O ministro da Cidadania, Osmar Terra, comentou em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta sexta-feira (8), os motivos que levaram a Secretaria Especial da Cultura a ser transferida para o Ministério do Turismo. Antes, a subpasta estava vinculada à Cidadania.
Terra ressaltou que a Cultura o estava sobrecarregando e que, além dela, há 19 secretarias vinculadas à Cidadania.
– Esse ministério é gigantesco, maior que o do Paulo Guedes. Uma área específica que é a cultura estava me consumindo um tempo gigantesco para organizar – justificou.
De acordo com Terra, a subpasta da Cultura tem 18 mil prestações de contas atrasadas das leis de incentivo e que seria necessário um exército para colocá-las em dia. O ministro afirmou que a troca de pasta ocorre por motivos operacionais, que se iniciaram com um pedido seu.
– Talvez a que tenha a menor estrutura entre os ministérios que se fundiram, mas é o que exige mais tempo da gente. Pedi ao presidente (Jair Bolsonaro): vamos ver se tem outro. Tem o Turismo. A troca foi um pedido meu – sublinhou.
Segundo Terra, o presidente quer cuidar de perto a cultura, nomeando toda a equipe, caso do novo secretário, o dramaturgo Roberto Alvim.
— Acho que o Alvim até exagerou em pronunciamentos, mas tem uma história, é um famoso diretor de teatro. Dirigiu peças de Chico Buarque, da esquerda. Veio para direita agora — destacou — Tem uma história de vida. Não é um raio num céu azul. Temos que dar um crédito para ele fazer as coisas que tem que fazer — completou.
Os pronunciamentos de Alvim a que Terra se refere foram as críticas que o novo secretário da cultura fez à atriz Fernanda Montenegro, na esteira da publicação de uma série de reportagens sobre a atriz em razão do lançamento de sua autobiografia, Prólogo, Ato, Epílogo. Na ocasião, ele disse sentir "desprezo" por Fernanda e ainda a acusou de "mentirosa". As críticas foram motivadas pela recente capa da revista Quatro Cinco Um, que colocou a atriz vestida de bruxa em uma fogueira de livros.
— Sou a favor de debater, mas não sou a favor de ofender uma pessoa. Acho que ali houve um certo exagero do Alvim. Mas isso não tira o mérito dele, que ele tem para contribuir na parte cultural — minimizou Terra.
Pauta conservadora
Segundo o ministro da Cidadania, o desejo de Bolsonaro para a Cultura é que a pauta conservadora avance na pasta.
— Que se prestigiem os artistas conservadores que foram marginalizados nessas décadas todas — disse Terra.
O ministro comentou também sobre a suspensão que ocorreu em agosto do edital para a seleção de produções audiovisuais para a televisão. O processo, que prevê a categoria "diversidade de gênero" para documentários televisivos, foi criticado pelo presidente, que atacou produções de temática LGBT+ que participam da seleção. A portaria foi editada pela pasta da Cidadania. Para Terra, não houve censura nesse caso:
— Não existe censura no Brasil. Só quero saber se o dinheiro está sendo aplicado direto, de acordo com o interesse da sociedade. Não de acordo com interesse de um grupo, que quer impor uma pauta. Isso que pode ser censura: um grupo que não representa a sociedade querer impor uma pauta para as leis de incentivo — justificou.
O ministro prosseguiu:
– Suspendi um edital de R$ 70 milhões, que vinha desde 2018 andando, para filmes e séries para TV pública. Isso não é censura, não é proibir de passar na TV ou no cinema. Tem que se discutir qual é a pauta que será financiada pelo dinheiro público. Acho que o filme para passar em TV Pública tem que ser educativo, contar histórias, "ver" os heróis de um país, para crianças. A pauta que estava predominando era sexualidade e gênero. Era comparando o sexo grupal dos índios com o sexo grupal dos brancos. Tudo bem, acho que isso pode passar em qualquer lugar. Agora, usar dinheiro público para deixar de fazer um filme histórico ou educativo, contar história dos heróis do Brasil, para fazer produção sobre sexualidade e gênero. Um governo que foi eleito com uma pauta conservadora tem o diretor de fazer valer essa pauta com dinheiro público.
O ministro concluiu:
— O dinheiro público tem que obedecer uma pauta que seja da maioria da sociedade.
Terra também comentou sobre a demissão de Henrique Pires, que deixou o comando da subpasta em agosto.
– Tive problemas com o secretário que indiquei (Henrique Pires) e tive que tirá-lo. Estava me consumindo na gestão. Ele não estava fazendo muita coisa. Foi um pedido que fiz para o secretário (deixar o cargo), ele não se demitiu. Foi convidado a sair. Ofereci até outra função para ele. Tudo isso desgasta – disse o ministro.
Maconha
Na entrevista, Terra também falou sobre questões relacionadas ao canabidiol (uma das 113 substâncias químicas canabinoides encontradas na Cannabis sativa) e a legalização da maconha. Para o ministro, há um lobby para a liberação do uso da planta cujo "interesse é dinheiro".
Ouça a entrevista com Osmar Terra no Timeline: