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Fazer "Doutor Sono" foi como ter uma úlcera sangrando, diz diretor

Mike Flanagan encarou uma missão pessoal ao adaptar a sequência de "O Iluminado" para os cinemas

Folhapress

Rodrigo Salem

Warner / Divulgação
Ewan McGregor interpreta versão adula de Danny Torrance, filho do protagonista de "O Iluminado"

O Iluminado, longa de Stanley Kubrick lançado em 1980, é considerado um dos melhores e mais influentes filmes de todos os tempos. Mas a obra nunca conquistou um fã especial: Stephen King. O escritor do livro original costumava dizer que a obra não passava de um "Cadillac sem motor, algo com o qual você não pode fazer nada, a não ser admirá-lo como uma escultura", entre outros comentários nada agradáveis.

Em 2013, ao escrever a sequência Doutor Sono, King fez questão de ambientar os dramas do agora adulto Danny Torrance, filho do protagonista de O Iluminado, num mundo no qual o hotel Overlook, cenário principal de  Stanley Kubrick, está destruído e nunca recuperado. A mensagem era óbvia.

Quando Mike Flanagan, de A Maldição da Residência Hill, foi convidado para adaptar Doutor Sono para os cinemas, o diretor tinha uma missão pessoal. 

— King é a razão de ter me tornado um contador de histórias. Ao mesmo tempo, quis fazer filmes de terror por causa de O Iluminado. Meu desejo era reconciliar esses dois lados de um jeito que não fosse vergonhoso — diz Flanagan. — Foi uma pressão enorme, como uma úlcera sangrando por dois anos seguidos — acrescenta.

A sequência, que estreia agora no Brasil, consegue reverenciar os dois lados da mesma moeda. O coração da trama é ainda composto por Danny, vivido por Ewan McGregor, um alcoólatra em recuperação, mas atormentado pelo passado, e sua jornada com Abra, papel de Kyliegh Curran, menina que também tem um dom paranormal. 

— Era preciso proteger os personagens de King, motivo do seu descontentamento com o filme de Kubrick. Mas o livro mostra como os eventos de O Iluminado afetam Danny como adulto. Ao focar os dois personagens, os elementos do longa de Kubrick se tornam mais palatáveis — comenta Flanagan.

Mas ainda havia a questão do hotel Overlook. O cineasta conta que não existiria uma maneira de filmar Doutor Sono sem "abraçar a conquista cinematográfica de Kubrick", que deixou o prédio de pé no longa - no livro, o hotel é destruído pelas chamas com Jack, vivido por Jack Nicholson, dentro.

Conseguir convencer King a reviver seus traumas como autor de O Iluminado exigiu suor. Flanagan mostrou o roteiro antecipadamente ao escritor - os dois trabalharam juntos em Jogo Perigoso, há dois anos -, relatou como usaria o Overlook só no terceiro ato e explicou que as imagens do hotel estavam "cravadas nas memórias de todos" para promover a "ressurreição" do Overlook nos cinemas. "Tudo bem. Vá em frente", disse o autor.   

A ligação de Doutor Sono com o filme O Iluminado só fica realmente forte quando Danny e Abra encontram a vilã da atriz Rebecca Ferguson, uma espécie de criatura quase imortal que se alimenta de "brilho". 

— Sabíamos que a semelhança cinemática ao filme de Kubrick seria um assunto delicado. O truque foi falar como seríamos reverentes ao livro e a mitologia permaneceria intocada. Se ele não nos apoiasse, não faríamos o filme — lembra Flanagan. 

O diretor viajou ao estado americano do Maine para mostrar a obra final a King. O escritor, mantendo a tradição, já foi a público expressar sua opinião. Mas, desta vez, ela foi diferente. 

— Mike conseguiu pegar meu livro e costurar sem falhas com a versão de Kubrick para O Iluminado. Sim, gostei muito. Tudo o que um dia não gostei no filme de Kubrick está redimido para mim neste momento — disse o autor à revista Entertainment Weekly, para alívio de Flanagan. 

— King não se mete as filmagens, mas é bem claro quando não gosta — lembra o cineasta. — Ele amou o longa, mesmo com as referências a Kubrick. E o espólio de Kubrick também adorou. Então, estou me sentindo muito bem.


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