Acompanhando a complexa vida de um dos nomes mais importantes da história da música do continente africano, o documentário Meu Amigo Fela entra em cartaz nesta quinta-feira (7) em Porto Alegre — no CineBancários, às 15h, e no Espaço Itaú 8, às 19h40min.
Com direção de Joel Zito Araújo, de produções que jogam luz no protagonismo negro — como A Negação do Brasil (2000) e As Filhas do Vento (2004) —, o longa tem como fio condutor o jornalista cubano Carlos Moore, amigo e biógrafo de Fela Kuti (1938-1997), que desvenda o homenageado com seu olhar e conversas com pessoas próximas do músico nigeriano.
Cantando, tocando diferentes instrumentos (saxofone e teclado, entre outros) e dançando incansavelmente, Fela Kuti foi o pioneiro do afrobeat — ritmo que mescla jazz, soul e funk com percussões africanas e sonoridades dos povos iorubás. Mas não parava por aí: também foi um ativista político, o que se refletia em suas canções, e lutava por uma África livre, batendo de frente com a ditadura de seu país. Ele morreu em 1997, aos 58 anos, em consequência da aids.
O projeto surgiu de um encontro de Zito com Moore, que viveu no Brasil de 2001 até o ano passado. Segundo o diretor, o biógrafo o considerou a pessoa mais indicada para realizar um documentário sobre Fela. Isso foi em 2006. No entanto, a captação de recursos e a negociação dos direitos de imagens foram obstáculos que Zito enfrentou na produção do longa.
Além das conversas de Moore com familiares e amigos de Fela, o documentário recupera imagens de arquivo de apresentações e entrevistas do músico. Esse olhar mais íntimo é um diferencial do documentário em relação às outras produções que narram a trajetória do músico. Outro ponto importante para Zito é que o filme não fosse chapa branca ou celebrativo.
— Gosto de histórias humanas. O ser humano é um ser que tem luz e sombras dentro dele. Também quis mergulhar no lado sombrio de Fela — ressalta em entrevista a GaúchaZH.
Casado com 27 esposas, costume aceito na Nigéria, Fela sofreu com a repressão violenta do governo nigeriano, sendo espancado em mais de uma ocasião. E também reproduziu aquilo que sofreu, contradizendo o que pregava no palco e o que fazia fora dos holofotes.
No entanto, Zito atesta que o músico nigeriano foi um rebelde que discutiu a “colonização mental em que vive o terceiro mundo”. Para o cineasta, Fela seguirá contemporâneo, tanto por suas ideias quanto pela música:
— A busca dele continua muito moderna. Você ouve suas músicas e não parecem datadas, ainda soam vibrantes. Ele criou um tipo de música que é um clássico: você vai gostar eternamente. Viveu e comentou suas músicas em um contexto parecido com que a gente vive: uma sociedade corrupta, com forças armadas desconectadas do pobre. De certa forma, a sociedade nigeriana que ele discute e critica não é muito diferente da brasileira.