O governo de Jair Bolsonaro tem uma nova secretária do Audiovisual: Katiane de Fátima Gouvêa, membro da Cúpula Conservadora das Américas (CPAC), que teve sua primeira conferência em dezembro de 2018, ciceroneada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Ela teve sua nomeação publicada na quarta-feira (27), no Diário Oficial da União. Katiane substitui Ricardo Rihan, que ficou durante quatro meses no cargo.
À frente da Secretaria de Cultura desde o dia 7, Roberto Alvim não é afeito a Rihan. A antipatia foi exposta a aliados. O agora ex-responsável pelo Audiovisual é próximo de Sérgio Sá Leitão, ministro da Cultura (pasta hoje extinta) no governo Michel Temer, e de Christian Castro, ex-presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine).
Katiane se candidatou a deputada federal no ano passado, pelo PSD, sob a alcunha Katiane da Seda. Com 960 votos, não se elegeu. Ela não é conhecida por trabalhos no meio cultural, mas arriscou uns pitacos na área nos últimos meses.
Seu nome é associado a um documento que, meses atrás, fez o presidente cogitar extinguir a Ancine. Bolsonaro recebeu um relatório de projetos aprovados pela agência que considerou absurdos, como Born to Fashion, um reality que se propõe a revelar modelos trans. Endossado por Katiane e colegas conservadores, o texto entregue ao governo também escracha a autorização para captar recursos para uma nova temporada de série sobre a ex-prostituta Bruna Surfistinha.
A nova titular integrou uma comitiva de conservadores que conseguiu emplacar ao menos duas reuniões com membros do governo em Brasília. Em junho, esteve com o ministro Osmar Terra (Cidadania), que à época chefiava a área cultural após a extinção do Ministério da Cultura (hoje é a pasta de Turismo que a supervisiona).
Sua participação ganhou destaque em reportagem institucional sobre o encontro. "Gouvêa salientou o papel da Secretaria Especial da Cultura para o desenvolvimento do país e o resgate de bons costumes e da valorização do belo e da arte clássica", dizia o texto.
Em outubro, ela cobrou que a Secretária Especial de Cultura buscasse um relacionamento "mais sincero" com grupos direitistas, em artigo publicado no site conservador Conexão Política: "Os movimentos de direita possuem uma vasta gama de pessoas técnicas que prezam e respeitam a arte e cultura pois reconhecem o seu potencial na formação dos valores cívicos de uma sociedade. É chegada a hora de uma nova política pública de cultura."
Outro nome escutado nos corredores, e agora carta fora do baralho para a função, foi o da produtora cultural Verônica Brendler, diretora do Festival Internacional de Cinema Cristão (FICC ). Já cogitado para a Secretaria Especial de Cultural, o deputado Marcos Soares (DEM-RJ), filho do missionário R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, também tinha voltado à bolsa de apostas para comandar o Audiovisual.
Todos os três eram vistos como nomes capazes de imprimir uma pegada conservadora à área, uma demanda de Jair Bolsonaro. Em agosto, o presidente disse o que seria, a seu ver, um perfil ideal para chefiar a Ancine, fiscalizada pela Secretaria do Audiovisual: um evangélico apto a recitar de cor "200 versículos bíblicos", que tivesse os joelhos machucados de tanto ajoelhar e que andasse com a Bíblia debaixo do braço.