Vianna foram os show de Toquinho, Ivan Lins e MPB-4, no dia 29 de novembro, e de Larissa Manoela, no dia 30. Segundo Rodrigo Machado, sócio-diretor na Opinião Produtora, a empresa propôs à Opus o mesmo tipo de contrato que lhe era ofertado pela antiga administradora.
– O que eles divulgaram para os adiamentos é uma desculpa. Até os shows de novembro, a Opus fez no Araújo Vianna porque eles pagaram direto para a prefeitura. Em dezembro eles já teriam que negociar conosco. Foi uma birrinha, assim, quase uma infantilidade:
"Se tem que pagar para o Opinião, a gente não vai fazer". Foi exatamente isso. Não teve problema técnico nenhum. Tanto para o Fito Paez quanto para o Lulu – diz Machado.
De acordo com Machado, a Opus não procurou a Opinião para renegociar. Sem entrar em detalhes, diz também que o processo da transferência de administração do Araújo da Opus para o Opinião "não está sendo fácil". No entanto, assegura que a Opinião está disposta a receber no espaço, em 2020, apresentações produzidas pela Opus ou qualquer outra empresa.
O presidente da Opus reforça que não há impasse com a Opinião, que o questionamento feito tem relação com o edital e com a prefeitura e que a Opus fez um investimento muito além do previsto no edital de 2007, cerca de três vezes maior.
– O edital de 2007 não tratava de diversos pontos específicos, que, sem eles, o Araújo não seria o que é. A Opus não tem um balanço positivo, mas não deve para fora, deve para os seus acionistas. Nós oferecemos fiança bancária, que é muito mais saudável do que um balanço, mas não foi aceito. Isso não é justo – protesta Konrath.
Na concorrência pública da prefeitura para a gestão do espaço cultural nos próximos 10 anos, a empresa foi inabilitada para o processo por desatender a requisito relativo à qualificação econômico-financeira. A assessoria jurídica da empresa afirma que se trata de prejuízo referente à diferença entre o investimento previsto em 2007 para a reforma e reabertura do espaço (R$ 6,5 milhões) e o que foi de fato executado (R$ 20,1 milhões).
— A Opus está sendo punida por ter reformado o Auditório Araújo Vianna — disse o advogado Rafael Maffini a GaúchaZH na ocasião.